O anúncio de paralisação das atividades dos trabalhadores portuários no próximo dia 19 pode prejudicar as negociações da categoria no Congresso. A avaliação é do relator da Medida Provisória 595, a MP dos Portos, senador Eduardo Braga (PMDB-AM). O comentário foi feito quando o senador saía de mais um encontro com a classe, na tarde de hoje. “Se estamos em negociação, (anunciar greve) não é um bom indicativo”, destacou.

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Ele disse receber com estranheza a notícia. “Participei de reunião com todo o setor que dizia estar na mesa de negociação até o dia 15. Ora, se está na mesa de negociação até o dia 15, como anunciar que tem uma paralisação no dia 19?”, questionou. Participaram da audiência pública o presidente da Federação Interestadual dos Trabalhadores em Agenciamento Marítimo, Aquaviário e Operadores Portuário (Fetaport), o presidente do Sindicato dos Portuários do Rio de Janeiro, além do presidente Intersindical da Orla do Espírito Santo.

A surpresa de Braga deve-se ao calendário de negociações firmado com a categoria. A Comissão Mista montada para analisar a MP e os trabalhadores tinham concordado em uma trégua até o dia 15 de março. Além disso, Braga se comprometeu a apresentar seu relatório até o dia 3 de abril e tem, ainda, a intenção de votar o documento na Comissão Mista até o dia 10, quando então ele começa a tramitar na Câmara dos Deputados.

O anúncio da paralisação foi feito no início da tarde desta quarta-feira após uma reunião com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Porém, representantes de federações ligadas aos trabalhadores do setor portuário informaram, no final da tarde, que vão aguardar até o dia 15 de março para decidir se haverá paralisação. “O que se decidiu é que no dia 14 nós faremos uma plenária para discutir o fim do prazo, as negociações e o nosso posicionamento”, explicou o presidente da Federação Nacional dos Portuários, Eduardo Guterra.

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De acordo com ele, a audiência pública no Congresso Nacional, realizada na terça-feira, com a participação das federações do setor, não tinha caráter deliberativo. “Pelo fato de várias pessoas já terem ido embora e outros sindicalistas não terem comparecido, não houve uma decisão com relação a uma greve a partir do dia 18 ou do dia 19”, comentou.

O presidente da Federação Nacional dos Estivadores, Wilton Ferreira Barreto, também acrescentou que as entidades vão respeitar o calendário do Palácio do Planalto. “Se não houver um avanço, aí nós iremos paralisar nossas atividades no dia 19, não significa que isso já esteja determinado”.

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Ogmos

Ao longo da audiência pública, a senadora Kátia Abreu (PSD-TO) disse que vai apresentar, na Mesa do Senado, um requerimento à Receita Federal para que a instituição informe possíveis dívidas tributárias dos Órgãos Gestores de Mão de Obra (Ogmos). Ela diz ter recebido denúncias de que os 29 Ogmos possuem uma dívida de R$ 120 milhões com a Receita, débito que seria fruto de contribuições previdenciárias não repassadas.

Os Ogmos representam um dos pontos polêmicos da MP. Atualmente, as empresas que estão nos portos organizados são obrigadas a contratar trabalhadores avulsos, controlados pelos Ogmos, para cumprir funções relacionadas ao desembarque a bordo do navio e fazer a conferência da carga na embarcação e em terra. Os trabalhadores defendem que o modelo atual, mas a MP acaba com essa obrigatoriedade, abrindo a possibilidade de as empresas contratarem celetistas.

Outra questão reivindicada pelos trabalhadores é que o serviço de segurança nos terminais privados seja função do Estado, e não terceirizado, como previsto no texto original encaminhado pelo Executivo. Os sindicalistas também condenam a retirada dos poderes dos Estados sobre a administração dos portos e se preocupam, ainda, com a isonomia de custos para portos públicos e privados.