Indústria pode ter 3º trimestre pior, avalia FGV

O resultado da sondagem da indústria de setembro mostra que de fato pode-se esperar uma desaceleração do setor no terceiro trimestre do ano, avalia o superintendente adjunto de ciclos econômicos do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), Aloísio Campelo.

“É um sinal de que não só a confiança diminui, mas também de um terceiro trimestre com desaceleração mais forte da indústria, possivelmente até com queda em relação ao anterior”, comentou Campelo, citando a estabilidade do nível de utilização da capacidade (Nuci), que variou de 84,4% para 84,2% de julho para agosto e em setembro repetiu este número. O pico do Nuci no ano foi atingido em maio (84,6%). “As manifestações, talvez por trazerem incerteza, jogaram a confiança para baixo principalmente em julho. Em agosto, outros setores recuperaram, mas a indústria não”, aponta o economista.

De acordo com ele, a sondagem corrobora uma mudança de expectativas sobre o terceiro trimestre, na comparação com o segundo. O Índice de Confiança da Indústria, apurado na sondagem, caiu 1% do mês passado para setembro e atingiu o menor nível desde julho de 2009, ao chegar a 98 pontos, abaixo da média histórica dos últimos 60 meses (103,4 pontos). A queda na confiança foi bastante difundida entre os setores: dentre os 14 analisados, 8 estão com a confiança em queda, 3 estão estáveis e 3, em alta. Em junho, encerramento do segundo semestre, havia seis setores em alta e sete em queda.

Na comparação de setembro sobre junho, o índice de confiança indústria de transformação registrou queda de 5,6%. Outro quesito que aponta para a desaceleração no terceiro trimestre é o indicador de produção prevista, que caiu 1,4%, para 121 pontos. No final do ano passado, este índice chegou a quase 135 pontos. “Não diria que esse indicador mostre que o quarto trimestre vai ser ruim, mas está confirmando o resultado fraco do terceiro trimestre”, disse Campelo.

“É importante frisar que a diminuição da confiança do grau dos empresários na economia tem sido mais forte do que a diminuição da produção”, comentou Campelo. Segundo ele, entre os fatores que podem estar influenciando este deslocamento estão, entre outros pontos, a lucratividade e a preocupação com a competitividade. Ele aponta também que a produção pode estar sujeita a maior volatilidade, o que não acontece com os investimentos, que seguem a avaliação dos empresários sobre a situação futura. “A produção tem suas guinadas, estimulada por políticas econômicas, mas a contratação e o investimento não”, disse o economista.

Investimentos

“Aquela recuperação que vinha forte em investimentos está começando a mudar”, afirmou. Campelo explicou que o segmento de bens de capital “vinha bem” até o meio do ano, mas em julho a confiança caiu e apenas em setembro se acomodou. No mês, o ICI avançou 1,2% sobre agosto em bens de capital. Na comparação entre setembro (mês que encerra o terceiro trimestre) e junho (mês que encerrou o segundo trimestre), contudo, o setor registrou queda de 9,4% no índice de confiança.

O indicador de situação futura dos negócios, a variável que, segundo Campelo, tem maior relação com as decisões de investimento, recuou em setembro para 134,4 pontos, abaixo da média histórica de 138,2 pontos. A queda de agosto para setembro foi de 0,6%, depois da queda de 0,1% de julho para agosto. A proporção de empresas que esperavam melhora na situação dos negócios em seis meses, que chegou a 56,7% em fevereiro, chegou em setembro a 42,3%. Em maio, a porcentagem ainda era de 53,3%. “O período de expansão foi muito bem-vindo. Agora esse terceiro trimestre está confirmando uma virada. Estaria sinalizando um menor ímpeto de investimentos”, disse Campelo.

Bens de capital

A confiança só está pior do que em bens de capital no setor de bens duráveis. Na variação mensal a queda foi de 6,6% e na comparação de setembro com junho, de 19,7%. “Os duráveis estão voláteis pelas mudanças de política”, disse Campelo, em referência ao IPI. A piora na confiança, segundo ele, vem sendo puxada pelo setor automobilístico. “É possível que seja relativizado pelo programa Minha Casa Melhor, mas a indústria ainda não sentiu esse impacto”, disse. Ele explica que a situação do segmento de duráveis “tem relação com o aumento de juros e com o acúmulo de estoques em razão de antecipação de vendas”.

De acordo com ele, há elevação dos estoques tanto no segmento de duráveis como no de bens de capital no terceiro trimestre, o que deixa os setores mais sensíveis à questão da mão de obra. “A indústria reteve mão de obra quando a situação não estava favorável. Mesmo na fase em que estava recuperando, não contratou. A tendência até é de desmobilização da mão de obra se não se confirmar uma retomada”, explicou. O quesito de emprego previsto caiu 2,3% em setembro ante agosto, uma piora “acima da média dos outros indicadores”, segundo Campelo.

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