Rio (AE) – Pela primeira vez desde a sua criação, na década de 40, o Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) registrou deflação na taxa acumulada em 12 meses de 0,29% até março. O resultado recorde foi provocado pelo IGP-DI de março que, beneficiado pela valorização cambial, caiu 0,45%. Foi o menor nível dos últimos sete meses e ficou abaixo das estimativas do mercado financeiro.
Em fevereiro, a taxa já havia registrado ligeira deflação, de 0,06%. ?Isso só comprova que a economia brasileira está passando por uma fase de inflação mais baixa?, considerou o economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros.
Mas, o bom cenário em março deveu-se exclusivamente aos preços no atacado – fortemente influenciados pelo dólar – que caíram 0,82%, ante deflação de 0,06% em fevereiro. ?Há uma queda praticamente generalizada no atacado?, disse o economista, lembrando que o setor tem o maior peso na formação do indicador.
Segundo Quadros, os preços agrícolas no setor passaram de -0,77% para -3,24%, de fevereiro para março. No mesmo período, os preços dos produtos industriais passaram de alta de 0,08% para deflação de 0,06%.
O economista explicou que a valorização do real ante o dólar puxou para baixo preços de produtos relacionados à moeda americana. É o caso das quedas registradas em soja em grão (-6,90%) e milho (-10,57%), que são commodities importantes na formação da inflação no atacado. ?No final do ano passado, chegou-se a um consenso de que o auge da valorização cambial já tinha passado. Pelo visto, não acabou?, disse.
Na avaliação do economista, o processo de deflação no IGP-DI pode continuar, caso a valorização cambial continue a exercer sua influência nos preços. ?Mas é difícil prever o movimento do câmbio?, disse.
Outro fator positivo a contribuir para a inflação baixa foi a gripe aviária. No IGP-DI de março, o preço das aves no atacado passou de queda de 5,51% para 6,11%, de fevereiro a março.
Há meses, as notícias sobre focos da doença, pelo mundo todo, têm provocado o fechamento de vários mercados no exterior para exportações de frango. Isso levou os exportadores brasileiros a escoarem sua produção no mercado interno – elevando a oferta e derrubando o preço da carne de ave.
Indo na contramão do atacado, os preços do varejo aceleraram, passando de alta de 0,01% para aumento de 0,22% de fevereiro para março, devido a reajustes em taxa de água e esgoto residencial (1,83%) e aumento nos preços dos combustíveis.