O dólar encerrou ontem em seu maior valor em dois meses, cotado a R$ 3,665 para venda e R$ 3,66 para compra, uma alta de 1,66%. A moeda norte-americana não custava tão caro desde que fechou a R$ 3,74 em 13 de dezembro. Enquanto isso, o risco Brasil subia 1,89% para 1.347 pontos.
A motivação para os investidores voltarem a comprar dólares é o temor de guerra no Iraque, cada vez mais forte. Os últimos dias foram de poucos negócios, com a maioria esperando fora do mercado para ter um cenário mais definido sobre a guerra.
Ontem, eles voltaram ao mercado para comprar dólares e pagar contas no exterior antes que o conflito estoure. Entretanto, as operações estiveram concentradas no mercado de dólar à vista – o chamado “spot” – em detrimento ao mercado futuro, o que indica que o dinheiro não é para “hedge”(proteção cambial), mas para pagar contas.
Ainda assim, a eclosão de uma guerra não significa necessariamente que a moeda avance para níveis ainda mais altos. Segundo Marco Antonio Azevedo, gerente de câmbio do Banco Brascan, o que está embutido na atual cotação é apenas o medo da guerra.
“Uma vez começada a guerra, teremos uma noção mais clara sobre quanto tempo ela demoraria e qual o tamanho dos prejuízos. Se essa noção for de uma guerra mais longa, o dólar ainda pode subir mais, mas se for de uma guerra mais rápida, a cotação pode voltar”, afirmou.
Linhas
O dólar chegou a reduzir a alta e esboçar uma recuperação logo após o diretor de política monetária do banco central, Luiz Fernando Figueiredo, confirmar que as linhas para exportação leiloadas ao mercado no ano passado para melhorar o crédito das empresas e que vencem entre fevereiro e abril, num total aproximado de US$ 1,5 bilhão, serão recompradas em reais, e não em dólares, como se cogitou.
A notícia melhora a expectativa de liquidez em moeda estrangeira do mercado e pode refletir na cotação.
“Acho que daqui para frente, até a guerra, o dólar deve registrar quedas pontuais nos dias de vencimentos dessas linhas”, afirmou Azevedo.
O primeiro vencimento, de US$ 238 milhões, está marcado para o dia 21, sexta-feira da semana que vem.
Importação de usados deve baratear pneus
O decreto assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, liberando de cobrança de multa a importação de pneus reformados dos países do Mercosul, não deve trazer benefício imediato à maior indústria de pneus remoldados do País, a BS Colway Pneus, instalada em Piraquara, Região Metropolitana de Curitiba. A informação é do presidente da BS e da Associação Brasileira de Indústria de Pneus Remoldados, Francisco Simeão, que alega que 100% das carcaças importadas pela BS vêm da Europa. “O decreto ajuda, mas não é o suficiente, porque o grande fornecedor do Brasil não é o Mercosul, mas sim a Europa. Temos hoje apenas meia dúzia de indústrias instaladas na Argentina, Paraguai e Uruguai”, analisa.
Apesar disso, Simeão elogia a iniciativa do governo federal. “O novo governo corrigiu um pedaço que estava errado. Não tenho dúvidas de que em 2003 ele irá regulamentar o setor e liberar a importação geral”, aposta Simeão. “Se isso acontecer, o preço dos pneus deve cair, e o consumidor vai poder comprar mais barato.” A previsão, segundo ele, é que os preços caiam em 5% num primeiro momento, com o decreto de Lula. Caso a importação geral seja liberada, a redução pode ser ainda maior: cerca de 20%.
“A liberação da importação vai permitir que o mercado dispute seus clientes e deve acabar com a hegemonia das multinacionais”, acredita Simeão. A compra de pneus reformados, assim como de pneus usados não-recauchutados, está proibida oficialmente no Brasil pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), sob pena de multa de R$ 400 por pneu importado nessas condições que viesse a ser comercializado, transportado ou armazenado no País.
Para Simeão, o decreto que estipula a multa não passa de uma fraude. “Não existe a palavra pneu em nenhum lugar (da lei). Mas atendendo à solicitação e aos interesses das multinacionais que formam o cartel de pneus – Firestone, Goodyear e Pirelli – o então ministro do Meio Ambiente José Carlos de Carvalho induziu o presidente Fernando Henrique a assinar o decreto 3.919 de 14 de setembro de 2001, estipulando a multa”, acusa Simeão. “Não se pode regulamentar o que não está explicitado na lei . Isso está na Constituição”, defende.
Segundo o presidente da BS Colway, a indústria importa cerca de um milhão de carcaças por ano. Mas graças às liminares na Justiça, não paga as multas. “O plano do Ibama era nos multar em R$ 400 milhões. Mas ganhamos liminarmente no TRF, em Porto Alegre”, conta.
Baixa participação
A participação de indústria de pneus remoldados no Brasil ainda é pequena: representa cerca de 4% do mercado nacional, ou seja, quase dois milhões de pneus em um universo de 45 milhões comercializados. Caso o governo federal venha a liberar totalmente a importação de pneus reformados, a expectativa é que o número de indústrias de remoldados amplie e acirre a concorrência com as de pneus novos.
De acordo com Simeão, em 1990 o pneu novo custava US$ 90 e rodava 25 mil km. Hoje ele vale US$ 32 e dura quase 60 mil km. “Eles tiveram que reduzir os preços e fazer pneus de melhor qualidade”, aponta. Um pneu remoldado da BS custa cerca de 24 dólares e roda, segundo Simeão, até 80 mil km. A reportagem de O Estado tentou entrar em contato com as multinacionais de pneus, mas não obteve retorno.
Codapar prepara armazéns para safra
A previsão do Paraná colher este ano uma safra agrícola de 23 milhões de toneladas de grãos tem gerado expectativas de bons negócios no futuro entre o meio rural. Mas para isso, os agricultores irão precisar contar com armazéns onde possam guardar suas produções com segurança até a venda do produto. A Companhia de Desenvolvimento Agropecuário do Paraná (Codapar), empresa vinculada à Secretaria da Agricultura e do Abastecimento e responsável pela rede de armazéns oficiais do Estado, está promovendo reformas em algumas de suas 15 unidades espalhadas pelo território paranaense, procurando melhorar os serviços prestados ao produtor rural.
Sua rede de armazéns, algumas dispondo de ramais ferroviários, permitindo atuar de forma estratégica como provedoras de soluções logísticas, tem capacidade para receber 264 mil 401 toneladas. Já as duas unidades frigoríficas, uma localizada em Palmas e outra em Guarapuava, somam juntas capacidade para 12 mil toneladas e atendem a produtores de maçãs, batata-semente e outros produtos, do Paraná e Santa Catarina.
Reabilitando a empresa
Além de estar realizando alterações em obras físicas nos armazéns do interior, bem como nos equipamentos de produção (balanças e secadores, entre outros), visando colocar a empresa em condições de receber a safra de milho de verão. O diretor presidente da Codapar, Ney Caldas, afirma que está aguardando decisões do governador Requião e do secretário da Agricultura, Orlando Pessuti, para dar início a novos projetos da empresa. “Estamos trabalhando para tentar corrigir algumas ações que prejudicaram a empresa nos últimos oito anos, como o fechamento de unidades, o sucateamento de máquinas do setor de mecanização, etc. Soma-se a isto também, o fato da empresa não receber nenhum investimento ou incentivo no governo passado”, alerta Caldas.
Salientando que o governo Requião é favorável a parcerias, ele ressalta que a diretoria da empresa tem tomado providências de analisar todos os acordos já existentes, seja com iniciativa privada ou governamental, para dar prosseguimento e tem procurado órgãos federais, para dialogar em busca de novos negócios. “Temos que aproveitar o bom entrosamento entre as vinculadas neste governo e trabalhar em união, para melhorar desempenho das empresas que podem contribuir com o agricultor e em programas que visem fixar o homem no campo”, frisa.
46 anos de atuação
Ao longo de seus quase 46 anos de atuação, a Codapar tem papel importante no desenvolvimento agropecuário do Estado, participando em diversos programas estratégicos de governo, seja nas áreas de armazenagem de produtos agrícolas ou obras de engenharia rural e fomento. Em breve, a empresa também vai administrar em parceria com a Ferropar, a Estação Aduaneira de Cascavel, aguardando apenas a autorização da Secretaria da Receita Federal, para entrar em operação.
Estas ações, de acordo com Caldas, marcam a vivência da empresa em participar de programas que visam erradicar a pobreza no campo, dando condições para que o agricultor e sua família permaneçam em sua propriedade, porém vivendo com dignidade e tirando o sustento de seu próprio trabalho.