Brasília – O saldo da dívida pública bateu novo recorde em julho, atingindo um total de R$ 674,40 bilhões, com um crescimento de R$ 20,65 bilhões, ou 3,16%, sobre junho. Mais uma vez, o nervosismo no mercado financeiro contribuiu para elevar o saldo, encurtar prazos de vencimento e aumentar a parcela da dívida sujeita à variação do câmbio, compondo um quadro de deterioração do perfil da dívida. A situação deve começar a mudar este mês, com a recente queda nas taxas de câmbio.
Medidas adotadas pelo Tesouro e pelo Banco Central em julho impediram uma piora mais acentuada do perfil da dívida pública. Naquele mês, foram resgatados R$ 18,6 bilhões em títulos. Essa operação, porém, não foi suficiente para impedir o crescimento do saldo, impulsionado pela alta de 20,54% do dólar.
Além disso, foram resgatados R$ 35,4 bilhões em títulos corrigidos pela variação cambial, reduzindo sua participação no total da dívida de 29,87% para 28,49%. No entanto, no mesmo período o Banco Central celebrou contratos (de swap) que protegem os detentores de papéis corrigidos pela taxa Selic contra perdas com a desvalorização do real. Dessa forma, mesmo havendo menos títulos atrelados ao dólar, a exposição da dívida ao câmbio subiu de 33,15% para 37,5%.
O dólar começou o mês de julho cotado a R$ 2,8440, subindo para R$ 3,4285 no dia 31. Em agosto, porém, a cotação registra queda. Ao câmbio de ontem, de R$ 3,09, o saldo da dívida corrigida pelo câmbio tem uma redução de R$ 28,3 bilhões, passando dos R$ 249,84 bilhões em julho para R$ 221,54 bilhões.
Segundo o coordenador-geral de Administração da Dívida Pública do Tesouro, Paulo Valle, o efeito da queda da cotação do dólar poderá servir de contraponto às operações de troca de papéis com vencimento entre 2004 e 2006 por títulos com vencimento em 2003, que estão sendo feitas pelo BC para tentar resolver a sangria dos fundos de investimentos no País.
Por causa dessas trocas, o total da dívida que vence em até 12 meses subiu de 34,92% para 36,60%. Em julho, o prazo médio de vencimento dos papéis do estoque total da dívida pública teve uma ligeira queda, passando de 32,86 meses para 32 58 meses.
Segundo o chefe do Departamento de Operações do Mercado Aberto (Demab) do BC, Sérgio Goldenstein, em agosto foram rolados apenas 47,6% dos vencimentos de principal dos papéis cambiais. A queda pelo segundo mês consecutivo no volume de rolagem dos papéis com correção atrelada à taxa de câmbio se deve à falta de demanda por hedge no mercado. “O dólar está caro e a perspectiva é de uma cotação menor”, disse Goldenstein.
Os dados divulgados ontem pelo Tesouro Nacional e Banco Central mostram ainda que as instituições nacionais (bancos comerciais, corretoras e distribuidoras) adquiriram 83,08% dos títulos emitidos em julho. As instituições estrangeiras compraram o restante dos títulos vendidos pelo governo federal. As instituições nacionais compraram 82,38% das Letras do Tesouro Nacional (LTNs) e 100% das Letras Financeiras do Tesouro (LFTs) vendidas. Também adquiriram 58,32% das Notas do Tesouro Nacional (NTNs) série C emitidas no período.
A dívida federal interna em títulos públicos já cresceu este ano R$ 50,32 bilhões. A ampliação da dívida teria sido ainda maior se o Tesouro Nacional e o Banco Central não tivessem aumentado o volume de resgate de títulos ao longo do ano. Até julho, o Tesouro e o BC tiraram do mercado R$ 74 bilhões, volume já bem superior ao resgate líquido feito em 2000 e 2001. Em 2000 o resgate líquido de títulos do Tesouro e do BC foi de R$ 30,6 bilhões e, em 2001, R$ 40,2 bilhões.