Foto: Aliocha Maurício/O Estado
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Sala de recepção da Delegacia Regional do Trabalho, em Curitiba: há quem não aceite ofertas.

Recusar uma proposta de trabalho pode parecer, num primeiro momento, um disparate. Afinal, num País em que a taxa de desemprego gira em torno de 10%, ficar fora do mercado de trabalho por mera opção é, no mínimo, algo questionável. O que poucas pessoas sabem é que recusar um emprego é uma prática muito mais comum do que se imagina. Conforme pesquisa divulgada na semana passada pelo Grupo Catho, de São Paulo, 49% dos desempregados entrevistados já recusaram pelo menos uma oferta de trabalho. A pesquisa foi aplicada a 15.170 desempregados brasileiros, de todos os níveis sociais, entre maio e julho do ano passado.

Conforme a pesquisa, 37,53% recusaram uma proposta de emprego por causa de remuneração insuficiente; 6,8% não gostaram da empresa; 13,82% acharam que a empresa era muito longe da residência; 1% não gostou das pessoas e 22,08% não gostaram do trabalho oferecido.

?A gente começa a perceber que as pessoas não buscam só emprego, mas um local onde elas se sintam valorizadas. Não querem ser apenas um ?tapa-buraco??, analisou a vice-presidente executiva da Divisão de Consultoria do Grupo Catho, Silvana Case.

Segundo ela, num primeiro momento o resultado da pesquisa surpreendeu. ?A gente se pergunta: como uma pessoa que está desempregada recusa uma oferta de emprego? Mas por outro lado, vejo como um ponto positivo porque demonstra a consciência das pessoas. Elas não aceitam qualquer coisa simplesmente porque estão desempregadas?, afirmou. Para Silvana, é preferível não aceitar determinada proposta a aceitar e continuar procurando outro emprego. ?É melhor não aceitar do que ficar com um pé na empresa e outro fora.?

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A pesquisa revelou ainda que a recusa foi maior entre os homens: 51%, contra 46% entre as mulheres. E não foi apenas uma proposta recusada; em média, eles recusaram 2,5 propostas. Outro dado importante é que o brasileiro desempregado, em geral, recebe verbas rescisórias que geram em torno de oito a dez meses de sua última remuneração mensal. ?Nós observamos que o desempregado brasileiro só começa a trabalhar sério na procura de emprego quando esse dinheiro está acabando?, afirmou Silvana.

?Não compensa?

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Na sede da Agência do Trabalhador, no centro de Curitiba, milhares de trabalhadores desempregados buscam diariamente uma oportunidade de emprego. É o caso do frentista Marcelo Correia, 28, desempregado há dez dias, que aguardava para ser atendido na agência na última sexta-feira. ?Eu estava precisando de dinheiro, fiz um acordo com o posto e saí. Agora, estou procurando outro emprego?, contou.

Desempregado há um ano e meio, Ariel Baczynski, 22, revelou que já teve propostas de emprego, mas não aceitou até hoje porque o salário oferecido era muito baixo – salário mínimo ou até abaixo disso. ?Um bom salário, para mim, tem que ser acima de R$ 500,00?, afirmou. Outra dificuldade, segundo Baczynski, é a exigência de experiência. ?Tenho o segundo grau completo e um curso industrial, mas não contratam sem experiência.?

Para o eletricista José Batista Cunha, o problema é a idade. Com 49 anos, Cunha conta que arrumar um emprego está cada vez mais difícil. ?Ultimamente, só estou trabalhando como temporário, dois ou três meses?, contou. Com salário médio de R$ 850,00, o eletricista admite que recusa o emprego quando o salário é menor do que esse. ?Querem pagar R$ 500,00, assim não dá?, reclamou.

Para Inês Resner, 22, desempregada há três meses, o baixo salário oferecido é de fato um problema. ?Querem pagar R$ 300,00 para um emprego de atendente. Com esse salário, não dá sequer para pagar o aluguel?, criticou. ?O problema é que tem muita gente desesperada que se sujeita a ganhar isso.?