Rio
– Um Brasil que rejeitava o beijo na boca em público, que temia o comunismo, que duvidava do imperialismo americano, mas acredita no soviético, que apoiava a reforma agrária, usava pasta Kolynos e adorava cinema. Um Brasil das décadas de 40 e 50. Esse Brasil passou pelos questionários do Ibope, atualmente um dos maiores institutos de pesquisa de opinião do mundo, figurando entre os 25 mais rentáveis, ao faturar US$ 85 milhões por ano.As mudanças nos hábitos de consumo, nas preferências políticas, nas ansiedades, desejos e comportamento foram captadas, pouco a pouco, revelando o Brasil nas décadas de 40 e 50 mais preconceituoso, ainda exaltando o glamour do rádio, mas já se apaixonando pela televisão.
Aliás, por pouco, o Ibope, hoje um verbete do dicionário que significa prestígio, não se perdeu nos estúdios da Rádio Kosmos. O seu fundador, Auricélio Penteado, resolveu testar a audiência de sua rádio, usando técnicas de pesquisa que conhecera nos Estados Unidos. Descobriu duas coisas: sua rádio não dava audiência, mas ele tinha paixão por pesquisas. No dia 13 de maio de 1942 foi criado o Ibope, para avaliar o gosto e preferências do público, fazer estudos de mercado e monitorar a audiência das rádios.
Em 50, o instituto muda de mãos. Entra na história do Ibope a família Montenegro, com quem está até hoje. Logo depois, Paulo Tarso Montenegro e seus sócios José Perigault, Guilherme Torres e Hairton Santos descobrem seu maior filão: medir a audiência das TVs. Esse é uns dos momentos mais importantes na história do Ibope para o presidente Carlos Augusto Montenegro. As contas da empresa comprovam: o Ibope Mídia responde por 50% de todo o faturamento do grupo.
A voz do povo
Mas, voltando à história contada pelas pesquisas de opinião, o Ibope descobre em 1987 um povo ambíguo, como define a escritora Silvana Gontijo, autora do livro “A voz do povo, o Ibope do Brasil”, que conta os 50 anos do instituto:
“O brasileiro é conservador e progressista, autoritário e liberal, quer viver num regime socialista com absoluto respeito à propriedade, acha que a Igreja não deve participar da vida política, mas, na sua maioria, acredita que o casamento prá valer deve ser no civil e no religioso. Suas opiniões fazem uma salada ideológica que se destaca pela incoerência muito própria, difícil de entender.”
A pesquisa de 87 mostrou, por exemplo, um povo que apesar de apoiar, em sua maioria, o casamento no civil e religioso, acreditava nos direitos iguais entre homens e mulheres, que a fidelidade era dever do casal, virgindade não era importante e a mulher podia trabalhar fora.
Mas, na contramão, era contra a legalização da maconha, contra os movimentos homossexuais e aceita o aborto apenas em casos de risco de vida, estupro ou anomalia do feto.
Pesquisa eleitoral
Na pesquisa eleitoral o Ibope atesta sua credibilidade. Mas também já mostrou falha, segundo o livro de sua história: a pesquisa apontava a vitória de Adhemar de Barros em 1954 contra Jânio Quadros para o governo de São Paulo, mas as urnas mostraram o contrário.
Segundo Silvana, o instituto percebeu que as respostas colhidas nas pesquisas de consumo eram mais duradouras do que nas de política: este terreno é muito instável, podendo mudar de uma hora para outra em função da veiculação de boa ou má propaganda, diz o livro.
Por isso, Montenegro afirma que é a eleitoral é a única pesquisa que passa por um teste: as urnas.
? Em termos de faturamento, não chega a 11% do total. Mas é a única que se pode constatar a eficácia cinco horas após o pleito. Elas carimbam credibilidade às outras pesquisas do grupo.
Para ele, a afirmação de que a divulgação das pesquisas acaba influenciando o voto do eleitor não tem fundamento. Se fosse assim, argumenta, no início da campanha quem saísse na frente ganharia a eleição:
? A influência é indireta. O preferido pode ter mais apoio financeiro, cabos eleitorais mais animados e mais espaço na mídia.
Há 12 anos, o grupo Ibope iniciou sua expansão para América Latina. Brigou com gigantes de pesquisa como AC Nielsen americana e ganhou por saber lidar com a falta de infra-estrutura dos países vizinhos. Hoje está em 14 países:
? Para captar a audiência em televisão, os grupos americanos se apoiavam em telefones. Nós tínhamos tecnologia para atuar em países com telecomunicação deficiente ? conta Luiz Paulo Montenegro, que divide a direção com o irmão Carlos Augusto. Ibope e as mudanças no Brasil