O faturamento real da indústria paranaense caiu 12,15% em 2003, de acordo com a análise conjuntural divulgada ontem pela Federação das Indústrias do Paraná (Fiep). A pesquisa apontou retração nas vendas dentro do Estado (-5,20%), para outros estados (-10,74%) e nas exportações (-25,64%). Na avaliação do presidente da Fiep, Rodrigo Rocha Loures, o resultado negativo foi provocado pela política monetária adotada pelo governo federal, que afetou as taxas de câmbio (“a desvalorização do dólar reduziu o valor da receita, apesar do aumento da quantidade exportada”) e comprimiu o consumo, por causa das taxas de juros elevadas. “É um grande equívoco o governo querer controlar a inflação com a taxa de juros”, afirma Loures.
O dólar, cotado a R$ 3,40 no segundo semestre de 2002, passou para R$ 2,92 no segundo semestre de 2003, se refletindo em perda de lucratividade para as empresas. Mas apesar da queda na receita, as indústrias elevaram as compras em 4,98% e o nível de emprego aumentou 5,12%, correspondendo à criação de aproximadamente 9 mil vagas. Já a massa salarial decresceu 1,32%, o que significa que havia mais pessoas trabalhando no setor, porém ganhando menos. “A indústria perdeu capital de giro”, ressalta Loures.
Além da taxa Selic, a indústria sofreu pressão dos preços administrados (como energia elétrica, telefone e combustíveis), que subiram 9,30%. “Os reajustes foram bem superiores à inflação média da indústria de transformação, que foi de 3,81% (IPA)”, destaca o economista Maurílio Schmitt, do Departamento Econômico da Fiep. “Temos necessidade de recuperar margens, mas nesse momento, por força da forte restrição de consumo e do arrocho tributário, a indústria não encontra espaço para repasses”, comenta Loures. Segundo ele, a defasagem entre custo e preço de venda gira hoje em torno de 10%, impedindo as empresas de investir em expansão.
Cenário
Dos 18 setores pesquisados pela Fiep, oito tiveram crescimento nas vendas no ano passado, com destaque para couros, peles e produtos similares (15,64%), influenciado pela conquista de novos mercados no exterior. Na seqüência, aparecem: mecânica (6,02%), bebidas (3,78%), madeira (3,24%) e papel e papelão (2,59%). Os principais destaques negativos foram: têxtil (-46,46%), em função da retração nas exportações, perfumaria, sabões e velas (-30,32%) e produtos alimentares (-19,60%). Com o declínio nas vendas no último ano, a capacidade instalada da indústria paranaense atingiu média de 75%. O índice de ociosidade (25%) é um dos menores desde que começou a pesquisa da Fiep, em 1992.
Para 2004, a expectativa não é muito otimista. “O mercado interno não está atrativo para investimentos. A expectativa de crescimento da economia é de 3,5 a 4%, mas no Paraná pode ser um pouco maior, primordialmente por causa das exportações, que têm um peso acima da média nacional”, diz Loures. “Existe espaço para a produção física crescer 7 a 8%. O valor das vendas deve acompanhar esse percentual, podendo até ter um ganho”, estima o presidente da Fiep. A estratégia de gestão do novo dirigente da entidade está centrada no ganho de produtividade e competitividade, com foco na qualificação dos profissionais. Serão priorizadas inovações em tecnologia, alavancagem financeira, negócios internacionais e na gestão do sistema Fiep.