A indústria de transformação inicia o segundo trimestre do ano em desacelaração em relação ao trimestre anterior e em ritmo morno. A avaliação é do superintendente adjunto de Ciclos Econômicos do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), Aloisio Campelo, em análise dos dados da Sondagem da Indústria de Transformação, divulgados nesta terça-feira, 30, pela Fundação Getulio Vargas (FGV). “A recuperação da indústria é lenta e com alguma desaceleração, sinalizando um começo morno de segundo trimestre para o setor”, afirmou.
O Índice de Confiança da Indústria (ICI) caiu pelo segundo mês consecutivo em abril, ao recuar 0,8%, na série com ajuste sazonal, na comparação com março, passando de 105,0 pontos para 104,2 pontos. Com isso, pela primeira vez desde agosto do ano passado o ICI ficou abaixo da média histórica recente, de 104,4 pontos. Os subíndices que compõem o indicador também recuaram. O Índice da Situação Atual (ISA) teve baixa de 0,7%, para 103,5 pontos, abaixo da média histórica (105,6), e o Índice de Expectativas (IE) caiu 0,9%, para 104,9 pontos, porém ainda acima da média histórica (103,1).
Campelo disse que a indústria de transformação brasileira sofre com o mercado externo, com desaceleração nos Estados Unidos e na Ásia e com as incertezas na Europa. Ele afirmou que a indústria também enfrenta competição interna. “O nível do câmbio, apesar de ter melhorado no ano passado, ainda não é suficiente para dar competitividade à indústria brasileira.”
Outro fator citado por Campelo é que o custo unitário do trabalho tem aumentado acima da produtividade. “Isso faz com que o setor se torne menos competitivo e com rentabilidade menor.”
Demanda
O nível de demanda foi o quesito com maior influência na queda do ISA este mês. O indicador recuou 1,3% entre março e abril, para 100,3 pontos. Como exemplo, Campelo citou que 17,7% das empresas disseram que o nível de demanda externa está fraco. “É o número mais alto desde abril de 2011.” Apenas 5,6% das empresas afirmaram que o nível de demanda externa está forte.
Sobre a situação atual dos negócios, Campelo disse que houve um bom momento em dezembro e janeiro, quando o porcentual de empresas que responderam que a situação era boa ficou acima de 25% (25,6% em dezembro e 26,3% em janeiro). No entanto, atualmente, de acordo com o economista, “há certa insatisfação com a situação geral dos negócios”. O porcentual de empresas que disseram que a situação é boa passou de 24,6% em março para 21,7% em abril. O indicador ficou em 109,2 pontos, abaixo da média histórica recente de 111,9 pontos.
“Isso mostra que há insatisfação com o custo da mão de obra, que está pesando na determinação de rentabilidade das empresas. O mercado de trabalho segue pressionado, e as empresas não conseguem obter rentabilidade”, afirmou Campelo.
Segundo ele, houve alívio com a desvalorização cambial ocorrida no ano passado, porém, disse o economista, a indústria não consegue achar espaço para ajustar seus preços em relação ao produto importado ou para competir fora do País. “O custo unitário do trabalho continua avançando. Por outro lado, a produtividade não tem aumentado.”
No entanto, a situação futura dos negócios, que busca avaliar como estará o cenário daqui a seis meses, indica otimismo. Embora tenha apresentado queda, com recuo de 1,7% na passagem de março para abril, o indicador registrou 146,9 pontos, acima da média histórica recente, de 139,1 pontos. Campelo disse que há otimista principalmente para o setor de bens de capital.
Emprego
O quesito que mede as expectativas para o emprego foi determinante para a queda do IE. O indicador registrou 110,5 pontos, queda de 2% em relação a março. “É um ritmo de contratação fraco em níveis históricos, porém natural. A produção desacelerou mais fortemente que a contratação, portanto a indústria tenta ganhar produtividade.” Campelo disse ainda que a situação dos estoques da indústria está normalizada. “A indústria aproveitou a virada do ano para trabalhar na normalização dos estoques.”