Não é de hoje que os avanços nas negociações salariais dos metalúrgicos representados pelo Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba (SMC) saltam aos olhos dos trabalhadores de qualquer categoria econômica. Seduzidos pela promessa de ganhos ainda maiores, os funcionários da empresa Denso do Brasil, que fabrica equipamentos de climatização veicular, entraram em greve nesta quarta-feira (28). Porém, a paralisação poderá ser considerada ilegal, já que o motivo da paralisação é a mudança de enquadramento sindical.
Segundo o coordenador do Conselho Temático de Relações Trabalhistas da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Marcelo Ivan Melek, nem os trabalhadores, muitos menos os patrões ou os sindicatos podem definir qual entidade representará a classe. “Está previsto na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) que o enquadramento sindical se dá estritamente pela categoria econômica da atividade exercida pela empresa”, salienta. De acordo com o acompanhamento do conselho, o caso dos funcionários da Denso não foi o único. “O setor de reparação de veículos, que abrange as oficinas mecânicas, há um ano também apresenta essa demanda por parte dos trabalhadores, mas são funções diferentes, não se enquadra na metalurgia”, avalia.
Por conta disso, a Denso do Brasil entrou com um pedido de liminar nesta quarta-feira para garantir que a greve seja interrompida o quanto antes. “Também pedimos à Justiça do Trabalho que seja definida de uma vez por todas a representatividade sindical dos trabalhadores que, há 21 anos, são enquadrados na atividade de refrigeração, já que nossa produção é destinada, quase que integralmente, à confecção de ar condicionado”, esclarece o diretor de controladoria da empresa, Kitaro Kaizu. Ele diz que os prejuízos de um dia de paralisação de uma empresa que opera em três turnos é extremamente elevado, visto que o faturamento médio mensal é da ordem de R$ 45 milhões. “Também ficará a cargo da Justiça se descontaremos os dias parados. Mas é lamentável pagarmos a conta de uma greve ilegal patrocinada pelo Sindicato dos Metalúrgicos”, reclama Kaizu.
A assessoria de imprensa do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de
Aparelhos Elétricos, Eletrônicos e Similares (Seletroar) informou que os salários recebidos pelos trabalhadores da Denso são compatíveis com os recebidos por trabalhadores de empresas similares, sendo, em muitos casos, superiores aos salários recebidos por trabalhadores do setor de autopeças, representados pelo SMC.
O Seletroar detalhou ainda que, nos últimos cinco anos, os trabalhadores receberam reajustes de 43,12% contra uma inflação de 28,72% medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) no período.
Justificativas
Para o secretário geral do SMC, Jamil Davila, os funcionários da Denso do Brasil querem mudar de representação em função da depreciação de ganhos na comparação com os rendimentos dos 18 sindicatos de trabalhadores em autopeças que a SMC representa. “Pelos nossos cálculos, os trabalhadores do chão de fábrica da Denso, no último ano, trabalharam 156 horas a mais que os funcionários do mesmo ramo e receberam R$ 10 mil a menos”, destaca Jamil.
A data base da Denso, por pertencer ao Seletroar, foi em março. Na ocasião, o reajuste salarial foi de 10,50% (6,36% de reposição inflacionária e 4,14% de ganho real). Pela lista de reivindicações apresentadas pela SMC, os mil trabalhadores da Denso pleiteiam redução da jornada semanal de trabalho de 43 horas para 40 horas e aumento salarial de 5% mais o INPC do período. “Também há uma equiparação do piso de ingresso e melhorias nos benefícios”, acrescenta Davila.
Nesta quinta-feira, às 14h30, os trabalhadores e o SMC farão uma nova assembl,eia em frente à empresa para definir os rumos da greve.