O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem que não há razão para nervosismo no mercado financeiro. Entre outros motivos, disse o ministro, porque o ?perfil da dívida continua na mesma direção?. O ministro também voltou a afirmar que não haverá mudanças na política econômica, que é ?a mais acertada que já se fez no País?. ?A responsabilidade fiscal foi uma conquista deste governo?, afirmou. ?Nunca o Brasil teve política tão responsável e isso vai continuar?, acrescentou. ?O Brasil tem de ter taxas de juros civilizadas, que permitam estimular a produção e o consumo. A inflação estando sob controle, não há nada que impeça a queda das taxas de juros?, acrescentou.
Mantega negou, entretanto, que o governo planeje interferir sobre a autonomia do Banco Central, a quem cabe definir a taxa básica de juros. ?O Banco Central tem uma autonomia, que lhe é dada pelo presidente da República, vamos respeitá-la e vamos dialogar. Mas o BC já está fazendo a lição de casa. Foram cinco ou seis reuniões consecutivas do Copom (Comitê de Política Monetária) com redução da taxa de juros?, afirmou.
O novo ministro da Fazenda também observou que o Brasil nunca esteve tão sólido para enfrentar turbulências e disse não acreditar na ocorrência de uma crise externa. ? O cenário é favorável?. Perguntado sobre o crescimento das despesas públicas Mantega afirmou que vai examinar esta questão mais de perto nos próximos dias, mas adiantou que não vê uma situação preocupante. ?Os gastos estão controlados e dentro do previsto?, afirmou. Ainda segundo Mantega, O superávit primário será respeitado rigorosamente.
Perguntado sobre declaração que havia dado quando presidia o BNDES, afirmando que o Banco Central ?errou a mão nos juros?, Mantega reconheceu que fez a declaração crítica à política monetária. Contudo, admitiu que ?não é fácil acertar a dose dos juros?. Além disso, afirmou que ?isso (os juros altos) já está sendo corrigido? com as quedas da Selic. ?A política de juros está em trajetória positiva?, disse. O ministro afirmou que o ano eleitoral não influirá no trabalho do ministério da Fazenda, embora isso ?não impede que se dialogue e troque idéias sobre juros?. Mantega também procurou explicar sua previsão de crescimento do PIB entre 4% e 4,5%, acima da mediana das previsões do mercado, de 3,5%. ?Temos todas as condições para crescer acima de 4%?, afirmou, observando que sua previsão se baseia no fato de o ano já ter começado mais forte em termos de atividade. Na verdade, Mantega disse que a economia já está rodando na casa de 4% a 4,5% neste início de ano. ?Todos os indicadores na economia são positivos?, enfatizou o novo titular da Fazenda.
Lula tece elogios a Palocci
Brasília (ABr e Redação) – Ao dar posse, ontem, ao novo ministro da Fazenda, Guido Mantega, o presidente Lula ressaltou os feitos econômicos do ex-ministro Antônio Palocci e voltou a afirmar que ?não há mágica em economia?. Lula disse, no entanto, que seu governo entregará aos brasileiros ?um Brasil infinitamente melhor?. O presidente citou a geração de empregos e a melhora das exportações como legados da passagem de Palocci pela Fazenda.
O ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci, por sua vez, disse que sai do governo ?com a consciência tranqüila?. Palocci afirmou que Mantega será um ministro melhor que ele. ?Não torcerei para o ministro Mantega fazer o mesmo que eu. Eu tenho certeza que ele fará mais e melhor.?
Meirelles fica
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou que permanecerá no cargo. ?Gostaria de dizer que cumprimentei o ministro Guido Mantega por sua nomeação e pela oportunidade que agora teremos de voltar a ser colegas. Já trabalhamos juntos no Conselho Monetário Nacional e vamos voltar a trabalhar juntos agora?, afirmou Meirelles. ?A experiência que tivemos quando ele foi ministro do Planejamento foi positiva e produtiva?, disse.
Meirelles também afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lhe garantiu que o BC continuará a ter autonomia.
Diversos aliados do ex-ministro Palocci já deixaram a equipe econômica, entre eles, Murilo Portugal (secretário-executivo do Ministério da Fazenda), Joaquim Levy (secretário do Tesouro) e Marcos Lisboa (presidente do Instituto de Resseguros do Brasil).
Repercussões
A saída de Palocci do Ministério da Fazenda não deve provocar grandes surpresas no mercado financeiro, na avaliação do presidente da Associação Brasileira dos Analistas do Mercado de Capitais (Abamec), Edmilson Loureiro de Lyra. Segundo ele, ?o mercado está sofrendo um pouco hoje (ontem)?, mas não haverá mudanças na política econômica.
Na Organização Mundial do Comércio (OMC) a expectativa era de que a orientação da economia brasileira defendida pelo ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci seja mantida. Em uma conferência de imprensa, o diretor da OMC, Pascal Lamy, deixou claro que aposta que o novo ministro da Fazenda, Guido Mantega, continuará com a mesma política defendida por Palocci. Lamy ainda reconhece que diante de eleições em vários países no segundo semestre, entre eles o Brasil, terá de acelerar o máximo possível as negociações da OMC até julho.
Em Londres, não houve pânico e as perdas registradas pelos ativos brasileiros desde o anúncio anteontem, da queda de Antônio Palocci do Ministério da Fazenda, poderão ser revertidas nos próximos dias, pois os indicadores financeiros são positivos e as condições nos mercados externos continuam favoráveis aos emergentes. Mas após digerirem a nomeação de Guido Mantega para a vaga de Palocci, a maioria dos investidores estrangeiros concluiu que o grau de incerteza com a perspectiva macroeconômica de longo prazo do País cresceu substancialmente. Por isso, parte da enorme confiança conquistada às duras penas pelo governo Lula junto aos mercados financeiros será, a partir de agora, testada nos próximos meses.
Expectativa com juro menor
O presidente do Sistema Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Rodrigo da Rocha Loures, disse que a substituição do ministro da Fazenda, pode ser uma oportunidade para alterações na política econômica do País. ?A renovação é saudável e abre espaço para o abrandamento das taxas de juros, medida há muito tempo reclamada pelo setor produtivo e toda a sociedade?, afirmou.
Segundo o dirigente, o ministro Guido Mantega é um homem com experiência de governo e biografia adequada para conduzir a pasta. ?Nossa expectativa é que ele faça uma gestão técnica, evitando que interesses políticos venham a prejudicar a economia do País?, concluiu.
Para o presidente do Sistema Fecomércio, Darci Piana, a política econômica, de uma forma geral, deve ser mantida nos nove meses restantes do atual governo. ?Poderá ocorrer uma agilização no processo de redução das taxas de juros (Selic) pelo Banco Central, o que sempre foi defendido pelo novo ministro?, disse Piana.
Nos primeiros dias da mudança os mercados cambial e financeiro poderão atuar em clima de incerteza e apreensão, o que pode afetar a economia brasileira e elevar o risco-país. ?O novo ministro precisa demonstrar ao mercado externo indicativos que não afetem negativamente a confiança que este mercado depositou na política econômica brasileira, durante o período de Palocci no Ministério da Fazenda?, disse o empresário.
Sindicalista
?Ao mesmo tempo em que o Mantega afirma que nada impede a queda da taxa de juros, ele nega qualquer intervenção do governo na autonomia do Banco Central, o que significa que deve continuar tudo igual.? A frase é do presidente da Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT) e Sindicato dos Eletricitários de São Paulo, Antônio Carlos dos Reis, Salim, sobre os rumos da economia segundo o novo ministro da Fazenda, Guido Mantega.