Havia espaço, e Copom baixou Selic em 2,5 pontos

O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central surpreendeu e decidiu, ontem, reduzir a Selic, a taxa básica dos juros brasileiros, em 2,5 pontos percentuais. Com isso, os juros passam de 24,5% para 22% ao ano. Trata-se da maior redução dos juros feita de uma só vez pelo Copom, desde maio de 1999. Na época, o o então presidente do BC Armínio Fraga comandou um corte de 27% para 23,5% nos juros.

A decisão indica uma mudança na chamada política de “gradualismo” do Banco Central, que desde o início do governo Luiz Inácio Lula da Silva optou por promover uma redução conservadora na taxa de juros.

Em comunicado, o BC informou que “dados divulgados desde a última reunião do Copom confirmam os resultados positivos obtidos pela política monetária em fazer a inflação convergir para a trajetória das metas. Diante desse quadro e dentro de uma estratégia gradualistas de flexibilização da política monetária, o Copom decidiu fixar por unanimidade a taxa Selic em 22%, sem viés.”

Nos últimos dias, cresceu no mercado o coro em torno de uma redução agressiva. A maioria dos analistas e consultores do mercado financeiro, no entanto, ainda apostava num corte de apenas 1,5 ponto percentual.

Esse foi o terceiro movimento de corte de juros do governo Lula. A trajetória de redução teve início em junho, com uma queda tímida de 0,5 ponto percentual. Em julho, o BC cortou a Selic em 1,5 ponto percentual e agora em 2 pontos percentuais.

O que acontece

Com a redução dos juros, o Banco Central diminui a atratividade do investimento em títulos da dívida pública. Assim, começa a “sobrar” um pouco mais de dinheiro no mercado financeiro para viabilizar investimentos que tenham retorno maior que o pago pelo governo. É por isso que os empresários pedem corte nas taxas, para viabilizar investimentos.

Nos mercados, reduções da taxa de juros viabilizam normalmente migração de recursos para a Bolsa e para o câmbio de moedas.

É também por esse motivo que as Bolsas sobem em Wall Street ao menor sinal do Federal Reserve de que os juros possam cair.

Quando o juro sobe, acontece o inverso. O investimento em dívida suga como um ralo o dinheiro que serviria para financiar o setor produtivo.

Tira ainda dinheiro do câmbio de moedas e do mercado acionário – por que alguém vai correr riscos com ações se tem o rendimento garantido com papéis de títulos públicos?

Decisão autônoma

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, disse que a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) foi autônoma e que o Comitê “sempre toma decisões corretas, na hora correta e do tamanho adequado”. Segundo Palocci, as políticas duras e severas que o governo vem adotando nas áreas monetária e fiscal vêm apresentando resultado agora “porque a inflação está sendo varrida da vida das pessoas”.

O ministro disse que a boa política monetária é a que avalia o comportamento da inflação e a capacidade de desenvolvimento do país. Ao ser perguntado se a decisão teria sido tomada em função das críticas aos juros altos, Palocci respondeu que a política monetária não responde a declarações, e sim ao objetivo de controlar a inflação.

“Temos acertado até agora e não há motivos para que não continuemos assim”, afirmou.

Redução estimula, mas não é suficiente

Embora tenha causado surpresa, a redução de 2,5 pontos percentuais na taxa Selic nada mais é do que uma tentativa atrasada do Copom reverter as decisões conservadoras dos meses anteriores. Mesmo que sinalize para uma tendência de queda abaixo da casa de 20% até o final do ano, não significa uma mudança de comportamento do Banco Central, já que os analistas de mercado já consideravam viável esse patamar nos últimos meses – em virtude do comportamento favorável da inflação. Essa é a percepção da maioria dos economistas e empresários ouvidos por O Estado do Paraná.

“A decisão de reduzir a Selic em 2,5 pontos nesse momento não é indicação de ousadia do BC, mas representa um reconhecimento velado de que o BC errou nos últimos meses, não fazendo cortes maiores, condenando a economia brasileira à uma enorme recessão”, analisa o economista Gilmar Mendes Lourenço, professor da FAE Business School. “É um corte retardado”, resume, citando que em maio de 99, no auge da crise brasileira, “o Armínio Fraga, considerado conservador, reduziu a Selic de 27 para 23,5%”. “Ele foi mais ousado que essa equipe econômica que está aí.”

Ainda assim, continua o economista, “esse resultado deve ser comemorado”, pois “revela que o BC finalmente reconheceu o erro e passou a adotar uma postura mais agressiva, mas não reverte a tendência de desempenho ruim para a economia brasileira em 2003”. “O ano está rigorosamente perdido, já que as duas últimas reduções da Selic só começam a apresentar reflexo positivo no começo do ano que vem”, pondera.

Comércio

Para o economista Vamberto Santana, professor da UFPR e consultor econômico da Federação do Comércio do Paraná (Fecomércio/PR), a queda na Selic atende as necessidades da economia brasileira neste momento e sinaliza uma tendência de quedas mais expressivas na taxa nos próximos meses. No primeiro semestre, conforme pesquisa da Fecomércio/PR, as vendas reais do comércio varejista em Curitiba e Região Metropolitana caíram 10,81%. “A população está com desejo de comprar contido. Essa retenção deve se materializar a partir de agora, com os juros mais convenientes”, diz Santana.

Segundo ele, os segmentos que devem sentir mais rápido o efeito da diminuição da Selic são lojas de departamentos, roupas e eletrodomésticos. “Também deve sobrar dinheiro para comprar mais produtos básicos nos supermercados”, acrescenta o economista. O presidente da Associação Comercial do Paraná (ACP), Marcos Domakoski, projeta crescimento de 4% nas vendas do comércio paranaense em 2003.

Empresários

Na avaliação de Domakoski, com a terceira queda consecutiva da Selic, o governo demonstra que tem maior controle sobre a inflação e sinaliza possibilidade de retomada do crescimento econômico. “A ativação da economia ainda não ocorre, porque além do juro alto, há outros obstáculos como a falta de recursos no mercado e a necessidade de cumprir o superávit de 4,25% com o FMI”, diz o empresário. “O que vai oxigenar a economia é a retomada dos investimentos públicos e privados. Isso passa pela flexibilização da meta de superávit.”

O presidente eleito da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), Rodrigo da Rocha Loures, considera a redução da Selic “um progresso”, porém salienta que a taxa ideal para a economia recuperar a vitalidade é no patamar de 13% a 14% ao ano. “Isto ainda permitiria um valor mais realista na relação real/dólar, o que seria apropriado também para beneficiar as exportações.” Loures destaca que, com menos despesas com os juros da dívida pública, o governo cria condições para novos investimentos em infra-estrutura. (Olavo Pesch)

Para CUT, decisão do Copom foi na “medida certa”

O presidente da CUT, Luiz Marinho, disse que “finalmente” o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) tomou uma decisão na medida certa. O Copom decidiu reduzir a Selic, a taxa básica dos juros brasileiros, em dois pontos percentuais. Com isso, os juros passam de 24,5% para 22% ao ano.

“Finalmente fizeram um corte [de juros] na medida certa. As reduções anteriores não eram suficientes para colocar o país na rota de crescimento”, disse Marinho.

A decisão surpreendeu e pode indicar uma mudança na chamada política de “gradualismo” do Banco Central, que desde o início do governo Luiz Inácio Lula da Silva optou por promover uma redução conservadora na taxa de juros.

Segundo o presidente da CUT, o corte de dois pontos sinaliza o reforço na política de retomada do crescimento econômico. “Espera-se agora que essa redução chegue ao consumidor por meio de redução de juros no crediário, do spread bancário.”

CNI elogia

A decisão do Copom (Conselho de Política Monetária) de cortar em 2,5 pontos percentuais a taxa básica de juros, a Selic, foi bem recebida pelo presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), deputado Armando Monteiro (PMDB-PE).

Segundo ele, a redução anunciada ontem é uma sinalização positiva para os agentes econômicos. “Mostra que o governo está caminhando na direção de afrouxar a política monetária, o que é bom para a produção e para a manutenção do emprego.”

“A decisão do Copom veio ao encontro do que o setor industrial vem defendendo. Foi uma medida mais ousada, que não coloca em risco o controle da inflação”, afirmou por meio de nota.

Lembrou ainda que um corte inferior a 2,5 pontos o deixaria “frustrado”.

BC, agora, deverá fazer “parada estratégica”

São Paulo

(AE) – O corte inesperado de 2,5 pontos porcentuais na Selic sugere uma “parada estratégica” no ciclo de desaperto monetário iniciado na reunião de junho, acreditam analistas. De lá para cá, o Banco Central reduziu a Selic em 4,5 pontos porcentuais, de 26,5% para 22% ao ano. “É um número significativo para três reuniões. Acredito que o BC fará uma parada estratégica na próxima reunião para verificar com mais calma os efeitos dessas reduções sobre a demanda e ainda observar os resultados iniciais de atividade do segundo semestre”, avalia o economista Fábio Akira, do JP Morgan.

“Faria sentido parar um pouco agora”, reforça o economista-chefe do Real ABN Amro, Mário Mesquita, destacando que isso revelaria uma mudança de estratégia da autoridade monetária quanto ao ritmo dos cortes nos juros. Essa parada reforçaria ainda a visão do mercado sobre o conservadorismo – ou gradualismo – do BC, que estaria mantendo a mira em uma taxa nominal mais próxima dos 20% do que dos 18% para o fim do ano, mudando apenas o ritmo para se atingir tal nível.

Volatilidade

Mesquita lembra que essa possível estratégia implica risco de uma maior volatilidade no mercado de juros, risco no qual o BC estaria disposto a incorrer se estivesse vendo uma atividade econômica com olhos mais pessimistas que a média do mercado. “A divulgação da ata da reunião na semana que vem será fundamental para esclarecer esses pontos. Diria até que é a ata do ano”, diz Mesquita. “O mercado ainda vê o BC conservador, apenas mudando o seu timing. Se vier uma ata muito agressiva, essa percepção pode mudar, indicando um peso maior de fato da atividade econômica na função de reação do BC”, explica o economista.

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