A produção industrial brasileira registrou alta de 1,5% em março na comparação com fevereiro, segundo dados divulgados ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O resultado interrompe uma seqüência de dois meses seguidos de baixa na produção. Em fevereiro, a indústria recuou 1,3% e em janeiro, 0,4%.
Em relação a março de 2004, o desempenho da indústria também permanece positivo, com taxa de crescimento de 1,7%. Esta é a décima nona taxa positiva nesta base de comparação, mas também o percentual mais baixo de crescimento no período. No acumulado do primeiro trimestre, o crescimento foi de 3,9% em relação aos três primeiros meses de 2004.
Em fevereiro, o IBGE havia identificado um cenário de ?clara desaceleração? na indústria brasileira com o avanço de apenas uma categoria, a de bens de consumo duráveis, amparada pela produção de automóveis, TVs e celulares.
Em março, o cenário foi diferente. Das quatro categorias de uso, duas apresentaram crescimento: bens de capital (máquinas e equipamentos), de 5,4%, e bens intermediários, de 0,1%. Já bens duráveis tiveram queda de 0,7% e os de consumo semiduráveis e não-duráveis caíram 0,2%.
O setor de bens de capital começou a se recuperar depois de duas quedas consecutivas, quando acumulou perda de 4,8%. Os bens intermediários não conseguiram ainda reverter o resultado negativo acumulado nos dois meses anteriores, de 2,7%.
Segundo o chefe da Coordenação da Indústria, Silvio Sales, o desempenho positivo dos bens de consumo duráveis pode ser atribuído, em parte, pelo desempenho das exportações. Isto porque automóveis, TVs e celulares continuam a liderar a produção.
Dos 23 ramos que têm série ajustada sazonalmente, oito apresentaram queda entre fevereiro e março. Entre os resultados positivos, destacam-se farmacêutica (13,1%), máquinas e equipamentos (4,0%), celulose e papel (4,0%) e material eletrônico e equipamentos de comunicações (3,6%). Os principais impactos negativos vieram de refino de petróleo e produção de álcool (-2,4%) e metalurgia básica (-2,6%).
Mesmo com o resultado positivo em março, o IBGE avalia que a indústria, apesar de se manter em crescimento há seis semestres, teve o ritmo de expansão desacelerado neste ano.
A percepção de que a indústria não deverá repetir o ritmo de crescimento do ano passado coincide com o ciclo de oito aumentos sucessivos da taxa de juros, promovido pelo Banco Central desde setembro do ano passado. Nesse período, a taxa passou de 16% ao ano para 19,5% ao ano.
Segundo Sales, o efeito dos juros contribui para a perspectiva de menor crescimento da indústria. ?O efeito dos juros provoca um aperto monetário na economia, procura reduzir a pressão inflacionária atuando no nível de atividade. A desaceleração aparece de forma mais nítida nos setores de bens intermediários e bens de capital. O primeiro pode ter sofrido efeito de ajuste de estoque e o segundo de desaceleração de investimentos?, disse.
O aumento de juros encarece o crédito e segura o crescimento da economia. O próprio presidente Lula reconheceu em entrevista que uma das deficiências do governo é não ter encontrado alternativa ao aumento de juros como forma de combate ao crescimento das taxas de inflação.
Bens de consumo duráveis lideram no trimestre
Os resultados do trimestre confirmam a liderança do setor de bens de consumo duráveis (como veículos e eletrodomésticos), que registrou avanço de 13% no primeiro trimestre, depois de crescer 15% no último trimestre de 2004. O único setor que ganhou fôlego no início deste ano foi o de bens de consumo semiduráveis e não-duráveis (como roupas, calçados e alimentos), com avanço de 5,4%, após crescer 4,2% no último trimestre de 2004.
Bens de capital (máquinas e equipamentos) e bens intermediários (insumos) reduziram o ritmo de crescimento no primeiro trimestre, com avanços de 2,5% e 1,5%, respectivamente.
Segundo Sales, a recuperação dos bens intermediários depende agora do avanço das vendas no comércio varejista. Com o crescimento dos bens finais, os intermediários (insumos) poderiam apresentar expansão.
