Identificado novo gene contra a antracnose

O produtor rural que trabalha com a cultura do feijoeiro certamente conhece os danos da antracnose, uma das principais doenças que atacam o grão. A moléstia, causada pelo fungo Colletotrichum lindemuthianum, provoca nas folhas dos pés de feijão lesões necróticas de coloração marrom escura nas nervuras e na face inferior, além de agredir a semente e a vagem, gerando uma perda considerável na produção.

O prejuízo pode chegar até 100%, principalmente quando as cultivares estão em locais com temperaturas de moderadas a frias e com alta umidade. Entretanto, uma descoberta pode gerar um alento para os produtores.

A mestranda do programa de pós-graduação em genética e melhoramento da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Ana Clara Meirelles, identificou um novo gene, que é resistente à antracnose. “A descoberta poderá resultar na criação de cultivares mais produtivas e com uma resistência a essa doença bem maior”, revela a pesquisadora.

O trabalho de Meirelles foi cultivar o feijoeiro da variedade pitanga, uma cultura que não é tão produtiva quanto o feijoeiro comum, todavia, demonstrou uma grande resistência aos ataques do fungo.

“O interessante é que podemos separar esses genes e aplicá-los em cultivares que são mais suscetíveis, porém, mais produtivas. Ao criar então uma variedade mais forte e saudável, o agricultor passará a usar menos agentes químicos no combate às doenças. Dessa maneira, ele consegue um alimento com menor presença de agrotóxicos e também ajuda o meio ambiente com a redução do uso desses produtos”, explica.

A mestranda revela que ficou satisfeita com os resultados obtidos e que o objetivo fora cumprido. “O estudo tem quase dois anos e os testes desenvolvidos apresentaram resultados satisfatórios e a ideia de descobrir características genéticas da doença nessas cultivares por meio de estudos de herança e de testes de alelismo (teste que identifica a independência de um gene identificado) foi concluída. Acredito que futuramente esse projeto servirá para começar um trabalho com introdução de genes nos feijoeiros. A pesquisa não significa que a doença será erradicada, pois ela varia muito de região para região, todavia, estou certa de que ela irá auxiliar a diminuir os danos causados pela antracnose”, avalia.

O trabalho da pesquisadora, que foi desenvolvido no Núcleo de Pesquisa Aplicada à Agricultura (Nupagri) da UEM, foi mostrado em dois importantes eventos nesse ano. O primeiro foi no Congresso Brasileiro de Plantas, ocorrido em agosto, no município de Guarapari, no Espírito Santo.

O outro, em outubro, foi no Bean Improvement Cooperative (BIC) Meeting, na cidade de Colorado, nos Estados Unidos, sendo que nesse encontro foi obtido, por meio da orientadora e professora de Meirelles, Maria Celeste Gonçalves Vidigal, a aprovação do Comitê de Genética do BIC para esse novo agente, batizado de Co-14, presente na cultivar Pitanga.

Para Meirelles, descobrir um novo gene é resultado de um trabalho árduo, além de muito conhecimento. “A identificação do gene como uma nova fonte de resistência ao Colletotrichum lindemuthianum é muito importante para os programas de melhoramentos genéticos nacionais e internacionais do feijoeiro comum”, afirma.

Segundo a mestranda, só no Brasil foram identificadas mais de 55 raças fisiológicas do fungo causador da doença nas mais diversas regiões do País que produzem feijão.

O Paraná, destaque no cenário agrícola nacional e maior produtor, responsável por 22,3% de toda a produção, o que corresponde a cerca de três milhões de toneladas por ano, foi o estado onde foi observada a maior variabilidade do patógeno, com 40 raças identificadas, seguido por Goiás, com 17; Santa Catarina, 16 e Rio Grande do Sul, com 14.

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