O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, repetiu nesta quinta-feira, 16, a mensagem da instituição na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de que o arrefecimento da atividade observado no final de 2018 teve continuidade no início de 2019, com probabilidade relevante de que o PIB tenha recuado ligeiramente no primeiro trimestre do ano.

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“Os indicadores do primeiro trimestre induziram revisões substantivas nas projeções para o crescimento do PIB em 2019 compiladas pela pesquisa Focus. Atualmente, o mercado projeta um crescimento da ordem de 1,5% para 2019 e de 2,5% para 2020”, afirmou, em audiência na Comissão Mista de Orçamento (CMO) do Congresso Nacional.

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Assim como na ata, Campos Neto, argumentou que a economia brasileira sofreu diversos choques ao longo de 2018, que produziram impactos sobre a economia e aperto relevante das condições financeiras.

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“Embora tendam a decair com o tempo, seus efeitos sobre a atividade econômica persistem mesmo após cessados seus impactos diretos. Esses choques devem ter reduzido sensivelmente o crescimento que a economia brasileira teria vivenciado na sua ausência e alguns de seus efeitos ainda persistem”, repetiu o presidente, na forma do documento publicado na última terça-feira.

Campos Neto ressaltou que incertezas sobre aspectos fundamentais do ambiente econômico futuro – notadamente sobre sustentabilidade fiscal – têm efeitos adversos sobre a atividade econômica.

“Em especial, incertezas afetam decisões de investimento que envolvem elevado grau de irreversibilidade e, por conseguinte, necessitam de maior previsibilidade em relação a cenários futuros”, repetiu ele, conforme a ata. “Acertando a trajetória fiscal, rapidamente veremos a recuperação do investimento”, comentou em seguida.

Também conforme o documento do Copom, o presidente do BC destacou que a manutenção de incertezas quanto à sustentabilidade fiscal tende a ser contracionista. “Por outro lado, reformas que geram sustentabilidade da trajetória fiscal futura têm potencial expansionista, que pode contrabalançar efeitos de ajustes fiscais de curto prazo sobre a atividade econômica, além de mitigar os riscos de episódios de instabilidade com elevação de prêmios de risco, como o ocorrido em 2018, contribuindo assim para a redução da incerteza e viabilizando investimentos”, reforçou.

Crédito

O presidente do Banco Central citou dados da recuperação do mercado de crédito e da confiança empresarial para afirmar que, apesar da interrupção recente do processo de recuperação gradual da atividade econômica, deverá haver retomada adiante.

“Essa hipótese se sustenta, entre outros fatores, no crescimento da confiança empresarial, medida pela Fundação Getulio Vargas – FGV, na tendência gradual de recuperação do investimento, conforme indicam dados do IBGE, no patamar estimulativo da política monetária e na recuperação observada no mercado de crédito”, disse ele, na audiência na Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional.

Inflação

O presidente do Banco Central afirmou também que, apesar da economia brasileira ter sofrido diversos choques ao longo de 2018, a atuação do BC nos momentos de maior volatilidade teria sido fundamental para a manutenção da funcionalidade dos mercados e para o amortecimento dos impactos desses choques sobre os preços. “Em um contexto de incertezas sobre aspectos fundamentais do ambiente econômico futuro, a atuação da política monetária permitiu a consolidação da inflação em torno da meta e a ancoragem das expectativas de inflação; a consolidação das taxas de juros em níveis historicamente baixos; e a sustentação da expectativa de retomada gradual da economia”, comentou.

Ele apontou que as expectativas de inflação encontram-se ancoradas em torno das metas. “Em dezembro de 2015, não se esperava que o BC fosse capaz de controlar o processo inflacionário, mas com a postura de cautela, serenidade e perseverança da política monetária, os agentes econômicos se mostram hoje confiantes na capacidade do BC de controlar a inflação”, acrescentou.

Segundo o presidente do BC, o presente processo de flexibilização monetária tem levado também à queda das taxas de juros reais. “Essas taxas reais, estimadas usando várias medidas, se encontram atualmente próximas de 2,7% ao ano, nível que tende a estimular a economia”, reforçou.

Expansão global

Campos Neto reforçou também mensagem da instituição na ata da última reunião do Copom de que o cenário externo permanece desafiador. “Por um lado, os riscos associados a uma desaceleração da economia global permanecem relevantes. Ainda que os indicadores recentes tenham apresentado surpresas positivas, o Copom avalia que o risco de desaceleração permanece e que incertezas sobre políticas econômicas e de natureza geopolítica podem contribuir para um crescimento global ainda menor”, afirmou, em audiência na CMO.

Ele repetiu ainda que os riscos associados à normalização das taxas de juros em algumas economias avançadas mostram-se reduzidos no curto e médio prazos. “Não obstante tais incertezas, o Brasil apresenta capacidade de absorver um revés no cenário internacional, devido ao seu balanço de pagamentos robusto, à ancoragem das expectativas de inflação e à perspectiva de recuperação econômica”, completou.

Reformas

Em audiência na CMO do Congresso Nacional, o presidente do Banco Central, fez nova defesa pela aprovação e a implementação das reformas, notadamente as de natureza fiscal, e de ajustes na economia brasileira. Segundo ele, isso é essencial para a manutenção da inflação baixa no médio e longo prazos, bem como para a queda da taxa de juros estrutural e para a recuperação da economia.

“Uma aceleração do ritmo de retomada da economia para patamares mais robustos dependerá, também, de outras iniciativas que visam ao aumento de produtividade, ganhos de eficiência, maior flexibilidade da economia e melhoria do ambiente de negócios”, acrescentou ele.

Campos Neto também defendeu mudanças que permitam o desenvolvimento do mercado de capitais. Segundo ele, esse mercado precisa se libertar da necessidade de financiar o governo e se voltar para o financiamento ao empreendedorismo. “Nesse aspecto, medidas de ajuste fiscal podem contribuir. Colocar as contas públicas em uma trajetória equilibrada, através de um ajuste fiscal e de uma reestruturação patrimonial, gera efeitos multiplicadores sobre o mercado de capitais, resultando em uma maior diversificação desse mercado e em um maior número de transações”, completou.

Grupos de trabalho

O presidente do Banco Central disse que a autoridade monetária está criando 14 grupos de trabalho para avaliar medidas de inclusão, competitividade, transparência e educação financeira. “Essas dimensões serão trabalhadas por meio de ações junto a outros órgãos de governo e à sociedade, por meio de alterações infralegais e também de projetos de leis, para os quais nos colocamos à disposição para a colaboração com as iniciativas desse Congresso”, afirmou.

Segundo ele, a instituição se dedica ao desenho de como será o sistema financeiro no futuro, tendo como foco o papel da evolução tecnológica. “Trabalhar na modernização do Sistema Financeiro Nacional é fundamental para alcançarmos esses objetivos – simplificando e desburocratizando o acesso aos mercados financeiros para todos e dando um tratamento homogêneo ao capital, independentemente de sua nacionalidade ou se provém de um grande ou de um pequeno investidor”, completou.

Conforme Campos Neto, para o sistema financeiro, essa mudança tecnológica significa: democratizar; digitalizar; desburocratizar; e desmonetizar. Campos Neto citou ainda ferramentas que precisam ser estimulada como: blockchain; serviços de nuvem; inteligência artificial; e digitalização.

Autonomia do BC

Ele voltou a defender o projeto de autonomia do Banco Central. “Acreditamos ainda que um BC autônomo, como estabelece projeto de lei atualmente em discussão nesse parlamento, proporcionaria uma redução de incertezas econômicas e dos prêmios de risco, o que nos levaria a uma melhor condição de consolidar os ganhos recentes e abrir espaço para os novos avanços que o país tanto precisa”, concluiu.

Política monetária

O presidente do Banco Central encerrou sua apresentação inicial na audiência na CMO do Congresso Nacional defendendo mais uma vez o caminho das reformas, notadamente as de natureza fiscal, além de ajustes na economia. “É importante mantermos os ganhos alcançados na condução da política monetária”, destacou.

Campos Neto reforçou suas intenções de seguir trabalhando para manter a estabilidade das condições macroeconômicas e promover reformas estruturais no SFN. “Queremos democratizar os mercados, para promover a participação de mais pessoas e empresas: pequenos e grandes; nacionais e estrangeiros; e alcançar um maior crescimento do PIB. E queremos aumentar a eficiência do SFN, para permitir que a redução da necessidade de financiamento do governo abra espaço para o investimento privado”, completou.