Setor automotivo foi impulsionado pelas exportações. |
A indústria brasileira confirmou as projeções do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e fechou o ano com o melhor desempenho desde 1986. A produção industrial cresceu 8,3% em 2004, um crescimento que vem se mantendo desde 2000. No ano passado, os setores de bens de consumo duráveis (geladeiras, fogões e automóveis) e de bens de capital (máquinas e equipamentos) lideraram a expansão da indústria. O primeiro acumulou crescimento de 21,8% e o segundo, de 19,7%.
Houve crescimento mais moderado no setor de bens intermediários (insumos para a indústria, como combustíveis), de 7,4%. A única exceção nesta categoria é a queda de 3,8% observada em combustíveis e lubrificantes básicos, como petróleo e gás natural. Esse foi o primeiro resultado negativo desta atividade desde o início da série histórica do IBGE.
Já os bens de consumo semiduráveis e não duráveis (como alimentos e roupas) tiveram variação positiva de 4%. Apesar de apresentar uma taxa de crescimento mais modesta, o setor atingiu a melhor marca desde 1996. O IBGE atribui a taxa de crescimento à recuperação da massa salarial, influenciada pelo aumento no número de pessoas ocupadas.
O aumento na produção de bens de consumo duráveis foi avaliado como sinônimo de retomada do crescimento econômico. Já o aumento na produção de bens de capital foi entendido como sinal de investimentos na própria indústria para superar problemas estruturais, como a capacidade instalada no limite.
Das 27 atividades pesquisadas pelo IBGE, 26 encerraram o ano com desempenho positivo. Os destaques foram veículos automotores (29,9%) e máquinas e equipamentos (16,1%). A única exceção foi edição e impressão, que registrou queda de 2,4%.
O IBGE destaca que um dos fatores que contribuiu para o desempenho do setor automobilístico foi o aumento das exportações. De acordo com dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), houve aumento de 17,8% no número de unidades exportadas de veículos leves no ano passado.
Metodologia
A pesquisa industrial de produção é realizada mensalmente pelo IBGE desde a década de 1970.
Por conta das mudanças tecnológicas na indústria, a pesquisa já sofreu algumas reformulações desde que foi iniciada.
A última reformulação foi feita no início de 2004, quando o instituto alterou a composição dos produtos que fazem parte da sua pesquisa mensal e agregou as empresas em diferentes setores de atividade.
A série reformulada teve início em janeiro de 2002 e, segundo o IBGE, sua implantação não provocou ruptura de séries históricas, uma vez que a série anterior, com início em janeiro de 1991, foi encadeada à nova.
Os dados divulgados mensalmente pelo IBGE também passam por revisões constantes.
Alimentos e roupas vão liderar este ano
Depois de crescer 8,3% em 2004, puxada principalmente pela produção de automóveis, eletrodomésticos, máquinas e equipamentos, a indústria brasileira deverá mudar o foco de expansão em 2005. Neste ano, os chamados bens de consumo não duráveis, como alimentos, roupas e remédios, devem liderar o crescimento da indústria, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Segundo o chefe da Coordenação da Indústria, Sílvio Sales, há uma ligeira desaceleração no setor de bens duráveis em razão do fim do ciclo de crédito. Produtos como automóveis, geladeiras e fogões costumam ser comprados a prazo. "Isso implica num ciclo de endividamento que em algum momento começa a mostrar arrefecimento", disse.
Além disso, o aumento da taxa básica de juros de 16% em setembro para 18,25% ao ano em janeiro tende a tornar as compras a crédito menos atraentes para o consumidor. Apesar de reconhecer o efeito negativo da alta dos juros, o economista-chefe do banco Schahin, Cristiano Oliveira, afirma que o consumidor não está recebendo integralmente o impacto do aumento dos juros. "As financeiras e os bancos que atuam neste setor não têm repassado todo o aumento para o tomador final de crédito", disse.
Para o economista, este ?desconto? foi causado pela criação do crédito consignado, com desconto em folha, e pelo parcelamento em até 24 vezes. "Isso dilui o impacto do aumento dos juros. No futuro, a renda mais elevada vai fazer com que haja uma diminuição da participação do crédito no desempenho da indústria nos próximos meses", afirmou.
Na interpretação do IBGE, o aumento da massa salarial com a queda na taxa de desemprego foi o principal responsável pelo incremento do setor de não duráveis no último trimestre. No ano, o setor cresceu 4%, o melhor desempenho desde 1996. Segundo Oliveira, o aumento do salário mínimo para um patamar de cerca de US$ 120 vai proporcionar uma injeção mais forte de recursos na economia e aumentar o consumo de alimentos, roupas e remédios.
Ministro comemora números do IBGE
O ministro da Fazenda, Antônio Palocci, comemorou os números apresentados ontem pelo IBGE. Segundo ele, o crescimento da produção industrial mostra que houve um resultado consistente ao longo de 2004 que precisa continuar nos próximos anos. Ele ressaltou que num primeiro momento houve um crescimento da produção de bens duráveis e que, no fim do ano passado, aumentou a produção de semiduráveis, o que mostra que o Brasil está se recuperando de forma equilibrada.
"Um desenho clássico de retomada está acontecendo no Brasil", afirmou o ministro, frisando que o governo não está tomando nenhuma medida artificial para forçar o crescimento.
Palocci falou ainda sobre a sanção da Lei de Falências. Disse que a redução do custo dos empréstimos bancários ocorrerá somente depois que a nova lei entrar em vigor e beneficiar efetivamente empresas em dificuldade financeira.
"O efeito sobre spread (ganho bruto dos bancos com empréstimos bancários) se dá quando a legislação mostra sua eficácia", admitiu. "Para que isso aconteça, é preciso que a lei seja implantada e tenha sucesso. Agora não temos nenhum temor de que essa lei não tenha sucesso", completou.
Palocci argumentou que a lei anterior, vigente desde 1945, estava focada na falência e não viabilizava a recuperação das empresas com as contas no vermelho. A nova lei, de acordo com ele, dará chances aos empresários reverterem a situação negativa.
"Nesses 60 anos, não havia uma lei que recuperava empresas. A lei anterior era focada na falência, e as falências eram morosas e o valor dos ativos das empresas se perdia no tempo", disse. "Vamos mudar a história de recuperação de ativos no Brasil", afirmou.
Aéreas
As empresas aéreas foram mantidas no texto da Lei de Falências, ao contrário da posição inicial do Ministério da Fazenda e da Casa Civil. O ministro Palocci admitiu que era contrário à participação das aéreas na lei, que abre espaço para a renegociação do prazo de pagamento de dívidas, mas disse que não havia polêmica sobre o tema.
FMI e MP
Palocci disse ainda que o País não precisa renovar o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e que a tendência é de não fazê-lo, mas frisou que ainda não há decisão tomada sobre o assunto. Segundo ele, os resultados finais foram muito melhores do que as metas acertadas com o fundo.
"Nosso objetivo é não sacar recursos nesse acordo. Estão dadas todas as possibilidades de nós não termos necessidade de renovação do acordo. A princípio, não há nenhuma preparação de um novo contrato", afirmou.
Ao falar da Medida Provisória 232, alvo de duras críticas de vários setores, Palocci disse que, no geral, ela reduz a carga tributária e que apenas um de seus itens mexe na base de cálculo para pagamento de impostos pelos prestadores de serviço. O ministro reiterou que o governo tem um compromisso de não aumentar a carga tributária.
"Estamos mantendo nosso compromisso de não aumentar a carga tributária. 2003 foi melhor que 2002 e de 2004 não temos resultado ainda. Mas este é um compromisso de ouro do governo: não ter uma carga maior do que a que recebemos. A carga vinha subindo nos últimos dez anos e interromper essa subida já é importante", concluiu.