O governo montou um sistema de monitoramento especial para acompanhar, em detalhe e em tempo real, como estão as importações dos produtos atingidos pela decisão dos Estados Unidos de sobretaxar suas compras de aço em 25% e as de alumínio em 10%. A ordem é adotar medidas caso haja oscilações importantes no ingresso desses produtos no Brasil.

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Há uma preocupação, no governo e no setor privado, quanto ao que pode acontecer com os produtos que “sobrarem” no mercado com a eventual redução das importações pelos Estados Unidos. Empresas brasileiras de aço e alumínio temem uma inundação e cobram mais proteção.

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“É ingenuidade achar que, com uma medida dessas (sobretaxa), as indústrias vão espontaneamente reduzir sua produção”, disse o presidente da Associação Brasileira do Alumínio (Abal), Milton Rego. “Elas vão buscar alternativas para desovar sua produção.”

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O presidente executivo do Instituto Aço Brasil (IABr), Marco Polo Mello Lopes, disse que, potencialmente, a sobretaxa pode desviar para outros mercados perto de 25 milhões de toneladas de aço importados pelos Estados Unidos. A produção brasileira foi de 34 milhões de toneladas no ano passado.

“Nós somos presa fácil”, disse o presidente do conselho do IABr, Alexandre Lyra. Ele se referia ao fato que o governo decidiu, em janeiro passado, não aplicar uma sobretaxa sobre as importações de aço laminado a quente importado da China e da Rússia.

Os ministros que integram a Câmara de Comércio Exterior (Camex) entenderam que havia razões para cobrar uma taxa adicional nos casos analisados, mas preferiram adiá-la por dois motivos principais: as importações estão num volume relativamente baixo por causa da crise, e a medida poderia resultar na elevação do preço do aço, com repercussões em outros produtos industriais.

Paliativos

Lyra disse que o setor ganhou, mas não levou o antidumping. E no momento se encontra sem proteção alguma, num mercado que debate há alguns anos o que fazer com o excedente de produção de aço no mundo.

Na semana passada, em audiência com o presidente Michel Temer, ele pediu que a decisão da Camex seja revista. O setor argumentou que a sobretaxa dos EUA é um fato novo que justifica uma nova discussão. Do ponto de vista do governo, a aplicação do antidumping pode ser revista se houver um aumento expressivo da importação daquele produto específico.

O ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Jorge, disse que “a priori” não deve haver essa inundação do mercado brasileiro temida pelas empresas. “Temos um sistema de defesa comercial robusto e reconhecido no mundo inteiro. Temos uma medida antidumping já aprovada no setor de aço, mas suspensa. Caso haja alguma distorção no mercado, atuarmos dentro do devido processo legal”, afirmou.

Para o gerente executivo de Assuntos Internacionais da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Diego Bonomo, é cedo para saber se haverá ou não essa inundação. Dependendo da real extensão da sobretaxa dos EUA, pode ser que o país reduza pouco suas compras.

Analistas de mercado também dizem que há risco de uma “inundação” de produto estrangeiro no País. Vitor Suzaki, da Lerosa Investimentos, diz que o movimento pode criar maior competição no ambiente doméstico que já tem apresentado recuperação da demanda, assim como retomada do crescimento do setor automobilístico.

A analista Sabrina Stefane Cassiano, da Coinvalores, no entanto, lembra que a sobretaxa nos Estados Unidos beneficia a Gerdau, pois cerca de 40% de sua receita advém de suas operações no mercado americano. Sabrina ressalta que as demais companhias, entre elas a Usiminas, poderão ser beneficiadas pela alta da demanda doméstica.

Fator China

Com a exclusão temporária de Brasil, Argentina, Austrália, Coreia do Sul e União Europeia da sobretaxa, pelo menos até 1.º de maio, boa parte do fornecimento deverá continuar como está, pelo menos no curto prazo. Ficou claro que o alvo da medida era a China – mas esse não é um problema pequeno.

A China fornece metade do aço e do alumínio importados pelo Brasil. No caso do aço, as compras chegaram a 961 mil toneladas, o que correspondeu a 41,3% do total importado. No caso do alumínio, a China respondeu por 46% das compras brasileiras no ano passado, que totalizaram 155 mil toneladas.

“Tem umas coisas que eu nunca tinha visto”, comentou o presidente da Abal. Ele citou como exemplo os cabos de transmissão de energia elétrica. Há alguns anos, eles eram brasileiros. Hoje, predominantemente eles chegam da China. O país respondeu por 92% das importações brasileiras de cabos de alumínio no ano passado. “O Brasil é competitivo no alumínio. Compete com americanas e europeias, mas não com a China S.A.”, disse o executivo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.