Os dados da produção industrial brasileira de outubro “já sugerem efeitos da mudança no cenário econômico na atividade do setor”, segundo o coordenador de indústria do IBGE, Silvio Sales. Ele sublinhou que, mesmo com um efeito calendário favorável em outubro deste ano – que teve um dia útil a mais do que igual mês do ano passado -, o aumento de 0,8% na produção ante igual mês do ano passado é a menor variação, ante igual mês de ano anterior, apurado na indústria pelo IBGE desde dezembro de 2006.
“O mês de outubro marca a entrada da indústria no novo cenário econômico mundial, que mostrou uma mudança brusca”, disse. Sales destacou a perda de quase um ponto porcentual no indicador industrial de 12 meses apurado em setembro (6,8%) para outubro (5,9%). Segundo ele, uma perda de tal magnitude no indicador de 12 meses de um mês para o outro não ocorria desde março de 2005.
Sales destacou também que a queda de 0,6% no índice de média móvel trimestral quebra uma seqüência de quatro resultados positivos e foi puxada por bens intermediários (2% de queda no trimestre encerrado em outubro ante o terminado em setembro) e bens de consumo duráveis (-0,9%). “Exceto bens de capital, todas as categorias de uso perderam no seu indicador de tendência”, disse Sales.
Veículos
Os automóveis perderam, em outubro, o posto de líder em crescimento da produção industrial que manteve até setembro de 2008. A produção de veículos automotores, que havia aumentado 20,2% em setembro ante igual mês do ano passado e acumulado um aumento de 17,6% de janeiro a setembro deste ano, desacelerou a expansão para apenas 4,1% em outubro ante igual mês do ano passado.
Na comparação com setembro, a produção de veículos automotores registrou queda de 1,4%, após um aumento de 0,5% em setembro ante agosto. A economista Isabella Nunes, da coordenação de indústria do IBGE, disse que as férias coletivas na indústria automotiva provocaram a desaceleração.
Produtos químicos
A indústria de produtos químicos registrou queda de 11,6% na produção em outubro ante setembro e representou o principal impacto de queda na produção industrial no período (-1,7%), segundo destacou o coordenador de indústria do IBGE. Segundo Silvio Sales, a principal pressão negativa foi de fabricantes que atendem o segmento de agricultura. Esse grupo de produtos químicos inclui fertilizantes, tintas e resinas e também foi afetado, segundo Sales, por paralisações.
O segundo principal impacto negativo na produção em outubro ante setembro foi dado por refino de petróleo e álcool (-9%) e, de acordo com Sales, o recuo nesse segmento está relacionado a uma paralisação técnica em uma “refinaria importante”. O terceiro principal impacto de queda ficou com máquinas e equipamentos (-5,2%) e o quarto, com veículos automotores (-1,4%).
Sales sublinhou que os dados de outubro sofreram forte influência de paralisações, programadas ou não, e férias coletivas em segmentos produtores de bens duráveis (como automóveis) e bens intermediários. “Talvez o primeiro efeito de uma crise mundial tenha sido tornar esses agentes (as empresas desses segmentos) o mais cautelosos possíveis”, disse Sales. Ele disse que só as informações do varejo de outubro vão mostrar se houve realmente redução de demanda em outubro ou não.
