Inflação afeta confiança do consumidor, indica FGV

As avaliações sobre a situação econômica e as expectativas quanto aos rumos da inflação e do mercado de trabalho derrubaram a confiança do consumidor pelo terceiro mês consecutivo e reforçam as perspectivas de demanda mais fraca. Em fevereiro, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) caiu 1,7% na comparação com janeiro, para 107,1 pontos, o menor nível desde maio de 2009 (103,6 pontos).

“Não houve nenhuma reação. Isso aponta para uma desaceleração do lado da demanda do consumidor, e não há expectativas de que isso vá mudar no curto prazo”, avaliou a economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), Viviane Seda, coordenadora da pesquisa.

Neste mês, a queda mais intensa da confiança (-7,1%) foi entre os consumidores da faixa de renda 1 (até R$ 2,1 mil mensais). “Eles demoram um pouco mais para perceber a economia real, mas o consumidor está de fato sentindo um pouco mais a inflação, o aperto (dos juros), está se tornando mais endividado. Ele também está retraindo a compra de bens duráveis”, explicou Viviane.

“Eles fazem uma avaliação econômica provavelmente baseada no salário mínimo, que teve um reajuste menor. A situação financeira também está piorando para eles, com juros maiores, menos crédito e maior dificuldade para quitar dívidas. É uma opinião muito mais influenciada pelo seu cotidiano”, acrescentou.

Apesar disso, os consumidores de renda mais alta (acima de R$ 9,6 mil mensais) são os que mantêm a menor confiança entre todas as classes, e também estão mais distantes da média histórica dos últimos cinco anos. “Eles são influenciados por outros fatores, como queda dos valores dos ativos (na Bolsa de Valores) e possibilidade de piora do rating soberano do País”, justificou Viviane.

São também os consumidores mais abastados que sustentam a visão mais pessimista em relação ao mercado de trabalho no futuro. “Esses consumidores não preveem aumento de emprego para uma escolaridade mais alta”, disse a economista.

Manifestações

O índice que mede a avaliação dos consumidores sobre a situação atual da economia caiu 5,5% em fevereiro, depois de recuar 4% em janeiro, sendo um dos principais impactos de baixa no ICC. Aos 74,2 pontos, essa variável atingiu o menor patamar desde julho de 2013 (68,5 pontos), quando diversas sondagens mostraram a confiança afundando na esteira das manifestações populares que tomaram várias cidades no País.

“Em julho, havia muitas questões mexendo com a cabeça dos consumidores, parecia muito mais uma percepção do que (piora nos) fundamentos econômicos. Aí agora vem a questão: é só percepção ou o consumidor realmente acha que os fundamentos estão piorando?”, questionou Viviane.

As expectativas em relação à economia se posicionaram num nível ainda pior. Com queda de 3,8% em relação a janeiro, a confiança nesse quesito ficou em 99,5 pontos, o menor patamar desde março de 2009 (95,9 pontos).

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