Rio – A indústria naval brasileira e, especialmente, a do Rio de Janeiro, têm motivos de sobra para comemorar o aumento da atividade petroleira no País. Com a encomenda de quatro novas plataformas até o fim do ano e andamento de outras obras, algumas já em fase de licitação, a Petrobras será responsável pela criação de 25 mil postos de trabalho no setor naval até o próximo ano. A maioria, nos estaleiros do Estado do Rio.

Segundo o diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque, as quatro novas plataformas representarão encomendas de cerca de US$ 2,5 bilhões. Uma delas, a P-54, já teve seu processo de licitação iniciado, enquanto a P-53 terá seus editais lançados ainda este ano, segundo a Petrobras. No ano que vem, serão licitadas a P-55 e a P-56.

Com uma encomenda de US$ 225 milhões ao Estaleiro Ilha (Eisa) para construção e quatro navios petroleiros, serão criados três mil empregos. Outros dez mil empregos serão criados com a construção das plataformas P-51 e P-52, cujo processo de licitação está em andamento. A Petrobras anunciou na sexta-feira que o grupo Fels Setal, controlador do Estaleiro Verolme em Angra dos Reis, está classificado para construir casco e conveses da P-52. E a Fels Setal, por sua vez, já informou que a maior parte das obras que serão feitas no país será realizada no Verolme, criando cinco mil empregos diretos no estaleiro do Rio.

– Para cada plataforma estabelecemos os índices de nacionalização. Todos são em níveis que a indústria nacional possa atender, sem riscos de representar um custo maior – afirma Duque.

A Petrobras tem feito a festa dos estaleiros, que têm boa parte de suas obras vinculadas a encomendas da estatal. Ao todo, contratos licitados ou já em construção chegam perto de US$ 3,5 bilhões em embarcações, muitas das quais sob responsabilidade da indústria naval do Rio.

Para 2003 a 2007, a projeção do investimento é ainda maior: US$ 19 bilhões. Incluem-se aí os futuros contratos de 20 embarcações de cabotagem de apoio offshore, 11 petroleiros para a Transpetro e 13 plataformas de perfuração da Petrobras, para ampliar a capacidade de produção offshore em 1.860 milhão de barris de petróleo por dia.

Mas a marinha mercante brasileira ainda parece estar na dormência da década passada, quando a maioria dos estaleiros havia fechado as portas por falta de encomendas. Basicamente, os contratos que fizeram a indústria naval do Rio voltar à vida vieram da Petrobras.

Mas a falta de navios nacionais ainda gera despesas altas para o País: o Brasil gasta anualmente algo em torno de US$ 5 bilhões com fretes em navios de bandeiras estrangeiras.

– Chegamos a ter 22% dos fretes em navios de registro brasileiro no passado. Hoje esse número é de aproximadamente 3% – explica Hugo de Figueiredo, presidente do Syndarma (sindicato dos armadores).

O reaquecimento da indústria naval é estratégico para o Rio, porque estimula uma série de outras atividades. Junto com os estaleiros, voltam à vida o setor de tintas marítimas, de serralheria, de soldagem etc. Isso fica mais visível quando se coloca no papel o nível de geração de empregos diretos do setor. Em 99, eram 500. Este ano, devemos chegar a 16 mil, segundo o Secretário de Energia, Indústria Naval e Petróleo do Rio, Wagner Victer.

O setor chegou ao fundo do poço em 1998, quando foram liberados pelo Fundo da Marinha Mercante (FMM) R$ 50 milhões em financiamentos para construções ou reparos de novas embarcações. Hoje o FMM tem acumulados R$ 1,5 bilhão e recolhe cerca de R$ 300 milhões por ano.

De acordo com o Syndarma (Sindicato Nacional das Empresas de Navegação Marítima), em 1999, a participação dos navios de bandeiras brasileira na frota do País era de 37%. Atualmente, esse percentual já é de 43%.

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