IBGE avalia que mercado de trabalho passa por momento de ‘reduções qualitativas’

Além do aumento na taxa de desemprego, o mercado de trabalho brasileiro passa por um momento de “reduções qualitativas”, afirmou nesta quinta-feira, 20, Adriana Beringuy, técnica da Coordenação de Trabalho e Rendimento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A queda no rendimento real e a perda de empregos com carteira assinada são sinais dessa perda de qualidade. “O mercado de trabalho está passando por um momento em que você tem um aumento da taxa de desemprego e da população desocupada e também reduções qualitativas. O emprego com carteira e a renda estão caindo”, notou Adriana.

Em julho, o emprego com carteira assinada no setor privado caiu 3,1% em relação a igual mês do ano passado, o que significa um fechamento de 359 mil postos formais de trabalho. Nesse mesmo período, a renda média real dos trabalhadores caiu 2,4%, para R$ 2.170,70.

Apesar da deterioração recente, Adriana destacou que o porcentual de empregados com carteira assinada em relação ao total de ocupados (49,7% em julho) ainda é maior do que em julho de 2009 (45,1%), embora a taxa de desemprego do mês passado (7,5%) seja a maior para o período em seis anos. A técnica, porém, diz que não há como assegurar que os ganhos dos últimos anos não serão perdidos.

“Isso não temos como prever, vai depender do comportamento de absorção de mão de obra desses setores cuja carteira é o principal vínculo. Se a indústria continuar demitindo, se os serviços continuarem demitindo, pode sim haver um processo de equiparação dos indicadores atuais com aqueles de 2009. Seria uma forma de anular aquilo que a gente veio acumulando nos últimos anos”, disse.

Contratações temporárias

A taxa média de desemprego nos sete primeiros meses de 2015 chegou a 6,4%, muito acima do verificado em igual período do ano passado (4,9%), informou o IBGE. Trata-se do maior resultado desde 2010, quando a média da taxa de desemprego de janeiro a julho ficou em 7,3%.

Diante da aceleração no ritmo de crescimento da taxa de desemprego em julho, Adriana afirmou que não é possível antecipar se as contratações temporárias de fim de ano serão capazes de estancar a deterioração do mercado de trabalho. “Há um comportamento sazonal no último trimestre de cada ano, em que há tendência, principalmente no comércio, de absorver pessoas. Mas não sabemos até que ponto o comportamento do último trimestre (de 2015) em parte poderá suavizar as perdas que estão ocorrendo nos meses anteriores”, afirmou.

Jovens

Os jovens estão exercendo uma pressão acentuada no mercado de trabalho, afirmou Adriana. Até o ano passado, muitos deles preferiam não buscar emprego para priorizar os estudos. Agora, com a queda na renda e pessoas sendo demitidas no domicílio, eles estão tendo de ir atrás de uma vaga, explicou Adriana.

“Os jovens estão exercendo uma pressão bastante acentuada no mercado de trabalho. As outras pessoas também, mas eles de maneira mais intensa”, disse a técnica. Em julho de 2014, a população inativa entre jovens de 18 a 24 anos cresceu 10,8% frente a igual mês do ano anterior. Já no mês passado, houve queda anual de 4,4% nessa faixa etária. “Os jovens eram os que antes estavam influenciando mais a inatividade. Agora, essa inatividade dos jovens está em queda”, notou.

Nas faixas etárias de 15 a 17 anos e de 25 a 49 anos, a população não economicamente ativa também migrou de altas em 2014 para quedas em 2015, uma evidência de que há mais pessoas engrossando as filas de desemprego. Mas esse movimento é mais intenso entre os jovens, levando a taxa de desocupação entre as pessoas de 18 a 24 anos a saltar a 18,5% em julho, segundo o IBGE. Há um ano, essa taxa era de 12,9%.

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