Índices não trazem preocupação com demanda

Brasília (AE) – O economista-chefe da Unidade de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, afirmou ontem que os números dos indicadores industriais de dezembro de 2006, divulgados ontem pela entidade, não causam preocupação quanto a uma pressão de demanda. Castelo Branco disse acreditar, por esse motivo, que a redução no ritmo da queda da taxa básica (Selic) de juros pelo Comitê de Política Monetária (Copom), decidida no dia 25 de janeiro, não foi influenciada pela capacidade do parque fabril de atender a eventuais aumentos de demanda.

Na reunião, o Copom interrompeu as quedas de 0,50 ponto porcentual na Selic e passou a reduzi-la para 0,25 ponto. Para o economista, a decisão do Copom está mais ligada ao anúncio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da economia, que prevê estímulos fiscais. ?Esta é a análise que nós fizemos e que todos os analistas de mercado estão fazendo?, disse Castelo Branco.

Acrescentou, no entanto, que a decisão do Copom de reduzir a dimensão da queda da taxa não pode ser considerada uma surpresa, porque o Banco Central já vinha anunciando mudança no patamar de baixas. ?A utilização da capacidade instalada da indústria mostra que é possível crescer sem causar tensões nos mercados. Por isso, não achamos que essa seja a razão para o Banco Central mudar o patamar da queda dos juros?, afirmou Castelo Branco.

PAC

Ele disse que, além das medidas fiscais previstas no PAC, preocupa os analistas também o fato de o programa não ter uma contenção de gastos públicos. Para o economista da CNI, a queda nos gastos correntes é importante para aumentar os investimentos e, em conseqüência, gerar taxas maiores de crescimento econômico.

Castelo Branco entende que a redução dos juros, nos últimos meses, não foi suficiente para estimular um avanço da economia em ritmo maior. Ele citou como entraves as taxas de crescimento maiores a carga tributária, os problemas em infra-estrutura, a burocracia e os gastos correntes do setor público. Segundo o economista, o setor público é responsável por 40% dos gastos da economia como um todo, mas responde por apenas 15% do total de investimentos.

Impostos

O economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Estêvão Kopschitz disse que o câmbio não pode ser considerado, de forma isolada, como responsável pelo crescimento menor da produção industrial em 2006 (2,8%) do que o apurado em 2005 (3,1%). Para ele, a carga tributária elevada tem um efeito até mais forte sobre a atividade da indústria do que a cotação do dólar. ?Não gosto de isolar o câmbio como culpado, há outras coisas muito importantes dificultando o crescimento, como a carga tributária?, disse.

Para Kopschitz, ?se por um lado o câmbio é visto como um vilão, por outro facilita a importação de máquinas e equipamentos, que contribuem para o aumento da capacidade (da indústria)?.

O economista considera a ?composição? do crescimento da produção industrial em 2006, com aumento do impacto de bens de capital no resultado, como um dado positivo para o setor em ano ?em geral muito parecido com 2005?.

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