Responsável pelo abastecimento de 4,9 milhões de pessoas, a Represa do Guarapiranga, na zona sul de São Paulo, tem hoje menos da metade da água de um ano atrás. Ontem (21), o reservatório com capacidade para 171 bilhões de litros de água atingiu a marca de 33%. Há um ano, estava em 71%. Em 12 meses, a reserva perdeu 65 bilhões de litros, ou mais de um terço da capacidade.
Para comparação, o Cantareira estava com 32,2% da capacidade há um ano. Hoje, o nível do sistema é de 9,7%, considerando a segunda cota do volume morto. Mas os níveis de precipitação mostram condições bem diferentes: no Guarapiranga, a precipitação foi de 886,3 milímetros até outubro, 78,9% da média histórica, de 1.123 milímetros. Já no Cantareira, a chuva soma 754 mm até ontem (21), 47,7% da média anual, de 1.581 mm.
Interligação Neste mês, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) começou a levar mais água do Guarapiranga para o Cantareira. Por causa da interligação, a represa da zona sul passou a produzir mais 1 mil litros de água por segundo (o total é de 15 mil litros por segundo).
O fato foi notado pela população do entorno da Guarapiranga, na Capela do Socorro. “Depois que começaram a liberar mais água, o nível caiu ainda mais, começou a ficar rápido. Mas não é só culpa disso, já que aqui a gente depende muito de São Pedro também”, afirmou Paulo Rodrigues, de55 anos, dono de uma marina.
Segundo ele, os moradores estão acostumados com as quedas de nível no reservatório. “Não é novidade nenhuma a represa secar. Já vivemos situações piores. De qualquer forma, a crise é importante para a população aprender a usar e preservar o recurso.” Ele tem a marina desde 1994. “Tenho trator e caminhão para levar os barcos dos meus clientes para a água.”
Já o ajudante Orlando Laurindo, de 52 anos, que trabalha há 13 anos na marina, se disse assustado. “A sensação é de que a água vai acabar mesmo.” Ele sente falta das tempestades que costumavam atingir a região. “Vejo o céu com nuvens pretas e nada. A chuva está parecendo político: só promete.”
Pista de pouso As áreas secas da represa se tornaram grandes pistas de pouso para aeromodelismo. “A gente aproveita a situação, mas é triste ver a represa desse jeito. Ainda mais para quem sempre morou aqui”, afirmou o comerciante Antonio Miguel Rodrigues Neto, de 35 anos, que brincava com um avião em uma das margens.
Já no Parque do Sol, área da Prefeitura, os frequentadores estão cada vez mais assustados com a distância entre a água e a Avenida Atlântica. Cerca de 400 metros separam a via da margem da Guarapiranga. Do parque é possível ir até uma ilha que surge em períodos de seca. “Sempre que aparece é sinal de que a situação está ruim”, diz a auxiliar administrativa Vera Lucia de Carvalho, de 48 anos.
Procurada, a Sabesp afirmou que o Sistema Guarapiranga “opera dentro da normalidade”. A expectativa é de que, “a exemplo de anos anteriores nesta mesma época, a represa seja recarregada gradativamente com a temporada de chuvas”. A companhia lembrou ainda outras estiagens. No dia 18 de novembro de 2003, por exemplo, o volume chegou a 21,2%. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.