Foto: Arquivo/O Estado |
Linha de produção do Fox, na Volks-Audi: por enquanto sem problemas com peças. continua após a publicidade |
A greve dos auditores fiscais da Receita Federal, que dura quase dois meses, ameaça a produção de veículos no País. A General Motors (GM) e a DaimlerChrysler, dona da marca Mercedes-Benz, já confirmaram possível paralisação. No Paraná, a Renault do Brasil e a Volkswagen-Audi, instaladas em São José dos Pinhais, estão com produção normal, mas podem encontrar dificuldades caso a greve dos auditores continue por mais tempo. Desde que a greve começou, peças automotivas estão presas nos portos, aguardando liberação pelos fiscais.
?A produção não parou, mas a montadora já está sentindo dificuldades?, afirmou o coordenador dos delegados sindicais e funcionário da Renault, Robson Vieira da Silva. Segundo ele, a situação na montadora só não está pior porque há um grande mix de produtos, com o Clio, Scénic, Mégane. ?Se faltar peça para o Clio, por exemplo, é possível mudar o mix?, explicou.
Na Renault, segundo Vieira, cerca de 80% das peças utilizadas são nacionais e apenas 20% importadas. Mas por trabalhar em sistema ?just in time?, a montadora não mantém estoque de peças. ?Acredito que a empresa tem fôlego para trabalhar, seguramente, por mais 15 dias, no sinal amarelo. Depois disso, o sinal vermelho deve se acender.? A direção da empresa, em São Paulo, não falou a respeito.
Na Volvo, instalada na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), a assessoria de imprensa informou que, por enquanto, a empresa não está sentindo os efeitos da greve dos auditores fiscais. Também na Volkswagen-Audi, a direção da empresa, em São Paulo, informou que a produção está normal. Na Case New Hollanda (CNH), a informação era de que 70% das peças utilizadas na fabricação dos maquinários são nacionais e apenas 30% importadas.
Situação complicada
Na outra ponta, a General Motors do Brasil admite que pode paralisar as atividades de suas fábricas no País por causa da falta de peças importadas para a produção. ?Temos peças para operar até quarta-feira, depois disso, se nada mudar, teremos de parar? disse o presidente da montadora, Ray Young. Os modelos mais afetados são Vectra, Zafira e Astra, que tem índice maior de componentes trazidos do exterior.
O mesmo problema enfrenta a DaimlerChrysler, dona da marca Mercedes-Benz, que também só tem estoques de componentes importados para operar até hoje. A montadora de caminhões e ônibus em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, já chegou a parar no dia 5, por meio período.
Reunião
O secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, convocou para ontem à noite uma reunião com todos os superintendentes da Receita para discutir a greve da categoria, que já dura 55 dias e tem causado grandes prejuízos para o comércio exterior brasileiro. Segundo informou o presidente do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais (Unafisco), Carlos André Nogueira, a reunião é de emergência porque há um clima de grande insatisfação na categoria com a proposta apresentada na semana passada pelo governo.
?A situação é crítica. Os delegados e inspetores, que ocupam cargos de chefia, também estão se movimentando porque a proposta foi considerada muito ruim. A confiança que eles depositavam no governo acabou?, disse Nogueira. Segundo ele, o governo está insensível com a categoria e com os transtornos provocados pela paralisação. ?É estranha a postura do governo de não dar a prioridade ao assunto. O governo ficou de nos chamar na sexta e na segunda-feira passada e não fez contato?, criticou Nogueira.
Metalúrgicos recusam plano da Renault
Funcionários da montadora Renault do Brasil, em São José dos Pinhais, recusaram na última segunda-feira, durante assembléia, a Participação nos Lucros e Resultados (PLR) apresentada pela direção da empresa. De acordo com o coordenador dos delegados sindicais da montadora, Robson Vieira dos Santos, a proposta da empresa prevê a antecipação da primeira parcela da PLR no valor de R$ 1.950,00, que seria paga até a próxima quarta-feira. A segunda parcela só será paga em fevereiro de 2007.
A empresa propôs o valor mínimo (integral) da PLR em R$ 2.550,00, R$ 3,1 mil no caso de atingir 100% das metas e R$ 3,2 mil no caso de superação das metas.
De acordo com Vieira, o Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba já encaminhou uma contraproposta, que prevê a antecipação de R$ 2 mil (e não R$ 1.950,00), valor mínimo de R$ 2,8 mil (e não R$ 2.550,00), R$ 3,1 mil no caso de atingir 100% das metas e R$ 3,4 mil (ao invés de R$ 3,2 mil) se superar.
Os funcionários também rejeitaram o banco de horas apresentado. Eles querem que haja aviso com 72 horas de antecedência para reposição e que sejam compensadas até oito horas por semana. De acordo com Robson Vieira, caso a empresa não melhore a proposta, os funcionários podem protestar com possível paralisação.
Já na Volkswagen-Audi, em São José dos Pinhais, a PLR só deve ser apresentada pela direção da empresa depois das férias coletivas de dez dias, marcada para o dia 17 de julho. Segundo o coordenador da comissão de fábrica, Gilson Ricardo Santos, o Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba não está mais negociando em conjunto com outros sindicatos o plano de reestruturação apresentado pela direção da empresa. ?Não vamos discutir o plano de reestruturação enquanto a empresa não der garantia de emprego?, arrematou Santos. (LS)