Indústria preocupada com produtos de menor valor

Rio

 – De olho no ganho de poder aquisitivo das classes de renda mais baixa no futuro governo Lula, empresas de diferentes setores da indústria e também do comércio preparam novos produtos e mudam a estratégia de marketing para atrair essa parcela da população. Segundo o instituto de pesquisa Target, essas classes, que ganham de dois a dez salários mínimos, representam 40,7% do consumo do País e somam mais de 30 milhões de domicílios.

Otimista com o próximo governo, a indústria de alimentos Brasfrigo, com sede em São Paulo e fábrica em Goiás, projeta um faturamento de R$ 270 milhões em 2003, contra R$ 190 milhões deste ano. É um crescimento de 42%. Empresa do Banco BMG, foi criada em 1994 no “boom” do Plano Real, com a produção de conservas de legumes e molhos de tomate. A empresa está investindo na expansão da capacidade de produção, de olho no aumento do consumo de seu público-alvo:

? Estamos concluindo mais uma fábrica no Centro-Oeste e vamos investir em outra unidade fabril para entrar no mercado de maionese. Não somos uma empresa talibã, daquelas que criam produtos para as classes C e D sem a preocupação com a qualidade e a boa apresentação dos itens ? disse Júlio Grau, gerente de produtos da Brasfrigo.

Os produtos da marca custam, em média, R$ 1. A Brasfrigo pretende participar dos projetos da área social e de combate à fome do governo Lula.

A indústria de cosméticos Niely, também voltada para o mesmo público, espera que o faturamento aumente 15% no ano que vem. Com o novo governo, Daniel de Jesus, proprietário da fábrica que produz mais de 300 itens para tratamento de cabelos, espera aumentar sua fatia nesse mercado. Seus produtos custam até 40% menos que os das marcas líderes:

? Com a eleição do Lula, acredito que nosso faturamento aumente mais ainda. E vamos investir nos lançamentos para ganhar mercado ? afirma.

A rede de supermercados Sendas já mudou a estrutura de suas lojas. Após um estudo do perfil de seus consumidores, resolveu dividir as 87 lojas em áreas, de acordo com a classe social. Deste total, 27 estão agora voltadas para as classes C e D, com produtos mais baratos. Segundo Nelson Sendas, vice-presidente da rede, o objetivo é conhecer melhor o cliente para aumentar as vendas:

? Nas lojas de Queimados e do Rio Comprido, que já funcionam assim há dois meses, as vendas aumentaram 20%.

A Leader Magazine, rede de lojas de vestuário voltada para as classes C e D, também está otimista com os efeitos das ações do governo Lula no nível de consumo de classes mais baixas.

? Em outubro e novembro já tivemos um bom desempenho nas vendas apenas com o clima de otimismo criado com a eleição de Lula para a Presidência ? diz Carlos Alberto Correa, superintendente da Leader Magazine.

A aposentada Áurea Ferreira espera que os R$ 700 que recebe por mês não fiquem apenas para o pagamento das contas e das compras essenciais:

? Mas tudo dependerá de como o próximo governo vai combater a inflação. Só assim a população vai poder consumir mais.

Redes de “fast-food” também correm atrás dos consumidores das classes C e D. O McDonald?s, por exemplo, vem reduzindo os preços de seus sanduíches. Pela terceira vez no ano, o McDonald?s Brasil está reduzindo seus preços, numa estratégia que começou em maio. Em 18 de novembro, os preços dos sanduíches McChicken e Quarteirão com Queijo caíram 31,26%.

? Com essa política, as vendas já cresceram 7% entre as classes C e D ? garante Tânia Kulb, diretora de marketing do McDonald?s Brasil.

Apesar de ainda ter sua parcela de consumo maior que em 1995, as classes C e D perderam participação de 1998 até hoje, de acordo com a Target. A classe C, com renda entre quatro e dez salários mínimos, que naquele ano respondia por 27% do consumo, passou para 25% em 2002.

Não foi diferente com as classes D e E, onde o fenômeno se repetiu. Em 1998, quando a renda do trabalhador começou a cair, essas faixas de renda, que estão em mais de 18 milhões de domicílios, ainda detinham 18,2% do consumo total do País. Este ano, essa parcela caiu para 15,7%, mas ainda está acima de 1995, quando atingia apenas 11,8%.

Dados do Ibope Mídia, da pesquisa Target Group Index, que entrevista anualmente mais de dez mil pessoas sobre seus hábitos de consumo, observou mudanças nas classes D e E (de dois a quatro salários mínimos). O computador, por exemplo, que em 99 estava presente em 0,57% dos domicílios, hoje aparece em 2,04%. O percentual é pequeno, mas o crescimento é bastante expressivo: 258%.

Já os produtos isotônicos ? que em 99 eram consumidos apenas por 4,38% da população dessas faixas de renda ? agora fazem parte das compras de 10,3% dessa parcela da população.

A posse de cartão de crédito, então, disparou. Em 99, apenas 5% dessa camada contavam com esse acesso ao crédito. Hoje, já está na carteira de 23,4% das classes D e E.

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