Apesar dos índios Guajajaras terem desocupado a linha férrea da Estrada de Ferro Carajás (EFC) na noite de quarta-feira (9), a situação continua tensa na região de Alto Alegre do Pindaré, distante 450 km de São Luís. Até às 18 horas de hoje (10), os indígenas mantinham, há mais de 27 horas, seis funcionários da Vale como reféns e, segundo a mineradora, ainda há possibilidade de novas interdições da ferrovia.
Fontes locais informaram que helicópteros foram vistos rumando em direção à reserva indígena onde aconteceu a interdição na tarde de quarta-feira e que os trens da Vale voltaram a circular. Porém, não foi vista nenhuma movimentação fora do normal da polícia em Alto Alegre do Pindaré.
Os ferroviários estão sendo mantidos na aldeia Maçaranduba, que fica dentro da terra indígena do Caru, em Alto Alegre do Pindaré, e têm fácil acesso à linha férrea: está a apenas 60 metros de onde os trens passam. É desta aldeia que partem os grupos que têm interditado a ferrovia desde 2005, quando os Guajajaras descobriram que interditar a EFC produz mais resultados do que conversas diretas com a Fundação Nacional do Índio (Funai) ou com qualquer outra autoridade local.
Na primeira ocasião em que os índios ocuparam a ferrovia, a Vale passou 15 dias sem poder transportar minerais para o Porto do Itaqui, em São Luís, e combustível para os municípios do interior do Maranhão e do leste do Pará. Na época, os indígenas também sequestraram quatro ferroviários e destruíram 150 metros de dormentes e trilhos. Desde então, já ocorreram cerca de 10 episódios de interdição da ferrovia. O último aconteceu há um ano e durou 10 horas.
A mineradora informou por nota que as reivindicações indígenas não dizem respeito à empresa, que está em dia com as obrigações acordadas com a Funai em 2007 e que vai responsabilizar civil e criminalmente os autores da invasão. Procurada pela reportagem, a superintendência da Funai no Maranhão não se pronunciou sobre o caso.
Os Guajajaras formam o maior dos sete grupos indígenas que ocupam o Maranhão – eles somam 13.500 dos 21 mil índios que vivem no Estado – e são conhecidos como um povo indígena de tradições guerreiras. Em 1901, eles protagonizaram o “massacre de Alto Alegre do Pindaré”, apontada como a última revolta indígena do Brasil, quando massacraram cerca de 100 missionários e fiéis.
Em 2006, no último confronto com brancos por causa de terras registrado, no município vizinho de Barra do Corda, os Guajajaras queimaram tratores, casas e uma ponte, deixando um saldo de seis mortos (três brancos e três indígenas). Este último conflito só se encerrou com a intervenção da Polícia Federal.