O presidente da Serasa, empresa de análise de crédito, Francisco Valim, afirmou hoje que a taxa de inadimplência no crédito às pessoas físicas no Brasil está subindo desde 2007.
Atualmente, está em 8,3% do total de crédito o porcentual de créditos atrasados há mais de 90 dias, segundo dados de março do Banco Central. Valim, que participou de audiência pública da Comissão Especial da Câmara criada para acompanhar os efeitos da crise financeira internacional, disse, no entanto, que essa elevação da inadimplência no Brasil foi pouco afetada pela crise financeira.
“Não houve reflexo negativo significativo da crise no mercado de crédito às pessoas físicas”, declarou Valim. No entanto, ele destacou que a crise provocou, desde o final do ano, certa retração das pessoas em tomar novos empréstimos. “E isso devido às incertezas quanto à empregabilidade”, afirmou.
Para o presidente da Serasa, a inadimplência no crédito às pessoas físicas no Brasil é alta e tem causas estruturais. “Um dos principais problemas é a forte concentração do crédito, porque é sempre a mesma parcela da população que toma crédito”, afirmou. Isso, segundo ele, leva em alguns momentos ao “superendividamento” dessas pessoas que acabam atrasando os pagamentos.
“Há ainda, no Brasil, o fenômeno da seleção adversa”, afirmou ele, explicando que a denominação se refere ao fato de a alta taxa de inadimplência ter uma participação de quase 40% da formação dos spreads (diferença entre o juro pago pelo banco na captação dos recursos e o juro cobrado do cliente). “Isso significa que todos que tomam crédito pagam pela inadimplência de alguns. É a socialização da inadimplência”, comentou.
Cadastro positivo
Valim defendeu a aprovação da criação de cadastros positivos no Brasil, como uma importante estratégia de redução da inadimplência e da ampliação do acesso ao crédito. Ele disse hoje aos deputados da Comissão Especial da Câmara criada para acompanhar os efeitos da crise financeira internacional que um dos fatores que contribuem para o custo alto e as dificuldades de acesso ao crédito é a falta de informações sobre os tomadores de crédito. “Quando os concedentes de crédito não têm muitas informações sobre os tomadores, há uma elevação dos custos embutidos nesse crédito”, afirmou.
Ele disse aos deputados que o sistema atual, que só compartilha a informação negativa sobre o crédito, acaba excluindo muitos pedidos de concessão de crédito. Segundo ele, de cada 100 mil pedidos de empréstimos feitos hoje, 11,4 mil são perdidos devido ao uso exclusivo de dados negativos. Segundo ele, hoje as avaliações de crédito são feitas com base em informações básicas como nome, endereço, telefone, dívidas ativas, renda atual ou estimada, profissão, ocupação e cônjuge.
Com o cadastro positivo, as informações ficariam mais qualificadas para os concedentes do crédito, tais como histórico dos compromissos financeiros anteriores dos clientes e o perfil de pagamento que os clientes apresentaram nos últimos tempos. “Conhecer o cliente leva os concedentes de crédito a reduzirem as incertezas que influenciam nas taxas cobradas”, comentou.
Tramita atualmente na Câmara dos Deputados um projeto de lei que autoriza a criação deste tipo de cadastro positivo no Brasil. O projeto está pronto para votação em plenário, mas ainda não houve acordo entre os líderes partidários que permita a votação da proposta.