O Índice Antecedente de Vendas (IAV), apurado pelo Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV), indica que a expectativa do comércio é de que as vendas subam 5,6% em julho, ante o mesmo mês do ano passado, e aumentem 6,2% em agosto ante o mesmo mês de 2009. De acordo com o indicador, divulgado hoje, os dirigentes de estabelecimentos comerciais vinculados ao IDV, que representam cerca de um terço do faturamento do varejo no Brasil, preveem que as vendas atinjam em setembro um pico de 6,5% em relação ao mesmo período de 2009.
“Esses números indicam que o varejo apresenta uma expansão consistente que deve ser mantida nos próximos meses em função de alguns fatores como alta geração de emprego, avanço da renda da população e aumento da concessão de crédito”, explicou Flávio Rocha, conselheiro do IDV e presidente das Lojas Riachuelo. De acordo com Marcelo Waideman, economista-chefe da GS&MD Gouvêa de Souza, o índice deve antecipar em cerca de 120 dias o movimento das vendas de varejo, apurado pela Pesquisa Mensal do Comércio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“As vendas do setor em setembro, por exemplo, serão divulgadas pelo IBGE em novembro, enquanto o IAV já pode hoje indicar qual é a tendência para aquele mês”, afirmou Waideman. Segundo ele, é perguntado às 33 empresas vinculadas ao IDV qual é o sentimento de vendas para o mês corrente e dois meses adiante em relação ao mesmo período do ano anterior, o que tira qualquer efeito sazonal. De acordo com Flávio Rocha, a evolução do nível de atividade, a despeito da desaceleração que já ocorre a partir do segundo trimestre, deve levar o varejo a registrar um bom desempenho neste ano e apresentar um aumento de vendas de 10% em 2010, ante 2009.
Juros
Rocha avaliou ainda que o aperto monetário defendido pelo Banco Central (BC) desde abril pode “colocar um freio de mão nas vendas do varejo” no fim deste ano e no início de 2011. “O Brasil está em expansão sustentável e não existe inflação alta. Ao contrário, o IPCA-15 de julho apresentou deflação (0,09%)”, disse, em referência ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo – 15.
“Os aumentos de juro pelo Banco Central estão sendo muito fortes e deveriam ser mais graduais. Não há nenhuma razão para a Selic estar no atual patamar (10,75% ao ano), que é bem mais alto do que é praticado na Grécia e na Espanha”, comentou, citando países que fazem parte da zona do euro e passam por sérias dificuldades econômicas.
Para Rocha, os juros altos já começam a influenciar a intenção de compra dos consumidores. No entanto, ele avalia que as vendas no decorrer do ano devem apresentar um desempenho favorável. Mas ele teme que a força do aperto monetário possa até prejudicar as vendas do setor no fim do ano. “A alta de juros adotada pelo Banco Central está sendo excessiva e pode prejudicar as vendas de varejo adiante, pois já dão sinais de arrefecimento”, apontou.
Na avaliação do empresário, a alta de juros pode trazer efeitos no final do ano, com o fim da queda da inadimplência por parte dos consumidores. Porém, ele ressalta que a criação de cerca de 2 milhões de empregos formais neste ano deve atenuar a influência negativa da elevação da Selic sobre o adiamento da quitação de prestações por parte das famílias.
Rocha disse ter esperança de que o próximo governo tenha uma atenção especial para a política monetária e reduza o patamar de juros registrados hoje no Brasil. “Além da redução de juros, será também importante uma melhora expressiva da gestão das contas públicas”, comentou. “Com a redução dos gastos oficiais, os juros de longo prazo tendem a cair.”
Para ele, a redução de tais taxas deve auxiliar a queda da Selic no curto prazo, o que trará dois efeitos positivos: diminuir o impacto dos juros sobre a dívida pública federal e permitir o aumento dos investimentos do setor privado. “No varejo, por exemplo, o custo financeiro é muito elevado e a queda dos juros vai ajudar a reduzir tais despesas, o que deve ampliar os investimentos e a geração de mais empregos”, analisou.