O hábito de consumir carnes de caça ainda não está presente na mesa dos paranaenses. A carne de coelho, por exemplo, considerada mais saudável que algumas das mais consumidas (gado e suíno), já teve tempos melhores no Estado. Em 2004, a produção mensal de coelhos no Paraná era de seis mil unidades. Atualmente, o Paraná possui cerca de 12 granjas ativas com 26 cooperados, que produzem, mensalmente, uma média de três mil animais. As informações são da Cooperativa dos Produtores de Coelho do Estado do Paraná (Coelho Brasil).
Segundo o presidente da cooperativa, Dirceu Alves do Carmo, a razão dessa diminuição pode ser explicada pela falta de experiência dos criadores naquela época. No início, eles criavam muitos animais, que depois não conseguiam ser vendidos. Foi preciso diminuir a produção e se adaptar ao mercado. “Tínhamos muita dificuldade na parte comercial, somos produtores, e não negociadores. Era difícil negociar com as grandes redes de supermercados, por exemplo”, explica.
O problema com o repasse do produto para os grandes supermercados também foi sentido pelo produtor José Haroldo Ludewig, que cria coelhos há 17 anos em Campo Magro, na região metropolitana de Curitiba. “Perdíamos muito vendendo para os supermercados. Hoje, vendemos para a cooperativa o animal vivo por R$ 4, que repassa aos mercados por R$ 12 o quilo bruto. Por sua vez, os mercados vendem para o consumidor final por uma média de R$ 16 a 23”, explica. Nos restaurantes, um prato à base de carne de coelho sai por R$ 40, em média.
Costume
Se comparado com o exterior, Ludewig afirma que ainda falta coragem e costume aos brasileiros para consumir carne de coelho. “Na Europa, por exemplo, o consumo desse tipo de carne é muito maior, se comparado com o Brasil. Acredito que, além do preço, que é menor que a carne de gado, o pessoal do exterior não tem aquela pena que o brasileiro tem em consumir carne de coelho. Mas temos que pensar por outro lado, pois trata-se de uma carne com baixo teor de gordura e que é mais nutritiva que as demais. Por isso a excelente qualidade”, explica. França e Espanha são os maiores consumidores de carne de coelho.
“Acredito que, além do preço, menor que da carne de gado, o pessoal do exterior não tem aquela pena que o brasileiro tem em consumir carne de coelho.” José Haroldo Ludewig, criador de Campo Magro, na região metropolitana de Curitiba. |
Para atrair mais a atenção dos consumidores para essa variedade, a divulgação é essencial, segundo os produtores. “Hoje temos muito apelo para o consumo de gado, por exemplo. As pessoas precisam ver que o coelho é mais saudável”, diz Ludewig.
Sobre as características da carne de coelho, a diretora do curso de nutrição da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Helena Maria Simonard Loureiro, afirma que tal alimento pode ser alternado com a carne de frango. “Em geral as carnes de caça são mais saudáveis. Em termos de comparação, a carne de coelho tem menos gordura que de gado, por exemplo. Por isso, ela pode ser substituída sem medo pela carne de frango, o alimento mais consumido por aqueles que não comem carne vermelha”, diz.
Projeto prospecta mercados e incrementa vendas
Uma das ações que trouxeram melhorias para os criadores da cooperativa Coelho Brasil está ligada ao projeto Comércio Brasil, do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Paraná (Sebrae-PR). Segundo o consultor do Sebrae-PR Marcos Uda, o principal objetivo do Comércio Brasil é proporcionar aos empreendedores a oportunidade de incrementar suas vendas e aumentar seus negócios por meio de estudos na área de atuação da em,presa. “Todos os que participam contam com uma consultoria especializada. Nela, os agentes identificam novas oportunidades de mercado, possibilitam acesso às novas parcerias, novos caminhos de vendas, dentre outras ações, que podem trazer melhor desempenho à empresa”, explica. Com relação à atuação do Comércio Brasil na cooperativa dos criadores de coelho, Uda conta que o resultado veio após em um contrato firmado com uma grande distribuidora do Estado. “Essa parceria proporcionou, consequentemente, um aumento na demanda. Com isso, os produtores puderam ter um crescimento significativo nas vendas”, afirma. A Coelho Brasil, que antes da adesão ao projeto revendia praticamente toda a sua produção para grandes redes de supermercados de São Paulo, agora passa a investir na regionalização de sua comercialização. Segundo a cooperativa, o Paraná tem um grande nicho a ser explorado, que vai além das redes de supermercados. Na próxima fase do projeto, a cooperativa investirá em novos negócios, como venda para restaurantes, empresas de fast food e churrascarias, oferecendo, assim, a carne de coelho pronta para o consumidor final. No último semestre de 2008, o Comércio Brasil movimentou R$ 21 milhões em negócios fechados por empresas, cooperativas e associações dos 18 estados participantes da iniciativa. Nacionalmente, o projeto já existe desde 2005. No Paraná, foi implantado em março deste ano e conta, atualmente, com a participação de 35 empresas. (LC)