Buenos Aires
– Nem tudo está em baixa na economia argentina. Com a desvalorização do peso e o conseqüente encarecimento dos produtos importados, setores da indústria nacional estão ressurgindo das cinzas. Com isso, calçados, têxteis, madeiras, alimentos, autopeças, plásticos e eletrodomésticos nacionais estão voltando às prateleiras das lojas. É a vez do made in Argentina ? ou do hecho in Argentina.Depois de mais de uma década de superioridade estrangeira, as fábricas do país começam a recuperar o fôlego perdido. Somente em agosto passado, a produção industrial do país cresceu 2,7%, em comparação com o mês anterior.
No mesmo período, as vendas nos shoppings de Buenos Aires aumentaram 2,8%, em grande medida por causa do turismo, que está voltando a injetar divisas no país.
? A recuperação ainda é lenta, porque se trata de setores que foram arruinados com a abertura da economia na década de 90 e o forte poder competitivo das mercadorias de fora. Esses setores praticamente desapareceram das prateleiras durante dez anos. E a falta de crédito ainda torna demorada a reativação. Mas o processo de substituição das importações está em marcha e veio para ficar ? disse o economista Fábio Rodríguez, da Fundação Capital.
Segundo ele, a economia argentina parou de cair:
? Temos muitos anos pela frente de dólar elevado, acima de três pesos, e essa vantagem está sendo aproveitada pelos empresários locais. Após anos de concorrência desleal com os produtos importados, hoje temos a chance de favorecer a produção nacional ? enfatizou Rodríguez.
Um dos setores mais beneficiados pela mudança de regime cambial é o calçadista. No primeiro semestre deste ano, as importações de calçados despencaram 84%, segundo informaram empresas argentinas. A fábrica Alpargatas, uma das mais tradicionais do país, assinou um contrato com a Fila para fabricar tênis e indumentária esportiva. Sem dúvida, é um cenário bem melhor do que o do ano passado, quando a empresa teve de dispensar grande parte de seus 3.600 empregados.
Por sua vez, a Gatic, que andou à beira da falência, renovou o contrato com a Reef, a Asics e a Arena, e hoje está em plena negociação com a poderosa Nike. No caso dos têxteis, a situação é similar. Para a empresária Yamila Salem, dona de uma loja de toalhas e lençóis, a mudança foi radical.
? Até o ano passado importávamos tudo do Brasil e da Ásia, mas hoje isso é impossível. Não podemos pagar 40 pesos (US$ 11) por uma dúzia de toalhas, porque o consumidor não teria como comprá-las ? disse Yamila, que passou a abastecer seus estoques totalmente em fábricas locais. Ela admite que a qualidade não é a mesma, mas que não tem alternativa:
? Temos de nos adaptar à realidade do país ? diz.