O comércio demonstrou em março estar menos otimista com um possível aumento das vendas nos próximos meses, de acordo com o superintendente adjunto de Ciclos Econômicos do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas (FGV), Aloiso Campelo, ao interpretar o resultado do Índice de Confiança do Comércio (Icom), que registrou queda de 2,3% no mês passado. O indicador reflete uma piora das expectativas com os negócios no próximo trimestre por causa da previsão da queda de consumo de bens duráveis, mas também a incerteza dos empresários do comércio com o futuro da economia.
Foi, contudo, a previsão de que o programa de redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para duráveis seria extinto um dos principais motivos para a piora da confiança do setor. Em abril, após o anúncio do governo de que o programa de redução do IPI para automóveis será mantido, a sondagem deverá trazer taxas melhores do que as do mês anterior, afirmou acreditar Campelo.
O segmento de automóveis não foi o único a demonstrar retração da confiança no mês passado e, por isso, não é capaz de explicar sozinho o resultado da sondagem. Segundo 49,3% dos entrevistados, as vendas se manterão no patamar atual, sem melhoras, no próximo trimestre. A consequência, avalia o superintendente adjunto de Ciclos Econômicos do Ibre, é que o comércio tentará, nesse momento, controlar os estoques, que, atualmente, estão altos, e, com isso, deve reduzir as encomendas à indústria. “Podemos esperar que o mercado de trabalho do setor de comércio não irá avançar no mesmo ritmo do ano passado”, afirmou.
As avaliações sobre os negócios são ainda piores entre os comerciantes de bens duráveis. Para esse grupo, o Icom de março caiu 5%, mais do que a média do comércio, puxado, sobretudo, pelas expectativas de venda, que retraíram 13,0%. O Índice de Expectativa (IE) – que junto do Índice de Situação Atual (ISA) compõe o Icom – do comércio de veículos caiu 14,5%; e o do comércio ligado a móveis e eletrodomésticos, 13,6%.
Para todo o setor, o Icom de março esteve num patamar inferior ao do mesmo período de 2012. “O que estamos vendo nos principais segmentos é que a economia brasileira ainda não engrenou. Houve uma aceleração a partir do segundo semestre do ano passado, mas ainda não é tão forte. Há menos certezas, o que tem a ver com os problemas internacionais, mas também com questões internas, como inflação e juros”, disse.
O grande destaque do Icom desta vez, conforme Campelo, foi o descolamento entre as avaliações dos empresários em relação à situação dos negócios no presente e as expectativas para os meses seguintes. As diferenças entre o ISA, que avançou 4,1%, e o IE, que caiu 6,4%, foi a maior registrada na série histórica, iniciada em março de 2010. “É difícil identificar o quanto da confiança está sendo influenciada pelas notícias divulgadas. A certeza é que o setor não será um setor indutor do crescimento das contratações”, alertou.