Ao indicar o nome de Ivan Monteiro para a presidência da Petrobrás, o governo tenta dar uma cartada de recuperação da credibilidade da empresa entre os investidores, que enxergam no executivo características exigidas de uma liderança capaz de recuperar as finanças da companhia.
Foi o trânsito no mercado financeiro e a aderência às regras de governança da estatal que garantiram a Monteiro a confirmação de seu nome no cargo. A indicação ganhou força ao longo do dia, quando ficou claro que a pressão política cresceria. A primeira opção com perfil técnico, a diretora de exploração e produção, Solange Guedes, perdeu força na disputa.
Indicado pelo presidente Michel Temer para ficar em definitivo no cargo, Monteiro terá agora o desafio de afastar o temor de que o governo volte a interferir na gestão da empresa.
“A questão é se interferências como essa vão continuar a existir e com que frequência. Como as eleições estão se aproximando, ele terá um mandato tampão. O novo presidente da República vai escolher um presidente para a Petrobrás alinhado com o novo governo. A missão do Ivan vai ser levar a empresa até lá da melhor maneira possível. Vai ser um trabalho duro”, afirmou Maurício Canêdo, professor da Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getúlio Vargas.
Missão. Os conselheiros da estatal vão tentar blindar Monteiro de interferências políticas, segundo fontes ouvidas pelo Estadão/Broadcast. O nome de Monteiro foi consenso entre os membros do colegiado, que terá o desafio de resistir às tentativas de ingerência de Brasília e fazer cumprir o plano estratégico traçado para a Petrobrás de continuar vendendo negócios que não são considerados relevantes para petroleira.
Monteiro chegou à estatal, acompanhando o ex-presidente Aldemir Bendine, com quem já trabalhava no Banco do Brasil. Bendine está preso – ele foi condenado a 11 anos de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro em processo da Operação Lava Jato.
No mercado financeiro, embora tenha credibilidade, Monteiro não é visto como um nome livre de interferências políticas. Há dúvida quanto ao desgaste sofrido por ele ao assinar, junto com Pedro Parente, a decisão de baixar e congelar o preço do óleo diesel. O mercado penalizou as ações da petroleira por considerar que esse foi um passo em falso, mais alinhado com os interesses políticos do que com os dos acionistas.
Preços. Mesmo assim, espera-se que Monteiro pacifique a discussão sobre a política de preços e mantenha a estratégia de desinvestimentos da companhia, que começou ainda na gestão de Bendine e que ele se encarregava de comunicar ao mercado em apresentações rotineiros a investidores.
Monteiro também é a liderança por trás da atual política de preços de derivados de petróleo. Ele está à frente do grupo que, nos últimos três anos, define os valores dos combustíveis. Foi com ele que a equipe econômica negociou nesta semana a subvenção do diesel para desbloquear as estradas, e não com Parente. Monteiro também encabeça as discussões iniciadas por Parente para que os procedimentos de governança aprovados em sua gestão sejam cumpridos. Um deles é o de contratação a partir de uma lista tríplice de candidatos escolhidos por uma consultoria externa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. / Colaborou André Ítalo Rocha