Nem tão otimista, nem tão pessimista. Assim pode ser resumido o desempenho da indústria paranaense em 2003, conforme os indicadores conjunturais reunidos pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos. Enquanto a produção industrial cresceu 2,96% (segundo pesquisa do IBGE) e o número de empregos com carteira aumentou 4,20% (de acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego), o consumo de energia – que costuma acompanhar a evolução da produção – recuou 4,57%, segundo dados da Copel, e as vendas reais caíram 12,15% em relação ao acumulado de 2002, informou a Fiep.
“Não houve uma sinalização clara de crescimento na indústria paranaense”, avalia o economista Cid Cordeiro, supervisor técnico do Dieese. “O otimismo que se observa em algumas análises não é tão evidente nos indicadores.” O economista destacou que a expansão do setor industrial do Paraná foi marcada pelas exportações. O valor das vendas externas, em US$ FOB, teve incremento de 26,15%, totalizando US$ 4,09 bilhões.
De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho e Emprego, foram abertos 17.187 postos de trabalho na indústria paranaense em 2003, número inferior ao dos anos anteriores: 22.677 (2001) e 23.378 (2002). Os setores que mais ampliaram contratações foram: alimentos e bebidas (4.745), madeira e mobiliário (3.233), têxtil e vestuário (2.427), química (2.178), mecânica (1.629) e material de transporte (1.526). 81,18% das novas vagas foram criadas no interior do Estado.
Na amostra de empresas pesquisadas pelo IBGE, os maiores aumentos de produção foram registrados nos segmentos de borracha (23,47%), mecânica (18,51%), vestuário (12,08%) e couros e peles (7,14%). As maiores quedas percentuais ocorreram em materiais plásticos (-16,19%), perfumaria, sabões e velas (-11,17%) e minerais não-metálicos (-8,17%).
Se a produção cresceu e o emprego aumentou, por que o consumo de energia caiu? “Os segmentos mais intensivos em consumo de energia são voltados para o mercado interno, que teve queda na produção. Os mais intensivos em mão-de-obra, que puxaram o emprego, são voltados para exportação mas não são tão intensivos em energia”, explica o economista Sandro Silva, do Dieese. Papel e celulose, que representa 22% do consumo energético industrial do Estado, reduziu a produção em 6,5% e o uso de energia em 25,30%. Sem o impacto de 5,6 pontos percentuais negativos desse setor, o consumo de energia teria fechado o ano passado em alta.
Outros dados positivos foram registrados na arrecadação de ICMS, com aumento real de 14,79%, nas compras reais (4,98%), e no número de horas pagas (0,94%). Porém, em contraste, o rendimento médio real por trabalhador recuou 6,74%. “As contratações foram feitas pelo piso, o que puxa a média para baixo. Além disso, os segmentos que mais geraram empregos têm salários médios inferiores à média da indústria”, comenta Silva.
Cenário
Para 2004, o cenário ainda não está claro. “O ano inicia com bom desempenho das exportações e recuperação lenta da renda, apontando, no primeiro momento, o mesmo perfil de crescimento industrial de 2003”, assinala Cordeiro. Entre os segmentos mais voltados às exportações, principalmente a agroindústria, a tendência é continuar ampliando as vendas. “Se confirmada a recuperação da renda no decorrer do ano, em função da desaceleração da inflação, o mercado interno deve voltar a crescer”, diz o economista. Mas para isso acontecer, salienta, “é preciso aumento nos empregos, que depende do crescimento da economia”.