A desvalorização do dólar frente ao real, o excesso de tributos e a concorrência chinesa são alguns dos problemas que vêm afetando o setor têxtil brasileiro e provocando demissões. Na tentativa de sensibilizar o governo e chamar a atenção da sociedade, o setor realiza hoje o ?Dia de Mobilização?, com a previsão de passeatas e paralisação de empresas. No Paraná, estão previstas apenas manifestações através da mídia.
?Não queremos regalias, mas um tratamento mais justo?, afirmou Wilson Becker, coordenador do Conselho Temático do Vestuário do Paraná – vinculado à Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep). Segundo Becker, na região de Cianorte e Maringá – um dos maiores pólos do vestuário do País – há cerca de 1,7 mil indústrias. Só em Cianorte, o setor emprega aproximadamente 25 mil pessoas de forma direta. ?Eu mesmo estou com 145 funcionários, mas já cheguei a empregar 198 há quatro anos?, contou Becker, que fabrica trajes femininos na linha de esporte-fino em Cianorte.
Para o empresário, entre os maiores problemas enfrentados hoje pelo setor estão o excesso de tributos sobre o emprego e o dólar desvalorizado. ?Vínhamos de um crescente de exportação, mas agora estamos perdendo terreno?, lamentou. Outro obstáculo é a concorrência acirrada, especialmente chinesa. ?O Brasil precisa rever uma série de acordos internacionais. É preciso ter um controle maior nas alfândegas, para impedir a entrada de mercadorias subfaturadas.?
O empresário Adílson Filipaki, presidente do Sindicato da Indústria de Fiação e Tecelagem do Paraná, também está preocupado. ?Nos últimos seis anos, nossa média de vendas era de 12 mil peças por estação (cerca de 24 mil por ano). No ano passado, o volume caiu 50% e este ano, 70%?, revelou, referindo-se à sua pequena fábrica de malhas em Curitiba. ?Estamos buscando alternativas, como a venda com pronta-entrega?, comentou.
Para Filipaki, a crise do setor está relacionada tanto à economia brasileira fraca como à concorrência chinesa. ?O brasileiro está perdendo o poder aquisitivo, está endividado. Ao mesmo tempo, o governo poderia aumentar os impostos sobre importação e não o faz?, criticou.
Conforme dados divulgados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos, regional Paraná (Dieese-PR), o setor têxtil vem de fato sentindo os efeitos crise. Entre agosto de 2005 e julho último, 1.219 novas vagas foram abertas – número bem inferior à média de anos anteriores. ?Nos 12 meses anteriores – ou seja, entre agosto de 2004 e julho de 2005 – o saldo havia sido de 5.010 vagas?, apontou Cid Cordeiro, supervisor técnico do Dieese-PR. Segundo o economista, o câmbio – que tirou a oportunidade de exportação e facilitou as importações – é um dos principais fatores que vem prejudicando a atividade.
Dados nacionais
Dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) mostram que o setor têxtil e de confecção investiu US$ 10 bilhões nos últimos dez anos e gera, atualmente, cerca de 1,6 milhão de empregos. Conforme a entidade, é o setor que menos inflacionou a economia em 12 anos e em 2006 voltará a ser deficitário, depois de cinco anos de superávit. Esse quadro, explica o Manifesto da Abit, é decorrente de carga tributária asfixiante, câmbio sobrevalorizado, legislação trabalhista ultrapassada; importações ilegais e os maiores juros do mundo.
Dados da Abit indicam ainda que o setor têxtil e de confecção registrou no mês de julho de 2006 seu maior déficit na balança comercial dos últimos 72 meses: US$ 49 milhões. Este déficit é resultado de uma queda de 5% das exportações e aumento de 70,5% das importações neste mês de julho, comparado com o mesmo mês do ano passado. Nos primeiros sete meses do ano, o setor apresentou saldo negativo de US$ 50,8 milhões, invertendo a balança comercial que no mesmo período de 2005 apresentou saldo positivo de US$ 255,4 milhões.