O setor bancário em Londres vive um clima de incerteza em relação à saída do Reino Unido da União Europeia, o chamado Brexit. Sexta-feira foi o último dia para que as instituições apresentassem ao Banco da Inglaterra (BoE) suas estratégias e o que pretendem fazer após a saída do bloco econômico. Mas a falta de regras e de referência têm gerado um desconforto entre os banqueiros.

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O Estadão/Broadcast procurou seis instituições financeiras que atuam em Londres e no mercado brasileiro e ouviu da maioria que há intenção de permanecer com sua unidade na cidade após a saída da União Europeia, mas que tudo dependerá das condições de trabalho. “Temos de apresentar nossas intenções, mas a verdade é que estamos totalmente no escuro”, disse uma fonte de um banco estrangeiro que também tem grande presença no Brasil.

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No início de abril, bancos, seguradoras e corretoras receberam um comunicado do BoE informando que teriam de detalhar suas intenções de atuação no país depois que o Brexit for finalizado. Oficialmente, as negociações com a União Europeia (UE) tiveram início no fim de março e a expectativa é de que se estendam pelos próximos dois anos. A carta do BoE, enviada em 7 de abril para as empresas financeiras que tivessem atividades entre o Reino Unido e o bloco comum, alertava para que as companhias estivessem prontas para todos os resultados possíveis de negociação com a UE, incluindo o chamado “hard Brexit”, em que é prevista uma separação mais drástica do bloco.

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A advertência do BoE era para que as empresas montassem seus planos de contingência. O presidente do BoE, Mark Carney, já solicitou um sistema financeiro aberto entre o Reino Unido e a UE depois da separação. Alegou, inclusive, que poderia se tratar de um exemplo para o resto do mundo.

Essa hipótese, bem como as regras de atuação do setor, no entanto, não estão entre as prioridades das tratativas, que primeiro passam pelos direitos dos cidadãos, de questões comerciais e de um pedágio que a Inglaterra e seus vizinhos terão de pagar para saírem do bloco único. Sexta-feira foi a primeira vez que o governo local admitiu de forma clara que terá de pagar essa “multa”.

O que dificultou a elaboração de um plano sólido para o futuro, de acordo com representantes das instituições ouvidas pelo Estadão/Broadcast, é justamente a falta de informação sobre o que essas empresas terão permissão para fazer a partir de Londres.

Por isso, algumas delas apresentaram ao BoE um planejamento com base em diferentes cenários, do mais suave ao mais duro.

Passaporte

“O que definirá se vamos ficar ou não na Inglaterra é a questão do passaporte”, disse uma das fontes em relação ao instrumento que permite hoje que bancos e seguradoras britânicos possam fazer negócios e ter clientes no restante da Europa. “O que escrevemos no relatório para o BoE foi que a nossa intenção é a de ficar, mas que, sem o passaporte, isso não será possível”, disse outra fonte.

Londres é a capital financeira da Europa e não está nem um pouco disposta a perder o posto – tampouco os empregos e a renda que são gerados por ele. Nenhum grande banco já anunciou uma derrocada da cidade, mas aqui e ali anunciam transferências de parte de suas operações para outras cidades da Europa. Frankfurt é uma das mais analisadas atualmente. Paris é outro destino que vem sendo observado, principalmente depois de atrativos oferecidos pela França há alguns dias, como isenção de alguns impostos e a garantia de escola para os filhos dos funcionários em sua língua natal, entre outros benefícios. Dublin, na Irlanda, também vem sendo considerada.

Outra questão levantada por um executivo de uma instituição que tem negócios em Londres e em Zurique é que a Suíça está particularmente interessada no desfecho que haverá entre as partes sobre o “passaporte” financeiro. Membro da União Europeia, mas não da zona do euro, o país vai exigir da UE receber o mesmo tratamento dado aos britânicos se for o caso de preservar os negócios do setor.

“A questão é que embolou para todos os lados e, enquanto temos de dar respostas sobre o que vamos fazer, o Reino Unido não diz o que vai nos entregar”, disse o executivo.

O BoE fará a análise das estratégias das empresas de forma individual e confidencial para não interferir na concorrência. A expectativa é de que o Prudential Regulation Authority (PRA), setor de regulação da instituição, examine as respostas enviadas nestes últimos três meses para o BoE durante o verão europeu que se estende quase até o fim de setembro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.