economia

Grupo Triunfo reestrutura dívidas de R$ 2,2 bi com instituições financeiras

A Triunfo Participações e Investimentos, uma das maiores operadoras de concessões de infraestrutura do País, fechou a negociação de uma dívida de R$ 2,2 bilhões com 9 dos 17 dos credores financeiros que aderiram ao processo de reestruturação da companhia. Na lista estão Santander, Itaú e Banco do Brasil. O acordo foi firmado dentro da recuperação extrajudicial e com assessoria da Alvarez & Marsal, consultoria internacional especializada em reestruturação.

A participação de 82% dos credores garante quórum para validar o acordo, mas fica aberto espaço para que os outros 18% possam aderir no futuro. O plano prevê a reestruturação de dívidas já vencidas e a vencer da Concer, concessionária que administra o trecho entre Juiz de Fora (MG) e Rio de Janeiro da BR-040, e também da holding, que havida dado garantias aos créditos da Concer.

A dívida da concessão do aeroporto de Viracopos, que teve as garantias executadas nesta semana, não está incluída na negociação (leia mais abaixo). Segundo Carlo Bottarelli, diretor-presidente da Triunfo, adotar a recuperação extrajudicial, em vez da recuperação judicial, foi importante para simplificar e agilizar o processo, que durou cerca de 90 dias.

“Foi relativamente rápido porque, na negociação extrajudicial, a conversa é feita diretamente com os bancos”, explica. A estimativa é que, além de reduzir o pesado endividamento, de R$ 3,8 bilhões, a companhia ainda terá recurso extra para o caixa, que pode chegar a R$ 500 milhões.

O pilar da reestruturação da dívida foi a venda do terminal portuário Portonave, em Santa Catarina, para a sócia Terminal Investment Limited. O negócio, fechado há 20 dias, vai liberar R$ 1,3 bilhão à Triunfo. “Depois que fechamos a venda da Portonave, a renegociação com os bancos foi acelerada”, disse Bottarelli. Esse dinheiro também permite que a Triunfo se livre de uma dívida considera “tóxica” pelo mercado: quita o crédito tomado com o fundo americano Farallon, no fim de 2016.

Como estava no sufoco, a Triunfo aceitou pagar 14% ao ano em juros, em dólar. A forma de pagamento acertada com os credores tem particularidades, incomuns nesse de tipo de reestruturação. “Adotamos uma certa criatividade, que acabou sendo bem recebida”, diz André Bucione, sócio da Alvarez & Marsal.

Foram organizadas duas operações distintas. Uma concentra o grosso da dívida, não altera taxas e valores, mas adia o pagamento. Foi pensada para investidores de longo prazo. Nesse caso, ocorre o alongamento do débito. Para a holding, isso significa quatro anos de carência e outros quatro anos para o pagamento. Na Concer, adia o prazo até o fim da concessão, em 2021.

Há, porém, uma segunda opção, que permitirá a saída mais rápida de credores, desde que eles aceitem um deságio no valor que têm a receber. Nesse caso, o credor recebe sua parte por meio do chamado “leilão holandês”. Nesse tipo de pregão, os competidores apresentam propostas de descontos em envelopes fechados e vence o menor preço. Para essa modalidade será direcionado um valor menor, na casa de R$ 100 milhões.

O acordo, porém, não é o fim de todos os impasses financeiros da companhia. Falta acertar a pendência com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que não participou da reestruturação. O BNDES liberou financiamentos para a Concer e para a Concebra, concessão de rodovia federal entre Brasília e o município mineiro de Betim. Diante das dificuldades financeiras da Triunfo, o banco executou as garantias. O BNDES não é mero credor. Tem participação na Triunfo e cadeira no conselho de administração, o que causou pressão adicional à companhia. “Vamos continuar negociando com o BNDES, mas agora com novas condições”, diz Bottarelli.

O sufoco da Triunfo, em grande parte, é fruto do modelo de concessões adotado durante a gestão do governo do PT. Previa baixa tarifas e, em contrapartida, oferecia empréstimos subsidiados e a possibilidade de renegociar contratos. Com a recessão e a mudança de governo, o cenário virou. O ponto de partida da crise da Triunfo foi a concessionária Concer. Com as novas condições dos órgãos reguladores e dos bancos públicos, foi estrangulada financeiramente.

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