?A rejeição contra produtos geneticamente modificados está crescendo mundialmente em larga escala. Devido a esse posicionamento, o Brasil poderá assumir mais mercados interessados nos produtos convencionais, principalmente a soja. Atualmente, o País é o maior produtor de soja orgânica e não transgênica.? Essa é a opinião do Greenpeace, organização não-governamental internacional que luta pela preservação do meio ambiente. Integrantes da entidade em vários países se reuniram ontem, em Curitiba, com o governador Roberto Requião para expor informações sobre os transgênicos na Europa e na Ásia.
Segundo integrantes do Greenpace, muitos países europeus estão se fechando completamente para este tipo de produto. ?Mostramos que existe um mercado cativo e em crescimento para a soja convencional. Há uma enorme pressão internacional em cima da soja transgênica. Isso sinaliza algo importante para o Brasil. Temos um mercado internacional com grandes oportunidades de se firmar. Se o Brasil não atender esta demanda, algum outro país vai se aproveitar?, afirma o engenheiro agrônomo Ventura Barbeiro, que trabalha na campanha de Engenharia Genética do Greenpeace no Brasil.
O representante do Greenpeace na China, Lam Chi Kwong, explica que a rejeição naquele país chegou a 57% da população em 2004, quando em 2003 chegava a 34%. Este panorama já causa reflexos na indústria de alimentos e bebidas da China: 52% das grandes empresas, responsáveis por 81 marcas, garantiram que não usam e que não vão utilizar produtos geneticamente modificados. Na China há uma região do país, a Noroeste, que se declarou livre de transgênicos, assim como pleiteia o Paraná. 31% do mercado de soja chinês é preenchido pelo produto brasileiro.
Na Alemanha, a preocupação já chegou à produção. Segundo o técnico da campanha de Engenharia Genética, Stefan Flothmann, 74,4% dos alemães rejeitam os alimentos transgênicos e 68,2% rejeitam o leite de vacas criadas com ração feita com produtos modificados. Mais de 44% estariam dispostos a pagar mais por um leite de vaca que come ração convencional. ?A conseqüência disso foi o aumento da venda de leite orgânico em 20% em um ano?, acrescenta.
O analista de mercado do Greenpeace Internacional, Lindsay Keenan, conta que a entidade fez uma pesquisa no ano passado com as 60 maiores empresas de produtos alimentícios da União Européia para verificar a posição delas quanto aos transgênicos. Estas empresas representam 70% do mercado de alimentos e bebidas da comunidade. De acordo com ele, o resultado foi surpreendente, pois 57 delas afirmaram ter uma política de não vender produtos modificados geneticamente.
Os integrantes do Greenpeace também criticaram a forma com que as empresas detentoras das sementes de soja geneticamente modificadas passam as informações para os produtores. ?Os agricultores não têm grandes informações. Passam para eles que as sementes transgênicas aumentam a produção e diminuem os custos, o que não é a realidade. Em dois ou três anos, os produtores precisam aumentar a quantidade de defensivos. E o lucro é quase todo consumido no pagamento de royalties?, opina Ventura Barbeiro.
O governador Roberto Requião acrescenta que as posições do Greenpeace e do governo do Estado seguem em um mesmo rumo, o que permite somar esforços em frentes comuns. De acordo com ele, há uma pesquisa feita pelo Ibope indicando que Curitiba tem um dos maiores índices de rejeição a transgênicos entre as capitais brasileiras. ?O governo do Paraná pretende apoiar o Greenpeace nesta luta em qualquer lugar?, cita. Técnicos do governo e da entidade vão trocar informações sobre os transgênicos. (Joyce Carvalho)
Críticas à lei brasileira
O diretor-executivo do Greenpeace Brasil, Frank Guggenheim, criticou ontem, durante encontro com o governador Roberto Requião, a lei de biosegurança que deve ser aprovada hoje, no Congresso Nacional. ?Pela primeira vez o Brasil vai plantar produtos geneticamente modificados, sem passar as informações de segurança ambientais prévias. Este é um momento crítico para a população, agricultura e soberania alimentar?, alertou.
De acordo com ele, isso faz com que as empresas tenham que provar que seus produtos não contêm traços transgênicos. Se o Brasil tivesse aprovado uma lei que garantisse o País como área livre de transgênicos, não teria que provar a procedência, conforme Guggenheim. ?Isto diminuiria custos e garantiria mercados cativos?, justificou.
O analista de mercado do Greenpeace Internacional, Lindsay Keenan, se disse desapontado com o conteúdo da lei de biosegurança. Ele informou que o Brasil construiu uma imagem de país livre de transgênicos no cenário internacional, o que rendeu a conquista de muitos mercados nos últimos anos e o acréscimo de 3 a 4 milhões de toneladas nas exportações de soja. ?Vejo isso com preocupação, principalmente em relação à contaminação da produção convencional de soja. Essa atitude do Brasil vai representar a perda de tudo o que foi conquistado nos últimos anos. Isto é uma ameaça aos produtores e à economia brasileira?, classificou.
A reunião anual sobre Engenharia Genética de todas as unidades do Greenpeace no mundo está sendo realizada no Paraná em função da posição do Estado quanto aos transgênicos. A escolha partiu da cúpula internacional da entidade. (Joyce Carvalho)