O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, afirmou ontem que a desaceleração da economia este ano é resultado de um "esforço deliberado" de contenção da inflação. "Não é um acidente, não dá para dizer que aconteceu por acaso. Medidas monetárias foram tomadas para esfriar a economia, associadas a questões conjunturais, como a quebra de safra agrícola", afirmou.
Furlan evitou a polêmica sobre a dosagem utilizada pelo Banco Central (BC) para baixar a inflação, mas afirmou que houve exagero em diversas áreas, inclusive no comércio exterior.
"Nós não desejávamos US$ 44 bilhões de superávit este ano. O Brasil não precisa de um superávit de US$ 44 bilhões." Segundo ele, o saldo elevado é resultado do esfriamento da economia, que derrubou as importações. "O ideal para 2006 é que as importações cresçam numa velocidade maior que as exportações", disse. "Em 2006, terão de ser ajustadas as metas em várias áreas para que o Brasil possa crescer e as empresas ganhem competitividade."
Para o ministro, "em condições normais" o superávit comercial poderia ser de US$ 20 bilhões. Ele chamou de condições normais uma taxa de juros de um dígito (hoje é de 18,5% ao ano). Segundo ele, um superávit comercial elevado era essencial no início do governo para "dar uma grande zona de conforto" ao risco país e aos investidores internacionais. Furlan lembrou que nos três anos de governo Lula, o saldo comercial é de mais de US$ 100 bilhões e deve ficar acima de US$ 30 bilhões em 2006.
Balança
Furlan informou que o superávit comercial atingiu ontem os US$ 41,183 bilhões, resultado de exportações de US$ 110,045 bilhões e importações de US$ 68,862 bilhões. Ele disse que a meta de US$ 117 bilhões de exportações este ano será superada. O saldo comercial deve ficar em US$ 44 bilhões, US$ 2 bilhões acima da estimativa do governo. Diante dos dados de 2005 o ministro disse que a meta de US$ 120 bilhões de exportações em 2006 será revista.
Resultado setorial
Furlan avaliou que as empresas passam por "um período de provação", mas se saem muito bem. Segundo ele, a combinação de câmbio valorizado e juro alto tem impacto tanto no comércio exterior quanto na demanda interna. Como exemplo, citou o setor de calçados. "É um setor que, infelizmente, sofre mais que os outros. Inflação aleija, mas câmbio mata, como dizia Mário Henrique Simonsen", disse Furlan, parafraseando o ex-ministro da Fazenda.
MP do Bem
Furlan disse não fazer parte das prioridades do governo neste momento editar a "MP do Bem 2", que prevê a desoneração de produtos da cesta básica e da construção civil. A prioridade é aprovar a Lei Geral das Pequenas e Microempresas, que já se está no Congresso.
