O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou nesta quinta-feira (21) estar "festejando a mudança do Brasil para credor" externo – o Banco Central divulgou nesta quinta-feira estimativa de que em janeiro os ativos do Brasil no exterior superaram a dívida externa bruta. Mantega lembrou que é primeira vez na história do País que isso acontece. Segundo o ministro, isso é especialmente importante neste momento, em que há uma crise internacional de crédito. De acordo com Mantega, já aconteceu outras vezes, em crises semelhantes, de faltar crédito, os juros subirem e a situação dos países devedores se complicarem. "Mas o Brasil, como credor, agora não estará sujeito a isso", afirmou.
Mantega enfatizou que a dívida externa brasileira inclui títulos com vencimento até 2045. "É uma dívida de longo prazo", disse, lembrando que o dinheiro das reservas é "cash", ou seja, estão disponíveis para uso imediato.
O ministro comentou que a mudança aproxima o Brasil da classificação de risco de crédito "grau de investimento". "Ao longo de 2008, já teremos grau de investimento", estima. Ele afirmou que já esteve na agência de classificação de risco Moody’s e disse que discorda do critério da agência de analisar a dívida bruta, e não a dívida líquida, que desconta o total de reservas internacionais. Mantega afirmou que não considerar as reservas "é um absurdo". Ele acredita que o Brasil atingirá o grau de investimento primeiro pela agência Standard S& Poor’s e pela Fitch, e depois pela Moody’s.
Segundo Mantega, umas das grandes agências já considera o Brasil grau de investimento no campo externo. "E como estamos cumprindo as metas fiscais, reduzindo a dívida total" (externa mais interna), o Brasil estaria no caminho do grau de investimento, afirmou.
Reservas
O ministro afirmou que a situação do Brasil como credor externo veio para ficar. "Continuaremos aumentando nossas reservas, comprando dólares", declarou. Ele reconhece que a compra de divisas externas tem um custo, já que é necessário emitir títulos da dívida interna para reduzir a quantidade de reais que seriam colocados em circulação. Como o custo da dívida interna é superior à remuneração das reservas, o governo tem um aumento de dívida interna ou gastos.
O titular da Fazenda afirmou, porém, que o saldo é positivo porque o Brasil fica mais protegido diante de crises internacionais. Ele também afirmou que o custo desse tipo de operação diminui conforme a Selic, taxa básica de juros, é reduzida, conseqüentemente, diminuindo a diferença entre o que governo paga pela dívida interna e o que recebe de remuneração das reservas. Ele prevê que a Selic continuará caindo no longo prazo. "Não falo no curto prazo", disse. "Nos próximos dois ou três anos, devemos ter juros em nível de países avançados", afirmou o ministro. Diante da provocação de um repórter, que quis saber se os juros baixariam para cerca de 3% ao ano (atual patamar dos juros nos EUA), Mantega retificou e disse esperar que o Brasil se aproxime do patamar dos juros do México e do Chile.
Dólar
O ministro comentou que a situação do Brasil no cenário externo é muito boa e que ele tem condições de se tornar um "protagonista" internacional. Mantega afirmou também que a cotação do dólar a R$ 1,71 "é o preço do sucesso". De acordo com ele, as pessoas têm mais confiança no Brasil "e isso atrai mais investimentos no presente e no futuro" (o que pressiona o dólar para baixo). Ele lembrou que depois que o Brasil atingir a classificação grau de investimento poderá receber recursos de fundos de pensão, que são proibidos de investir em países com classificação inferior. "O mercado já está precificando que vamos atingir o grau de investimento", afirmou.
Mantega disse ainda que discorda dos economistas que acreditam que, para um país com carência de recursos como o Brasil, seria mais natural ser devedor e contar com poupança externa para financiar o desenvolvimento. "Essa idéia é uma idéia do passado" afirmou.