O dólar superou, ontem, por alguns momentos, a barreira psicológica dos R$ 4 e chegou a ser vendido a R$ 4,005, 3,35% mais caro do que anteontem. O Banco Central interveio no mercado vendendo dólares à vista, disseram operadores, mas o montante foi pequeno. O Banco Central também resgatou cerca de US$ 100 milhões de uma dívida cambial que vence no próximo dia 17. O mercado esteve durante todo o dia extremamente nervoso e volátil e chegou a ocorrer uma corrida das instituições financeiras para substituir os papéis vencidos por dólar em moeda, refazendo o ??hedge?? (proteção cambial). Ao final do dia, a moeda americana fechou vendida a R$ 3,99 a comprada a R$ 3,98.
Além das incertezas advindas do cenário político doméstico ante o segundo turno das eleições presidenciais e a mudança na configuração do Congresso Nacional, há pressão internacional, com a ameaça de guerra no Oriente Médio, e pressão pelo vencimento do dia 17.
Com essa cotação, o real brasileiro vale hoje, nominalmente, 9,2% menos do que o peso argentino em relação ao dólar. Enquanto o real vale US$ 0,25, o peso, pela cotação oficial do Banco Central Argentino, está a US$ 0,273. Em contrapartida, o risco Brasil sobe discretamente, 0,88%, e vale 2.289 pontos, bem abaixo dos 6.361 pontos argentinos.
Neste mês, vencem US$ 4,7 bilhões em dívida cambial do governo junto às instituições financeiras, dos quais US$ 3,6 bilhões deverão ser pagos na próxima quinta-feira, dia 17, e o restante no dia 23. Até agora, o BC alongou apenas 16,4% da primeira dívida, e somando o que foi resgatado ontem, ainda tem US$ 2,9 bilhões a liquidar ou rolar na próxima semana.
Há um desinteresse pela manutenção dessa dívida por ambos os lados. O mercado se mostra inseguro para aceitar títulos do governo, e prefere substituir sua proteção cambial em papéis por dinheiro vivo – o que pode ser comprovado tanto pelo movimento de compra de dólares quanto pelas altas taxas de remuneração cobradas para aceitar os papéis. Em contrapartida, o BC não tem aceito taxas muito altas. O resgate dos títulos, em detrimento da rolagem, diminui a exposição o governo ao câmbio, que ontem correspondia a 40% da dívida pública.
O resgate antecipado tem triplo efeito. O primeiro é a imediata substituição dos papéis por dólares. O segundo é uma ação especulativa para inchar o dólar médio do dia e fazer com que os papéis que, em vez do dia 17, serão resgatados hoje, rendam mais ao investidor – já que eles são cotados em dólar, mas resgatados em reais. E o terceiro é que o BC acaba aumentado a liquidez do mercado, ao injetar antecipadamente o dinheiro relativo ao resgate – o que aumenta a munição dos bancos e instituições para comprar dólares.