O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, voltou a defender nesta terça-feira, 13, em evento em São Paulo, a aprovação das reformas econômicas encampadas pelo governo Michel Temer – em especial, a PEC 55, que estabelece um teto para os gastos públicos, e a reforma da Previdência. Em discurso, Goldfajn defendeu que a aprovação das reformas é pré-requisito para a economia voltar a crescer.

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“(Devemos) nos manter perseverantes e serenos no caminho da eliminação dos excessos do passado e aprovar as reformas fiscais – incluindo a PEC da Previdência – e reformas para aumentar a produtividade e melhorar o ambiente de negócios”, afirmou. Goldfajn citou ainda o investimento em infraestrutura e a aceleração das concessões como fatores para a economia voltar a crescer.

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“A queda na atividade no curto prazo não significa que não haverá recuperação. Veremos recuperação gradual mais adiante”, disse ainda Goldfajn, lembrando que a pesquisa Focus, do Banco Central, mostra que o ano de 2017 será melhor que o de 2016, enquanto o ano de 2018 será melhor que o de 2017.

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Juros baixos

O presidente do Banco Central afirmou que “todos nós queremos juros mais baixos”. “Esse também é o desejo do BC”, disse. Durante discurso em São Paulo, ele acrescentou que “a questão é como chegar lá”.

“É importante fazê-lo reduzir os juros de forma responsável para ser sustentável no longo prazo. Caso contrário, a trajetória será revertida lá na frente”, pontuou.

Nas duas últimas reuniões de política monetária, o BC reduziu a Selic (a taxa básica de juros) em 0,25 ponto porcentual. A decisão do encontro do fim de novembro, em especial, vem sendo criticada por setores do mercado e do próprio governo. A avaliação é de que, considerando a forte queda na atividade, o BC já teria espaço para adotar cortes maiores da taxa básica, de 0,50 ponto porcentual.

“Há sempre um debate sobre a calibragem da política monetária”, disse Goldfajn no discurso desta terça. “O Copom se reúne de forma frequente e pode adequar as decisões à realidade que se apresenta”, acrescentou.

Goldfajn afirmou, no entanto, que este debate não pode ser confundido com a discussão sobre os juros estruturais da economia. “Esses dependem de fatores reais, como produtividade, grau de incerteza, garantias, respeito a contratos. Reformas fiscais que coloquem em ordem as contas públicas são igualmente importantes. Mas também medidas microeconômicas que melhores o ambiente de negócios”, pontuou.

4 pilares

O presidente do Banco Central voltou a citar os quatro pilares da agenda da instituição: redução sustentável do custo de crédito, aumento da eficiência do sistema financeiro, cidadania financeira e o aprimoramento do arcabouço legal que rege o BC. Nesta semana, o Banco Central deve anunciar medidas relacionadas ao pilar de custo de crédito, como afirmou o próprio Goldfajn recentemente.

Goldfajn também voltou a citar que as instituições financeiras não ficaram imunes à retração da economia e que houve provisionamento e queda de lucratividade. Ao mesmo tempo, ele repetiu que o sistema financeiro está líquido e pronto para financiar a recuperação.

Em outro momento do discurso, Goldfajn repetiu que a inflação corrente tem surpreendido favoravelmente, mas que há sinais de pausa, na margem, na desinflação de serviços. Ao mesmo tempo, pontuou que a fraqueza da atividade torna provável o retorno da desinflação de serviços.

Goldfajn defendeu ainda reformas estruturais para impulsionar a produtividade e o crescimento e disse que o investimento em infraestrutura tem papel relevante na produtividade. Segundo ele, o governo atua para atuar o ambiente de negócios mais amigável ao setor privado.

O presidente do BC repetiu ainda que as reformas fiscais são imprescindíveis para disciplinar as contas públicas e que a PEC do Teto dos gastos públicos é o primeiro passo. “Com o teto de gastos, o Brasil voltará a fazer escolhas”, disse. “Teto de gastos precisa ser acompanhado por reforma da seguridade social.”

No discurso, ele afirmou ainda que os exageros do passado estão levando mais tempo para se dissiparem e a retomada da atividade pode ser mais demorada e gradual que a antecipada.

Críticas

Ilan Goldfajn disse também que a instituição recebe críticas por buscar o centro da meta de inflação “com mais afinco”. Segundo ele, “é salutar atingir as metas após anos com inflação acima do centro da meta”. Para Goldfajn, postergar a busca do centro tem custos.

Ao mesmo tempo, o presidente do BC reconheceu que atingir a meta de inflação – cujo centro é de 4,5% para este e os próximos dois anos – também tem custos. De acordo com Goldfajn, o BC é sensível ao nível de atividade e a leva em consideração em suas decisões sobre a Selic (a taxa básica de juros). A autoridade afirmou que a atividade afeta as projeções de inflação e também é vista como custo da desinflação.

“Um processo desinflacionário mais rápido para atingir o centro da meta já em 2016 traria um custo de desinflação muito alto em termos de atividade”, afirmou Goldfajn. Ele destacou ainda a importância de ancorar as expectativas e derrubar a inflação. “São esses resultados que permitem ter juros baixos no futuro”, disse.

Os comentários foram feitos por Goldfajn durante o seminário “Perspectivas 2017”, promovido pelo Instituto Millenium, em São Paulo.