Emenda Constitucional (PEC) que limita o crescimento das despesas públicas será essencial para demonstrar se o fôlego dado à economia com a troca de governo será curto ou duradouro, diz Silvia Matos, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) e coordenadora do boletim que traz as principais projeções da entidade. Ainda que o fôlego seja maior, é cedo para comemorar. Para ela, a retração do PIB de 2016 será de 3,5% e pensar em recuperação consistente em 2017 é difícil. Ano que vem, é possível avançar 0,5%. Se a casa for arrumada na economia, é possível crescer de 1,5% a 2% em 2018.
Qual é o cenário para 2016?
Deu uma melhorada, porque os dados estão vindo melhores. O mercado estava até com quedas acima de 4% (no PIB). Nosso número é de 3,5% e pode vir um pouco melhor.
A melhora de perspectiva tem a ver com o novo governo?
Nossos indicadores de confiança, principalmente da indústria de transformação, têm mostrado uma melhora um pouco mais forte agora nos últimos meses. A confiança reflete o mercado de ativos. Depois da mudança no governo, e até antes, diante da probabilidade de mudança de governo, a gente teve queda de risco país e uma valorização cambial (queda do dólar). São os primeiros sinais favoráveis de uma economia começando a querer se reerguer. Agora, é importante tomar fôlego.
O fôlego é curto ou duradouro?
Você precisa ter continuidade de melhora política para ele se tornar mais duradouro. De alguma forma, mesmo com dificuldade, o governo está conseguindo passar algumas coisas no Congresso. Não são grandes batalhas, mas estávamos numa paralisia. A questão da PEC (que impõe limite) dos gastos (públicos) é mais difícil um pouco. A cada semana a gente consegue avaliar melhor esse fôlego do governo.
Os riscos são só políticos?
Independente disso, eu não seria tão otimista com a economia brasileira. Há eventos econômicos que dificultam uma retomada maior. Primeiro, está o mercado de trabalho, que demora para melhorar. Quem está melhorando é a indústria, que tem números de horas trabalhadas ainda lá embaixo. Ou seja, antes de voltar a contratar pessoas para aumentar a produção, ela tem espaço enorme para usar novos turnos, para produzir mais sem usar muita mão de obra. A ideia é que a contratação formal ainda será negativa este ano. A taxa de desemprego deve piorar ainda este ano e, no ano que vem, deve melhorar muito pouco. Isso arrasta o consumo das famílias.
Há mais entraves econômicos?
O crédito. A gente tem visto uma inflação ainda muito resistente, mesmo com essa brutal recessão. O novo BC (Ilan Goldfajn foi empossado como presidente do Banco Central na quinta-feira) está preocupado em realmente debelar a inflação, mas essa tarefa ficou para 2017. Neste momento, o melhor é tentar reduzir a inflação ao máximo. Não é preciso cravar a meta, mas ela precisa convergir para o mais próximo possível. Isso dificulta muito a recuperação da economia. No nosso cenário, a queda de juros é muito menor. Só vai cair o juro quando a inflação ceder. Se a gente estivesse com a economia lá embaixo, só que com a inflação na meta, era fácil (a economia se recuperar).
E os gastos públicos?
Para a gente ter queda de risco país, o câmbio se valorizar e o juro cair, a política fiscal é essencial. Essa medida de restrição de gastos não vai resolver nossos problemas no curtíssimo prazo, mas traz a possibilidade de que, em algum momento, com a economia se recuperando aos poucos, haja uma redução do déficit.
A questão fiscal é a mais associada à crise política, não?
Ao mesmo tempo que a gente está conseguindo passar algumas medidas, fico receosa de (o governo) não conseguir (aprovar a PEC que cria o teto nos gastos). Não passar essa medida é um sinal péssimo. Aí a gente pode ir para um cenário muito pior.
Essa votação é fundamental para dar fôlego à economia?
Sim, porque pela primeira vez realmente a gente vai colocar uma trava no gasto.
O setor externo pode ajudar?
Embora os Estados Unidos tenham postergado a subida de juros, eles podem subir no segundo semestre. Outra coisa que tem nos preocupado é que o quantum (quantidade de produtos exportados) do comércio mundial está muito fraco. A economia mundial está fraquejando. O cenário internacional pode ser mais favorável para a gente, mas não dá para contar com ele.
Uma volta de Dilma Rousseff ao cargo pode piorar tudo?
Geraria uma incerteza muito grande, porque tem a probabilidade de ter uma política econômica muito diferente da atual. O cenário da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), de -4,3% este ano e -2% ano que vem (a entidade lançou relatório prevendo retração da economia brasileira até 2017), é possível se houver essa volta. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.