Indústria paranaense pronta para novo impulso

O presidente da Federação das Indústrias do Paraná, Rodrigo da Rocha Loures, tem uma meta ousada: quer dobrar o número de empregos ofertados pela indústria paranaense, que hoje gera 500 mil postos de trabalho. Loures acredita ser possível atingir a marca de 1 milhão de empregos industriais em quatro anos.

À frente da maior entidade empresarial paranaense desde 2003, ele defende a implantação de uma política industrial e de desenvolvimento tecnológico para o Estado. Em campanha para reeleição, afirma que seu foco é unir os industriais.

Foto: Divulgação

Rodrigo Rocha Loures: transformação sem precedentes.

Após quatro anos à frente da Fiep, Loures comemora bons resultados de sua gestão. ?Promovemos uma transformação sem precedentes nas áreas administrativa e financeira, que permitiram a realização de amplos e complexos investimentos?, destaca. A seguir, a íntegra de sua entrevista exclusiva:

A indústria paranaense perdeu força desde 2002, como mostram os indicadores do PIB industrial. A que o senhor atribui essa estagnação?

Rocha Loures – A política macroeconômica é, sem dúvidas, a grande responsável por esta situação. Da porteira para dentro as coisas caminham num bom termo. O problema é da porteira para fora. Nesse aspecto, o governo estadual pode ajudar a amortecer os impactos da política macroeconomica através da sua Agência de Fomento, de uma ação que contribua para a redução dos juros e da elevada carga tributária e investindo na melhoria da infra-estrutura. Há um enorme potencial que pode ser aproveitado para assegurar a competitividade da indústria paranaense. Vivemos um processo de desindustrialização no Paraná e no Brasil. O que mais preocupa é a falta de novos investimentos. Os empreendimentos fecham e não surgem novos. Há 15 anos, a indústria de transformação era responsável por 35% do PIB brasileiro. Hoje está em 18%. É um grande retrocesso.

O governador Requião o criticou por se inspirar em países como o Canadá para estimular o desenvolvimento do Estado. O que o senhor acha disto?

Rocha Loures – Não há outro caminho se não a promoção do desenvolvimento do Brasil e o Canadá é um modelo. Podemos nos converter em uma nação desenvolvida e o Paraná tem todas as condições para ser o espaço da vanguarda nacional no desenvolvimento tecnológico. Todas as evidências mostram que o progresso econômico passa pela inovação. Esta deve ser a ênfase das políticas públicas. É a partir da capacidade de inovar que teremos empresas em condições de concorrer numa economia cada vez mais globalizada.

Como é o relacionamento da Fiep com o governo estadual e o legislativo?

Rocha Loures – Com o governo estadual mantemos uma relação de respeito e cooperação. Em certos momentos existem conflitos, mas o papel da Fiep é fazer a defesa dos interesses da indústria, de forma independente. O relacionamento com deputados estaduais e federais e com os senadores é muito bom. Nesta segunda-feira, por exemplo, vamos apresentar uma pauta de reivindicações ao presidente do BNDES, Luciano Coutinho. O documento foi assinado por 26 deputados federais e dois senadores, que se comprometeram em defender os mesmos interesses com o governo federal.

Que avaliação o senhor faz da política econômica do governo federal?

Rocha Loures – É equivocada. Está voltada para o sistema financeiro e parte de uma premissa errada: a de que os juros são a única ferramenta para o controle da inflação. Com isso está provocando uma série de desarrumações, como a supervalorização do real, que está tirando competitividade dos produtos nacionais e expondo a nossa indústria a uma concorrência desigual.

Por que só agora a Fiep iniciou um movimento pelo fim da CPMF?

Rocha Loures – A questão tributária está permanentemente na agenda da Fiep e o movimento está aprofundando este trabalho. Recentemente participei da elaboração de uma proposta que sugere uma meta para a carga tributária, em torno de 25% do PIB. Também tratamos da redução da CPMF. As proposições foram sumariamente rejeitadas pelo ministro Guido Mantega. Isso demonstra que o compromisso do governo é arrecadar cada vez mais. Na continuidade vamos concentrar esforços para a realização da reforma tributária. A única maneira de conseguirmos racionalizar os gastos do governo é tirando o dinheiro dele.

Por que o empresariado não se envolve nas grandes questões regionais e nacionais?

Rocha Loures – Isso é uma questão cultural. A maioria dos empresários está voltada para o seu próprio negócio. O grande desafio é fazê-lo reservar um pouco do seu tempo para a atividade institucional. A melhor forma para isso é a participação nos sindicatos empresariais. Seria extremamente saudável que todos os empresários descobrissem o valor da representação institucional, pois todo o sindicato se ocupa de cuidar de interesses coletivos. Um dos papéis da Fiep é promover a valorização dos sindicatos. Mais do que isso, queremos agregar valor aos sindicatos.

Quais as principais realizações da sua primeira gestão na Fiep?

Rocha Loures – O que é mais visível são as realizações materiais: investimentos R$ 70 milhões em obras e novos equipamentos. Os serviços do Senai e do Sesi aumentaram até cinco vezes. O Sistema Fiep ganhou projeção nacional. Isso só foi possível graças ao resgate ético, à profissionalização, a uma gestão participativa e ao restabelecimento da independência e autonomia da Fiep. Interiorizamos os programas do Sistema. Os principais projetos foram a Universidade da Indústria (Unindus); o Colégio Sesi, que une ensino formal, educação profissional e empreendedorismo; o Cartão Sesi, que retoma os serviços odontológicos para o trabalhador; as agências de desenvolvimento regional; os arranjos produtivos locais e a elaboração de uma proposta de política industrial e desenvolvimento tecnológico à altura de nosso estado.

É isto que o motiva a se candidatar à reeleição?

Rocha Loures – A minha principal motivação é o fato de termos feito uma grande transformação no Sistema Fiep. Temos de dar prosseguimento aos 130 programas que estão em andamento. Minha proposta é de união. Meu desejo é unir os industriais para industrializar o Paraná. Nossos compromissos estão no site.

Seus adversários dizem que falta transparência na prestação de contas da Fiep e que não há foco na indústria nos novos programas. Qual sua posição a respeito?

Rocha Loures – Isso não passa de um factóide. O fato real é que o Sistema Fiep está mais transparente que nunca. Nossa contabilidade passa por auditorias interna e independente e fiscalizações do Tribunal de Contas da União e da Corregedoria Geral da União. Além disso, temos os conselhos regionais do Sesi e do Senai. Neste ano, o conselho fiscal já deu parecer favorável à aprovação das contas da Fiep, após uma profunda análise dos números. Friso isso porque antigamente a aprovação era uma mera formalidade. Quanto à questão do foco, é uma crítica absurda. Os 130 programas que desenvolvemos estão alinhados à demanda da indústria e foram debatidos com todos os setores antes de serem colocados em prática.

Como é o relacionamento da Fiep com os sindicatos da indústria?

Rocha Loures  – Foi intensificando. No passado as reuniões eram feitas só para cumprir formalidades estatutárias. As atas eram mandadas aos sindicatos, que se limitavam a assiná-las e não participavam de qualquer deliberação, pois muitos dependiam de favores do presidente. Na minha gestão envolvemos todos os sindicados na tarefa de cuidar do desenvolvimento industrial do Paraná. Fizemos um planejamento compartilhado, dinamizamos os conselhos temáticos e setoriais e as coordenadorias regionais da Fiep. Também realizamos dois congressos da indústria. Foram centenas de atividades que permitiram uma intensificação do relacionamento entre os sindicatos e a federação.

E quais são as principais propostas para um segundo mandato na Fiep?

Rocha Loures – Vamos consolidar o processo de profissionalização e modernização do Sistema Fiep, fortalecer os sindicatos empresariais, aperfeiçoar a defesa dos interesses da indústria, focar as atividades nas micro e pequenas empresas e aplicar 10% da receita em novas obras. Nas áreas de educação e capacitação queremos chegar a 100 mil matrículas. Vamos aumentar de 20 para 30 o número de APLs, atingindo cinco mil indústrias em todo Estado. Isso sempre de forma descentralizada, com apoio das lideranças locais. Vamos buscar a união dos industriais para consolidar a nossa meta mais ousada, que é dobrar o número de empregos ofertados pelo setor. A indústria do Paraná gera atualmente 500 mil empregos. Em quatro anos queremos atingir a marca de 1 milhão de empregos.

E isso é possível?

Rocha Loures – Sim, se conseguirmos reindustrializar o Paraná. Queremos aproveitar na plenitude o potencial do Estado e atrair novos investimentos. Com vontade política e organização isso é possível porque o nosso crescimento está reprimido por falta de estratégia.

Qual a principal competência que deve ter o líder de uma organização como a Fiep?

Rocha Loures – Capacidade de visão, conhecimento, experiência, conexões, articulação e, acima de tudo, saber conduzir a organização com espírito de união. Os pressupostos são autonomia e independência. Só assim é possível atender ao compromisso de promover a afirmação empresarial.

O bate-chapa não é comum na Fiep. Como o sr. se sente tendo oposição?

Rocha Loures – Fico feliz porque minha proposta de fazer uma abertura democrática na entidade está se consolidando e isso é extremamente estimulante. O desagradável é que está ocorrendo um típico jogo do universo político-partidário, mas as diferenças vão transparecer. Os sindicatos saberão identificar os aspectos positivos nas biografias dos candidatos. O importante é que não haja um retrocesso na condução da maior entidade empresarial do Estado.

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