A desaceleração do ritmo de alta do comércio por dois anos seguidos está freando os investimentos em abertura de lojas de varejistas médias e pequenas, que são a maioria do setor. Enquanto isso, as grandes redes mantêm os planos de expansão.

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No mês passado, a intenção de investimento dos empresários do comércio na empresa, considerando todos os portes, atingiu o nível mais baixo em três anos e meio na cidade de São Paulo. Em setembro, o indicador, que é um termômetro do ritmo de abertura de lojas, investimentos em estoques, por exemplo, ficou em 85,2 pontos, com queda de 17,7% em relação a setembro do ano passado. Foi a quinta retração mensal consecutiva, segundo pesquisa da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio/SP), que ouviu 541 companhias.

Quando se avalia a intenção de investimento pelo tamanho da empresa, as menores, com até 50 funcionários, registraram retração de 18,2% em 12 meses até setembro, enquanto as maiores tiveram um avanço de 2,7% no mesmo período.

“O cenário não dá confiança para ampliar o investimento, 2015 está em aberto. Há muita indefinição”, afirma o assessor econômico da Fecomércio/SP, Altamiro Carvalho.

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O cenário que levou os empresários à pisada no freio na expansão neste ano foi o fim da década de ouro do varejo. Entre 2004 e 2012, o volume de vendas do varejo restrito, que não inclui veículos e material de construção, cresceu 7,9% ao ano. No ano passado, a alta foi de 4,3%, com perspectiva de crescer 3% este ano, diz o diretor de estudos e pesquisas econômicas da consultoria GS&MD, Eduardo Yamashita. “Os varejistas estão mais conservadores. Eles estão revendo os planos e as vendas projetadas.”

A revisão de planos de expansão é nítida em empresas menores, que sentem mais as oscilação das vendas e estão mais sujeitas à elevação dos juros. Depois de abrir 90 lojas em 2013, a Chilli Beans, revenda de óculos e acessórios, esperava inaugurar 45 pontos de venda franqueados este ano. Mas encerra 2014 com 37 novas lojas, conta o diretor de expansão da companhia, Marinho Ponci.

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O grupo Afeet, que revende tênis nas lojas com bandeiras Authentic Feet, Tennis Express, Artwalk e Magicfeet, é outra rede de franquias que pisou no freio. Segundo o gerente de marketing do grupo, Flavio Monaco, a perspectiva era abrir 35 lojas este ano, mas foram inauguradas nove. A média dos últimos anos era inaugurar entre 20 e 30 pontos de venda. “Não temos uma previsão sobre a expansão em 2015”, diz Monaco.

Crédito

Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo, ressalta que segmentos cujas vendas dependem do crédito, eletrodomésticos e moda são os que estão mais cautelosos em relação aos planos de expansão, enquanto aqueles cujo consumo está ligado à renda, como alimentação e drogarias, são menos suscetíveis.

A Cybelar, por exemplo, revenda de eletrodomésticos e móveis do interior de São Paulo, está cautelosa. “Não tínhamos um projeto ousado para este ano, pois o plano era absorver as lojas compradas da Colombo”, diz o diretor, Ubirajara Pasquotto. O plano inicial era inaugurar cinco lojas, mas foram apenas três. Para o ano que vem, ele diz que vai continuar cauteloso: o plano é abrir seis pontos de venda. “Não vamos acelerar a expansão. Queremos ter caixa para aproveitar negócios de oportunidade”, conta.

No segmento de artigos de vestuário, a Lojas Marisa, que abriu 39 pontos de venda em 2013, encerra este ano com 15 inaugurações, segundo o diretor de expansão, Ricardo Ribeiro. Ele acrescenta que foram reformadas mais seis lojas.

De acordo com o executivo, apesar dos acontecimentos desfavoráveis ocorridos no varejo este ano, como Copa do Mundo e eleições, a rede conseguiu cumprir a meta programada, que considerava esses fatores. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.