Ao lembrar durante evento na capital paulista do convite para fazer parte da equipe econômica do governo Temer, o presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, disse nesta segunda-feira, 12, que aceitou o cargo após ouvir a promessa de que o órgão teria, por meio de um projeto de lei, autonomia.

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“Na reta final (das conversas sobre ida ao governo) houve um pouco de discussão sobre autonomia, sobre que tipo de cargo eu teria. Na época o presidente do BC ia deixar de ter status de ministro, mas tinha uma proposta de dar autonomia para o BC”, afirmou.

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De acordo com Goldfajn, lhe disseram que ele poderia não ser ministro, porque logo a lei passaria. Ele contou que respondeu o seguinte: “assim que tiver uma lei, faço questão nenhuma de ter status de ministro”. “No fim das contas a lei ainda está em discussão”, acrescentou, em tom de lamentação.

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O presidente do BC também disse que o foco de seu trabalho é a economia e que procura ter uma atuação técnica, sem pensar na política. Ele ponderou, contudo, que alguns pontos ligados à política monetária estão atrelados à política, dando como exemplo a aprovação das reformas. “Se a crise política atrapalhar as reformas, isso afeta o meu trabalho”, afirmou.

Ao ouvir de uma participante da plateia que a economia parecia estar blindada da crise política, Goldfajn discordou e comentou que ainda vê riscos no cenário. “Vou continuar trabalhando como comecei, tentando ser o mais técnico possível” afirmou o titular do BC, acrescentando que não tem filiação partidária, que não se sente pessoalmente blindado e que não vai questionar qual situação é melhor ou pior do ponto de vista político.

Ao responder a críticas sobre os juros praticados no País, Goldfajn citou os que dizem que o juro real está “muito alto” e afirmou que quem manda nos juros é a economia, não o BC. “A gente (do BC) faz o que pode”, disse.

Inflação

Ao concluir uma explicação sobre o que é a meta de inflação, em resposta à pergunta de um participante do evento em São Paulo, Goldfajn, afirmou que a meta de inflação do Brasil tem sido de 4,5% nos últimos anos e que o País ainda não teve a “oportunidade” e a “ousadia” de alterá-la.

A avaliação foi feita após o presidente do BC ter dito que, nos países tidos como avançados, a meta de inflação é de 2% e que o Conselho Monetário Nacional (CMN), que define a meta de inflação no Brasil, terá uma reunião ainda neste mês para definir a meta de inflação de 2019.

Goldfajn participou na noite desta segunda-feira de um evento no centro cultural judaico, zona oeste da capital paulista, em que falou sobre a carreira e a influência da religião em sua formação durante entrevista à jornalista Mona Dorf.

Ao introduzir o convidado, Mona fez elogios à melhora da economia, mas disse que ainda falta cortar mais os juros, no que o presidente do BC, que teve reuniões nesta segunda-feira com investidores, respondeu ter ouvido essa crítica o dia todo.

O evento transcorreu, na maior parte do tempo, de modo descontraído. Goldfajn chegou a entregar flores para sua esposa, presente na plateia, a quem conseguiu encontrar pela primeira vez nesse dia dos namorados.

Quando falou sobre seu trabalho, Goldfajn disse que presidir o BC é uma grande responsabilidade e que está satisfeito com os resultados da gestão, apesar dos ossos do oficio. “Tem sempre alguma coisa que você sabe que está errado e tem que arrumar. A gente joga tanto no ataque, propondo agendas e projetos, quanto na defesa resolvendo problemas”, afirmou.

“Na iniciativa privada você sente saudade do setor público e no setor público você sente saudade da iniciativa privada”, acrescentou o presidente do BC, que, durante o evento, também fez críticas ao intervencionismo excessivo do Estado. Ponderou, contudo, que o Brasil, devido a problemas sociais, ainda depende de atuação estatal.