O economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Julio Gomes de Almeida, aprovou o conjunto de medidas de apoio ao setor produtivo anunciado nesta terça-feira pelo governo, mas reclamou da falta de medidas que pudessem envolver os bancos privados no esforço de financiar projetos produtivos de longo prazo. “Só vejo aqui esforço do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Tesouro Nacional. Acho que está faltando envolver outras fontes financiadoras, com incentivos para que bancos privados e fundos financiem os projetos produtivos de longo prazo”, disse Almeida.

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Devido a esta lacuna específica no item financiamento, o pacote de medidas acabou por ser “um pouco mais do mesmo”, disse o economista do Iedi, para quem o financiamento de projetos de longo prazo não pode continuar apenas sobre os ombros dos bancos públicos. Apesar da crítica, Almeida acredita que, em uma próxima rodada de medidas, o governo poderá observar esta questão. Ele lembrou que, na ocasião do lançamento do Plano Brasil Maior, no ano passado, a presidente Dilma Rousseff havia afirmado que o plano era um processo que deve ser reavaliado periodicamente.

Ao contrário de muitos analistas, que avaliam a maioria das medidas anunciadas

como pontuais, setoriais e de curto prazo, Almeida disse que, às vezes, medidas desta natureza são boas para dar um “sacolejo”. Assim, o governo passa a pensar em medidas estruturais, avaliou. “Às vezes, as pessoas acham que as medidas paliativas são menos importantes, mas elas têm uma razão de ser, acho eu. Claro que as mais importantes são as medidas estruturais”, disse Almeida.

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O economista do Iedi afirmou que algumas das medidas foram feitas “para apagar incêndios”, tais como a capitalização do BNDES e a ampliação do programa Revitaliza. As demais medidas, segundo Almeida, são mais estruturais ou de longo alcance, como a desoneração da folha de pagamento, por exemplo. “Eu acho que a desoneração foi a medida individual mais destacada”, afirmou. “Na verdade, o governo não reduziu o recolhimento do INSS para ninguém. Ou, se reduziu, foi compensado. Deu com uma mão e tirou com a outra, pois desonerou a folha e onerou o faturamento”, disse.

Ainda assim, Almeida exaltou a importância desta medida, pois avalia que o efeito se dará no longo prazo. Ao substituir a tributação que incide sobre a folha por outra que recai sobre o faturamento, o governo pode desanuviar um encargo sobre o trabalho, favorecer o emprego e aumentar a atividade em setores mais intensivos em mão de obra. “Hoje em dia, parece não ser necessário incentivar o emprego, mas amanhã poderá ser. Ou seja, o governo tirou uma carga que prevalecia sobre a economia e jogou para o faturamento”, avaliou o economista do Iedi.

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De acordo com Almeida, ao fazer isso, o governo ganhou a prerrogativa de dizer, conforme já prevê a lei, que não vai cobrar esta contribuição do exportador. Segundo o economista do Iedi, neste caso, “fazer camisa no Brasil será uma atividade em que vai ter de pagar imposto sobre o faturamento”, mas isso também recairá sobre as camisas importadas. “Não tem jeito, mas o chinês também vai ter de pagar. Isso se chama isonomia, que é o que a indústria mais precisa, além de bons financiamentos”, explicou.

Almeida também acredita que o Brasil está em uma armadilha cambial, em que o governo tem dificuldade para manter o câmbio muito valorizado ou muito desvalorizado, o que estimula os especuladores a vir ao Brasil fazer arbitragem com câmbio e juros. De acordo com o economista, o governo procura, entre tentativas e erros, uma taxa de câmbio padrão de intervenção no mercado que administre estes dois objetivos, e este padrão, segundo ele, caminha para uma taxa de câmbio em torno de R$ 1,85.