A prevista paralisação dos caminhoneiros a partir deste domingo, 25, está dividindo os profissionais autônomos do transporte de cargas. Enquanto a Abcam (Associação Brasileira dos Caminhoneiros) garante que o setor vai parar – fruto de uma assembléia realizada ontem em São Paulo – a Frente Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas, que envolve várias entidades, distribuiu nota ontem afirmando ser contra o movimento, defendendo a continuidade das negociações com o governo federal e estimulando os caminhoneiros a “não participar do movimento”.
Os caminhoneiros estão brigando para que o governo aplique o dinheiro arrecadado através da Contribuição sobre Intervenção no Domínio Econômico (Cide) na recuperação da infra-estrutura do setor de transportes. Segundo o presidente da Abcam, José da Fonseca Lopes, um estudo da Confederação Nacional dos Transportes do final de 2003, revelou que 86% da rodovias federais estavam em estado precário no Brasil. “O caminhoneiro não tem como trabalhar”, fala. Para reverter a situação, eles querem que o governo federal invista 8 bilhões para recuperar 53 mil quilômetros em um ano e meio, criando de quebra 500 mil empregos.
Lopes afirma que existe dinheiro para isto, “mas o governo afirma que quer gastar em outros setores que considera prioridade”, fala. De acordo com ele, desde que a Cide foi criada já arrecadou 18 bilhões e, deste montante, 29% foi destinado a estados e municípios. O restante estaria em caixa.
Lopes fala que com as estradas em péssimo estado, o caminhoneiro leva o dobro do tempo para transportar as cargas até o destino final. Além disto, a categoria está estressada, já que é obrigada a trabalhar até 19 horas por dia. Outro problema são os gastos com os veículos. “A maioria tem 18 anos em média e a quebradeira é geral”, fala. Ele diz que uma viagem de São Paulo a Belém custa R$ 3.350, mas o caminhoneiro gasta 30% em manutenção.
Na nota divulgada ontem pela Federação, assinada por oito entidades, eles afirmaram ser contra o movimento já que, em reuniões na semana passada com o ministro dos Transportes e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governo se comprometeu em implantar medidas para resolver o problema e a Federação reconhece que isto demanda tempo. Ainda conforme a nota, a Federação afirma que a paralisação é inoportuna e foi cogitada antes do encontro com o governo. Ontem mesmo representantes dos caminhoneiros estavam em Brasília para dar continuidade nas negociações.
“A Abcam também é membro da Federação e ela resolveu destoar do restante”, comenta Laertes José de Freitas, vice-presidente do Sindicato dos Caminhoneiros do Paraná, para quem o movimento não vai atingir o Paraná, onde trabalham 82 mil caminhoneiros autônomos.