A indexação que persiste em boa parte dos preços, segundo analistas, deve impedir um recuo mais acentuado da inflação deste ano, o que poderia ocorrer por causa da forte recessão, do aumento do desemprego e da queda na renda. Para 2016, é esperado um avanço de 7,5% na inflação e uma retração de 3,2% no Produto Interno Bruto (PIB), de acordo com o último Boletim Focus, do Banco Central.

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A alta de 1,27% do IPCA em janeiro, a maior para o mês desde 2003, surpreendeu os economistas. Também revelou a forte presença da indexação formal e informal, isto é, o mecanismo pelo qual os preços são reajustados por meio de contratos ou simplesmente porque o prestador do serviço ou o vendedor do produto informalmente aumenta o preço para preservar renda.

Dos 384 itens que compõem o IPCA, o índice oficial de inflação, os economistas não sabem exatamente quantos são indexados. O que se pode dizer é que os preços administrados, que geralmente seguem uma regra para serem reajustados, representam um quarto do indicador. De toda forma, especialistas concordam que a indexação está espalhada por todo o IPCA.

Indexação informal

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Cerca de 70% da inflação de janeiro pode ser explicada pelo choque de preços dos alimentos in natura, por causa do efeitos climáticos do El Niño, e pelo reajuste das tarifas de ônibus urbanos, apontou o IBGE. “Mas houve uma pressão de preços que tem a ver com a indexação, isso não dá para negar”, diz Fábio Romão, economista da LCA Consultores. Como parte das rédeas da inflação se perderam, a indexação informal apareceu de maneira importante e disseminada no IPCA neste início de ano, explica.

Retrovisor

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Como exemplo, ele citou o aumento de 1,27% dos preços dos serviços de saúde, que incluem consulta médica e serviços dentários. “Esse profissional liberal aproveitou a virada do ano para reajustar preço e o aumento de 2016 foi mais salgado do que o de janeiro de 2015 (0,99%), porque ele olhou pelo retrovisor e viu que a inflação de 2015 (10,67%) foi mais alta do que a que ocorreu em 2014 (6,40%).”

Na avaliação de Elson Telles, economista do Itaú Unibanco, depois de o IPCA ter atingido dois dígitos em 2015, todo o reajuste deste início de ano vai levar em conta essa inflação passada. “Com a inflação passada de dois dígitos, a indexação aumenta porque as pessoas não querem perder renda.” Telles citou o reajuste dos ônibus urbanos ocorrido no início do ano, cuja média foi de 10%.

Outro caso de indexação, porém prevista em contrato, que afeta o IPCA neste começo de ano é do reajuste da mensalidade escolar. Benjamin Ribeiro da Silva, presidente do Sindicato dos Estabelecimento de Ensino no Estado de São Paulo (Sieeesp), disse que o aumento médio neste ano foi de 12%, seguindo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). Isso porque o item que mais pesa nos custos da escola, cerca de 60%, é a folha de salários, que é reajustada pela variação do INPC. “Não podemos reajustar menos do que isso. As escolas estão no limite”, disse.

Respiro

Apesar de a inflação acumulada em 12 meses estar ganhando força neste momento por causa da alta dos preços dos alimentos in natura, do recente reajuste de tarifas de transporte e da inflação herdada de 2015 que aparece nos preços indexados formal e informalmente, Romão ponderou que, ao longo do ano, poderá ocorrer algum “respiro” por causa do reajuste menor dos preços administrados, que subiram 18% no ano passado e neste ano devem subir bem menos da metade.

Além disso, a queda real de 3,7% na renda dos trabalhadores em 2015, com mais força no segundo semestre, deve ter impactos mais expressivos sobre a demanda e a inflação na segunda metade deste ano. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.