No 10º dia de paralisação, os grupos de WhatsApp dos caminhoneiros já tinham até anúncio de frete com cargas no Brasil, Argentina e Chile. Profissionais da área buscavam motoristas interessados em fazer as viagens com embarque imediato, mas eram logo repreendidos por outros participantes do aplicativo. “Amigo, estão todos em greve, quem vai carregar?”, questionava. A resposta tentava remediar a situação: “É para depois da greve”.

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Com alguns trechos desbloqueados pelo País, o sentimento de muitos motoristas era de que estão “morrendo na praia”, como se não tivessem conquistado nada. Até áudios com a informação de que o presidente Michel Temer havia vetado a queda de R$ 0,46 do diesel circularam pelo aplicativo, o que gerou uma onda de indignação.

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O tom dos discursos nesta quarta-feira, 30, era um misto de decepção e inconformismo. Em vídeos gravados em vários locais do País, lideranças ainda tentavam manter o ânimo dos caminhoneiros para que continuassem parados, pelo menos, até esta sexta-feira, dia 1º. Vários deles faziam boletins para mostrar como estava cada ponto de paralisação pelo País.

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“Muitos estão desanimados, sem roupa limpa, sem dinheiro e cansados. Mas a determinação é ficar até sexta-feira na estrada. Ou se ganha ou se perde a guerra, não tem meio-termo”, discursava um caminhoneiro, em áudio enviado nos grupos. A maioria deles prefere gravar a escrever textos. Desde a semana passada, o jornal O Estado de S. Paulo participa de três grupos de caminhoneiros, sendo cada um deles com cerca de 300 participantes.

Intervenção

Durante a greve, os discursos mudaram várias vezes. Até o acordo anunciado pelo presidente Michel Temer, no domingo, a reivindicação girava em torno do preço do diesel e do pedágio. Mas, depois do pacote, um “espírito nacionalista” tomou conta dos grupos da categoria, que viam na intervenção militar a solução para todos os problemas.

Até segunda-feira, havia caminhoneiros que acreditavam na tese de que, passados sete dias e seis horas da greve, o Exército poderia assumir o poder. O prazo acabou e não houve intervenção. Isso fez com que a “lua de mel” dos caminhoneiros com o Exercito acabasse. “Eles também são uns vendidos, estão com o governo”, afirmavam nas mensagens.

Nesta quarta-feira, com os grupos mais esvaziados, a maioria demonstrava irritação pela falta de apoio da população, apesar da notícia de que 87% dos brasileiros apoiam a greve. “São favoráveis à paralisação, mas correm para fazer filas nos postos e encher o tanque do carro”, reclamava um deles. Outro dizia: “Vou embora para minha casa porque esse povo não merece meu esforço”.

Houve até alguns participantes mais radicais pedindo ajuda de criminosos para quebrar e botar fogo nos carros de quem estava na fila dos postos para abastecer. “Vamos chamar os meninos do mal e mandar colocar fogo nos carros na fila”, incitava um participante, por meio de áudio.

Convocação

Para os caminhoneiros, o povo deveria ajudá-los a fazer uma greve geral. “Todos deveriam chegar em suas empresas, conversar com os colegas de trabalho e pararem. Vão todos para a rua e nos apoiem.” Uma manifestação no País inteiro estava sendo convocada nesta quarta pelos integrantes dos grupos: “Repassem essa mensagem para o máximo de grupos que vocês tiverem. Precisamos parar o País”, insistiam.

As mensagens de apelo para que a sociedade apoiasse a categoria tomou conta de boa parte das postagens nesta quarta. O objetivo: “Derrubar o governo por um Brasil melhor”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.