Por mais que promoções no varejo anunciem móveis com preço reduzido devido à isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos itens, os valores não estão diminuindo na maior parte da cadeia produtiva.

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É que, pouco tempo depois que a medida foi anunciada pelo governo federal, no final de novembro, os fabricantes tiveram que enfrentar um aumento médio de 8,5% no componente mais caro dos produtos: os painéis de madeira, que representam cerca de 60% do valor dos móveis.

Agora, o setor, que vem enfrentando uma crise aguda, está preocupado com o futuro da medida. O temor é que, usando como argumento o fato dos preços finais dos itens não terem baixado, o governo cancele a redução do imposto antes de seu prazo final, que vence em 31 de março.

A Associação Brasileira da Indústria do Mobiliário (Abimóvel) afirma que, apesar de receber pressões para tanto, quer evitar uma guerra com os fabricantes de painéis. A entidade informa que está avaliando, inclusive, um pedido para que o Imposto de Importação das chapas seja reduzido.

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Enquanto isso não acontece, o setor lamenta as possíveis consequências dos reajustes. “No momento de reativar a economia, de dizer ao consumidor final que teríamos preços mais baixos, vieram os aumentos. Agora estamos perdendo uma oportunidade magnífica de recuperação”, afirma o diretor executivo do Sindicato das Indústrias de Móveis de Arapongas (Sima), Sílvio Luiz Pinetti.

Segundo Pinetti, as indústrias de móveis da região o polo de Arapongas está entre os maiores do País estão no meio de uma “briga de foice”, já que os grandes varejistas nacionais, que são os principais clientes da maioria das indústrias da região, também pressionam por preços mais baixos, até para poderem anunciar os benefícios da redução do IPI.

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O presidente do Sindicato da Indústria do Mobiliário e Marcenaria do Estado do Paraná (Simov-PR), Aurélio Sant’Anna, aponta o mesmo panorama. “Estamos espremidos entre dois gigantes: de um lado os fabricantes de painéis, e de outro as gigantes do varejo”, observa.

Ele explica que, de um lado, fabricantes determinam um preço e ameaçam exportar o produto caso o valor não seja aceito. De outro, os varejistas vão às compras já determinados a pagar um preço, que algum moveleiro fatalmente irá aceitar.

De acordo com Sant’Anna, os preços do varejo até são definidos pela competição entre as redes de lojas. Porém, no caso dos painéis, ele demonstra preocupação quanto a uma possível cartelização.

“Existe uma associação que integra as empresas e determina os valores de mercado”, afirma. Essa queda de braço, segundo ele, coloca principalmente os fabricantes que atendem às classes C e D em uma situação complicada. “Estamos na mão de poucas e gigantescas empresas”, diz.

Políticas

As indústrias de painéis de madeira são mesmo poucas: apenas oito. A Associação Brasileira da Indústria de Painéis de Madeira (Abipa), que integra cinco delas (Berneck, Duratex, Eucatex, Fibraplac e Masisa), nega que interfira ou formule políticas de preços, e lembra que participou, inclusive, das conversas com o governo que resultaram na redução do IPI (que também atingiu os próprios painéis).

Em comunicado ao site Portal Moveleiro, divulgado na última semana, a superintendente da entidade, Rosane Dill Donati, afirmou que as políticas de preços “são posturas individuais das empresas associadas”.

Repercussão

Com os aumentos nos painéis, ficou difícil para o setor moveleiro avaliar a repercussão da redução do IPI nas vendas, já que, para eles, ,pouco mudou nos preços. Antes dos aumentos, o setor trabalhava com uma possibilidade de aumento de até 5% mensais nas vendas.

“A redução foi praticamente anulada”, calcula Sant’Anna. Para Pinetti, a época também atrapalha a avaliação, já que tanto os finais como os inícios de ano são, tradicionalmente, bons período de vendas. Ele informa, inclusive, que as empresas da região vêm trabalhando com 100% da capacidade.

Salário mínimo estadual é nova preocupação

Além dos aumentos nos preços dos painéis de madeira, outro fator está preocupando o setor moveleiro do Paraná: o reajuste do salário mínimo regional, anunciado recentemente pelo governo do Estado.

De acordo com o diretor executivo do Sindicato das Indústrias de Móveis de Arapongas (Sima), Sílvio Luiz Pinetti, o impacto do reajuste na folha de pagamento das empresas da região deve ser de aproximadamente 14%.

Segundo ele, a negociação salarial acontece em maio, mês em que também deve entrar em vigor o novo mínimo, estabelecido em R$ 714 para a indústria. Para Pinetti, o custo de fabricar móveis no Paraná está cada vez maior.

Ele diz que o polo de Arapongas está perdendo concorrência para outros polos, como o de Ubá (MG), que também é focado em móveis populares. “Lá o custo é bem mais baixo. Estamos hoje com uma das mãos-de-obra mais caras do País”, afirma. (HM)

Nuvens negras estariam sumindo no horizonte

Os números do setor moveleiro não vêm sendo bons desde a metade de 2008. No entanto, as últimas pesquisas da produção industrial, divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), vêm apontando uma recente recuperação.

Após uma queda de 21,4% em setembro, na comparação com o mesmo mês de 2008, o setor, no Paraná, experimentou dois avanços seguidos: 4,5% em outubro e 8,5% novembro. Mesmo assim, a taxa acumulada entre janeiro e novembro de 2009 ainda apresenta queda de 21% ante o mesmo período do ano anterior.

Na indústria em geral, a queda é bem menor: 4,25%. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria do Mobiliário (Abimóvel), o faturamento do setor em 2009 também deve ser inferior ao de 2008, que foi de R$ 27 bilhões.

No ano passado, a entidade informa que o setor amargou uma queda de 10% nos negócios internos. O motivo apontado é a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de eletrodomésticos e automóveis, que levou o consumidor a preferir tais produtos sobre os móveis. Os números ruins refletem também no emprego.

De acordo com os últimos dados do cadastro de Empregos (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego, o setor de madeira e mobiliário é o único do Paraná que apresenta saldo negativo entre janeiro e novembro de 2009, de 529 postos de trabalho. Não fosse o saldo positivo obtido em novembro, de 742 vagas, o desemprego no setor poderia ser ainda mais baixo.

O saldo negativo do ano passado acontece apesar da mão-de-obra do setor ser considerada de baixo custo. Segundo o presidente do Sindicato da Indústria do Mobiliário e Marcenaria do Estado do Paraná, Aurélio Sant’Anna, estima-se que, com o investimento necessário para gerar uma vaga no setor automotivo, geram-se 10 empregos no moveleiro. “Ainda não somos um segmento automatizado, e utilizamos mão-de-obra local”, informa. (HM)